"Uma produção a sério" de "A Menina do Mar" de Sophia de Mello Breyner é estreada hoje

Lisboa, 03 mai 2019 (Lusa) -- Dez músicos, cinco atores e um maestro compõem o elenco de "uma produção a sério", em palco, de "A Menina do Mar", de Sophia de Mello Breyner Andresen, que se estreia hoje no Teatro Luís de Camões, em Lisboa.
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Integrado nas comemorações dos 100 anos do nascimento da poetisa (Porto, 06 de novembro de 1909), o espetáculo, com música ao vivo, tem direção musical do neto mais novo da escritora, Martim Sousa Tavares, encenação do diretor do Teatro do Elétrico, Ricardo Neves-Neves, e banda sonora original de Edward Luiz Ayres d'Abreu.

Televisores onde vão passando animações, quer da personagem central do conto - a menina que quer conhecer o "mundo da terra" -, quer dos seus amigos do "mundo do mar", acabam por dar ao público os dois lados da mesma personagem, uma abordagem característica dos trabalhos de Ricardo Neves- Neves que viu neste conto de Sophia a possibilidade de utilizar, pela primeira vez, monitores de televisão, cumprindo um "desejo de há muito", explicou à imprensa.

Foi também uma forma de personificar os animais em cena sem ter de "mascarar" estas personagens "com fatos de espuma" - uma ideia que não lhe "agradava" - e que lhe serviu também para "apresentar a menina que [no conto original] cabe na palma da mão do rapaz".

Assim, "foi este o ponto de partida para toda a encenação, cenários e figurinos", disse Ricardo Neves-Neves.

O trabalho, para o regente Martim Sousa Tavares, foi realizado a partir de "uma ideia conceptual" de ter música ao vivo, para pôr em palco o conto infantojuvenil escrito pela sua avó, editado pela primeira vez, em 1958, então com ilustrações de Sarah Afonso, e que desde então tem preenchido o imaginário de gerações de crianças e jovens, disse Martim Sousa Tavares.

Do ponto de vista musical, "A Menina do Mar" "já está bastante bem servida", frisou o maestro, enumerando as várias versões existentes do conto: a "canónica", com música de Fernando Lopes-Graça e voz de Eunice Muñoz, a de Bernardo Sassetti, com Beatriz Batarda, uma versão "de jazz", composta por Filipe Raposo a partir da de Bernardo Sassetti, e outra de Filipe La Féria.

"Faltava-lhe uma coisa que fosse mesmo uma produção a sério, com uma orquestra, com uma encenação de facto interessante e vim aqui fazer este desafio à Susana Menezes [diretora artística do LU.CA, Teatro Luís de Camões] mal o teatro acabara de abrir", explicou o músico.

Um projeto nasceu para ser feito em Lisboa e no Porto, na Casa Andresen, antiga Quinta do Campo Alegre, ligada à infância da poetisa e do seu primo, também escritor, Ruben A., onde funciona atualmente a galeria da Biodiversidade e o Jardim Botânico do Porto, já que Martim Sousa Tavares é o curador das comemorações do centenário de nascimento da autora naquele espaço.

"A ideia era fazer uma versão sem cenário, com músicos e atores, por ocasião do centenário de nascimento da escritora, mas como o LU.CA tinha acabado de abrir [junho de 2018] e é o único teatro infantojuvenil, vim propor a ideia à diretora artística da sala", frisou o músico, que, na altura, se encontrava a estudar fora de Portugal há seis anos.

A ideia "agradou" a Susana Menezes, por ter a ver com uma efeméride importante, por o espaço ser direcionado para o público infantojuvenil e porque "ter um neto a dirigir uma partitura para um texto da avó, é algo que enternece todos", explicou a diretora aos jornalistas, durante a apresentação do projeto, ao final da tarde de quinta-feira.

Assim "nasceu a ideia de 'isto' ser um teatro a sério", com o LU.CA a assumir-se como coprodutor, ainda antes de haver um encenador escolhido, já que este foi encontrado a partir de uma lista com dez nomes propostos pelo maestro, com outros tantos sugeridos por Susana Menezes, disse Martim Sousa Tavares.

A escolha recaiu em Ricardo Neves-Neves, nome mencionado por ambos, e acabou por ditar a estreia do espetáculo em Lisboa, acrescentou Sousa Tavares, sem se preocupar com o que a avó poderia pensar do espetáculo, e apenas por pensar que a autora "merece ser celebrada".

"Estranhamente, não há nenhuma sensação especial de estar a fazer isto. Já fico muito feliz por o espetáculo estar montado", frisou, acrescentando que foi escolhido o conto "A Menina do Mar", por ser o que abre a sequência de histórias fantásticas da autora e por ser também aquele que melhor se adequa ao público mais jovem, até pela sua duração, perto de 40 minutos.

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