Investigadores do Porto lançam 'site' sobre aves aquáticas no Estuário do Mondego
Investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO) da Universidade do Porto lançaram um 'site' que disponibiliza dados sobre mais de 62 mil aves aquáticas contabilizadas, ao longo de 26 anos, no estuário do rio Mondego.
Em declarações à Lusa, o investigador do CIBIO-InBIO e coordenador do programa de monitorização de aves aquáticas invernantes no Estuário do Mondego, Ricardo Jorge Lopes, explicou que apesar do Estuário do Mondego ser "relativamente pequeno" comparativamente com outros do país, tem várias "vantagens" no que se refere à recolha de dados.
"No Mondego consegue-se fazer essa recolha e contabilização com poucas pessoas e com uma fiabilidade bastante grande. Sabemos com rigor que estamos a contar a maior parte das aves que estão naquele estuário", afirmou.
Segundo Ricardo Jorge Lopes, os dados, que têm vindo a ser recolhidos desde 1994 no âmbito do Censo Internacional de Aves Aquáticas e do Programa Nacional de Monitorização de Aves Aquáticas Invernantes, visam "avaliar as tendências" das espécies animais como os flamingos, garças, gaivotas e cegonhas, que invernam no estuário do Mondego.
"Estes dados são utilizados para avaliar as tendências, ou seja, se as populações estão a crescer ou a diminuir no território português. Algo que pode ser importante, porque estas descidas ou aumentos podem estar relacionados com impactos locais, como também podem ser o resultado de fenómenos que estão a ocorrer nas zonas onde nidificam, como é o Norte da Europa, onde sabemos que as alterações climáticas estão a ter um impacto relativamente grande", esclareceu.
Desde que iniciaram a contabilização, os investigadores do CIBIO-InBIO já recolheram informações de mais de 62 mil aves limícolas, pertencentes a 25 espécies, que vêm sobretudo do Norte da Europa, Islândia, Gronelândia e Sibéria.
"As contagens mais estáveis e que foram agora disponibilizadas são sobre as aves limícolas, que são as mais abundantes e que necessitam deste tipo de habitat. Mas também contabilizamos gaivotas, garças, cegonhas, flamingos, que são também espécies que necessitam deste habitat. Mas achamos que, numa primeira fase, fazia mais sentido disponibilizar informações sobre estas aves limícolas tendo em conta a sua dependência ao estuário", frisou.
À Lusa, Ricardo Jorge Lopes adiantou que, durante a recolha de dados, a equipa verificou o aparecimento de espécies aquáticas que não "ocorriam no estuário", assim como a diminuição de outras.
"O que é engraçado é que algumas espécies não ocorriam no estuário quando nós começámos as contagens, como os flamingos e a graça branca grande, cuja expansão se deu nestas últimas décadas. Por outro lado, outras espécies diminuíram, como o alfaiate, que, por razões relacionadas com as condições nas suas zonas de nidificação no norte da Europa, tiveram uma diminuição drástica", disse.
De acordo com o investigador, as contagens, quando integradas numa base de dados mundial, podem ser utilizadas para perceber "o tamanho populacional" de determinada espécie, assim como em que zonas específicas do planeta ocorrem "a diminuição ou o aumento" das mesmas.
"Estas contagens não são só importantes para o estuário do Mondego, para compreender o que está a acontecer em Portugal, mas também permitem, quando são integradas noutras contagens, perceber o que está a acontecer com estas populações globalmente", acrescentou.
O Programa de monitorização, que está agora disponível num 'site', contou com a colaboração do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), e já permitiu que o Estuário do Mondego fosse considerado, em 2005, como IBA (Área Importante para as Aves e Biodiversidade) e em 2006, como Zona Ramsar (Zona Húmida de Importância Internacional).