Exposição "Viagem de Spix e Martius pelo Brasil" assinala bicentenário da expedição dos dois cientistas alemães

A exposição "Viagem de Spix e Martius pelo Brasil", que abre hoje no Instituto Ibero-Americano de Berlim, na Alemanha, mergulha, através de diversos painéis, na expedição dos dois investigadores alemães que se realizou há 200 anos.
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A mostra sobre o percurso de Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich Philip von Martius, entre 1817 e 1820, que culminou no livro "A Viagem pelo Brasil" ("Reise in Brasilien", o título no original alemão), pretende dar também a conhecer o legado dos dois cientistas alemães.

"Eles são mais conhecidos no Brasil do que na própria Alemanha", revelou a comissária da exposição, Karen Macknow Lisboa, sublinhando que "são importantes em vários sentidos".

"Como cientistas do início do século XIX, eles ainda estão ancorados na ciência enciclopedista, o que significa, hoje em dia, que são multidisciplinares. Para eles não só a natureza, ou seja, a botânica, a zoologia, ou a mineralogia, eram de interesse, mas também a população, a história, a cultura, a economia, os costumes. Todos esses aspetos eles observaram e identificaram como um objeto de estudo", salientou a professora e investigadora do Departamento de História e do programa de pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Brasil.

"Spix e Martius estiveram três anos a viajar pelo Brasil, sendo que os primeiros seis meses foram passados no Rio de Janeiro, preparando a viagem. Depois eles seguem pelo interior, atravessam o nordeste, uma etapa muito cansativa e ousada, um grande desafio em termos climatéricos. Trata-se de uma viagem muito longa, mais de dez mil quilómetros, e que se perderia como resultado científico se eles não tivessem escrito o relato da viagem", explicou Karen Macknow Lisboa.

Da expedição resultou o livro "A Viagem pelo Brasil", publicado em vários volumes poucos anos depois do regresso de Spix e Martius à Baviera, na Alemanha, em 1820.

"É um relato longo, com mais de 1.500 páginas no original, em que eles vão descrevendo essa viagem. É muito mais do que um relato, é uma pesquisa sobre o Brasil daquela altura, não só a natureza, mas também a cultura e a sociedade", referiu a investigadora, que publicou o primeiro estudo crítico sobre a obra de Spix e Martius do ponto de vista social, "A nova Atlântida de Spix e Martius. Natureza e Civilização na Viagem pelo Brasil (1817-1820)".

Além desta, os dois investigadores alemães publicaram obras no campo da botânica, zoologia e da etnografia e também da historiografia e na literatura ficcional.

A "Flora Brasiliensis" foi a obra mais importante de Martius e tinha como objetivo documentar e sintetizar todas as espécies de plantas brasileiras estudadas e também a sua utilização medicinal, comercial e económica.

Esta exposição comemorativa do bicentenário da viagem dos dois cientistas alemães é organizada pelos institutos Ibero-Americano de Berlim e Martius-Staden, e insere-se nas celebrações dos 250 anos do nascimento de Alexander von Humboldt.

"Não é a primeira vez que se comemora um bicentenário, já em 1994 foram comemorados os 200 do nascimento de Martius e naquela ocasião eu fiz a curadoria de uma exposição na Pinacoteca de São Paulo. Aí fizemos uma grande exposição, com peças indígenas, com originais, com livros, com gravuras originais", adiantou Karen Macknow Lisboa.

"Esta exposição [em Berlim] tem recursos inferiores, é itinerante e no Brasil já passou por várias cidades, entre elas São Paulo. Vai continuar a viajar, ainda que não fará um trajeto tão longo como o de Spix e Martius", brincou a investigadora.

A exposição sobre "Viagem de Spix e Martius pelo Brasil" pode ser visitada até 09 de março.

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