Em agosto do ano passado, a Polícia Judiciária (PJ) de Cabo Verde apreendeu 1.157 quilos de cocaína num iate atracado no Porto Grande do Mindelo, na ilha de São Vicente..O barco, que saiu do Brasil, tinha como destino a Europa, e trazia a droga escondida no casco da embarcação e distribuída em 1.063 pacotes..Durante a operação, quatro homens foram detidos, tendo o juiz decretado prisão preventiva para os dois que se encontravam no veleiro - um francês, o capitão, e um brasileiro - e Termos de Identidade e Residência (TIR) para dois brasileiros que estavam hospedados numa pensão, onde foram encontrados haxixe e canábis..O Ministério Público (MP) discordou da decisão do tribunal de deixar os dois arguidos em liberdade e recorreu para o Tribunal da Relação de Barlavento, que, quatro meses depois, determinou prisão preventiva para os dois arguidos até ao julgamento. .Em dezembro, o Ministério Público deduziu acusação contra os quatro tripulantes do veleiro pela prática dos crimes de tráfico de droga de alto risco agravado e de associação criminosa..Em declarações hoje à agência Lusa, João do Rosário, um dos advogados de defesa dos arguidos, reafirmou a inocência dos seus constituintes e disse esperar um "julgamento justo". ."Isso é possível. Não se vai conseguir provar a culpa. Todas as provas apontam que não estão envolvidos", salientou o advogado, prevendo que o julgamento demore uma semana..Em fevereiro, o Ministério da Justiça do Brasil, através da Embaixada Brasileira em Cabo Verde, entregou ao Ministério Público cabo-verdiano um relatório da Polícia Federal Brasileira onde consta que não foram encontrados nenhum indício de participação da tripulação no tráfico da droga, pelo que arquivou o processo e considerou que os arguidos já deveriam estar soltos. .João do Rosário referiu que, com base no documento, os advogados requereram a revisão da medida de coação aplicada aos arguidos, mas o Tribunal não se pronunciou, justificando depois que nunca recebeu o documento..Questionado pela Lusa se o relatório do Ministério da Justiça do Brasil tem sustentabilidade, o advogado disse que é um "elemento de prova muito importante", já que os factos começaram a ser investigados no Brasil, mas esclareceu que não vincula o juiz..O advogado avançou, no entanto, que será um "documento decisivo" que será juntado a tantos outros que serão usados para provar a inocência dos arguidos. .Os familiares têm a circular um abaixo-assinado na Internet a pedir a libertação dos três brasileiros, justificando que o objetivo é mostrar às autoridades cabo-verdianas que são inocentes e que foram usados "por uma quadrilha internacional"..Além do abaixo-assinado, que já conta com quase 16 mil assinaturas e o objetivo é chegar às 25 mil subscrições, e do relatório, multiplicam apelos de familiares e amigos nas redes sociais e na imprensa para a libertação dos brasileiros, detidos na cadeia de Ribeirinha, na ilha de São Vicente. .Os 1.157 quilos de cocaína, que foram queimados uma semana após a apreensão, foi a maior quantidade de droga apreendida na ilha de São Vicente, depois dos 521 quilos no caso Perla Negra, em novembro de 2014, numas das praias da ilha..Foi também a segunda maior quantidade alguma vez apreendida em Cabo Verde, após a operação "Lancha Voadora" que, em 2011, culminou com a apreensão de uma tonelada e meia de cocaína em estado de elevada pureza escondida na cave de um prédio na cidade da Praia.