Estudo 3D visa perceber evolução das carapaças das tartarugas nas Ilhas Galápagos

Um estudo internacional pioneiro, no qual participa um investigador do Porto, recorreu à análise de imagens 3D para verificar as diferenças na capacidade das tartarugas das Ilhas Galápagos se levantarem após as quedas, visando perceber a evolução das suas carapaças.
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O estudo, no qual participa o investigador Arie van der Meijden, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), deu origem ao artigo "Self-righting potential and the evolution of shell shape in Galápagos tortoises", publicado hoje na revista científica Scientific Reports.

Os dados recolhidos permitiram identificar duas formas de carapaça distintas entre as espécies de tartarugas gigantes, uma "abobadada" e outra em formato de "sela", informou o CIBIO-InBIO em comunicado.

De acordo com o centro de investigação, as tartarugas abobadadas têm carapaças muito redondas e vivem nas regiões montanhosas das ilhas, enquanto as tartarugas de sela têm carapaças mais estreitas e altas, com uma abertura frontal alargada, assemelhando-se a uma sela de cavalo.

"Supõe-se que a ampla abertura na carapaça de sela seja uma adaptação que permite às tartarugas estender o pescoço para cima e alcançar catos mais altos", que são "uma importante fonte de alimento em ambientes quentes e secos", característicos dos locais onde estas vivem, acrescentou.

Nestes locais a paisagem é também muito acidentada, o que aumenta o risco das tartarugas de sela caírem de costas enquanto se deslocam, aumentando igualmente a probabilidade de morrerem, caso estas não se consigam virar rapidamente.

"Uma das hipóteses considera que a forma peculiar da carapaça, juntamente com o maior comprimento do pescoço, sejam o resultado da evolução em resposta à necessidade das tartarugas virarem-se rapidamente após a queda", lê-se na nota informativa.

Os resultados mostram, contudo, que as tartarugas com carapaça de sela precisam de mais energia para voltarem a pôr-se de pé, quando comparadas às que têm carapaças abobadadas e que são auxiliadas pela própria forma arredondada.

Esta conclusão "é surpreendente, já que assumimos que seria o contrário", disse à Lusa investigador Arie van der Meijden, para quem esta descoberta é "bastante importante no sentido de entender a evolução dessas tartarugas enigmáticas e emblemáticas".

O estudo não permitiu, no entanto, perceber se o processo de evolução da carapaça terá ocorrido em resposta à necessidade das tartarugas porem-se de pé ou se estará relacionado com a adaptação que lhes possibilita alcançar plantas mais altas, indicou Arie van der Meijden.

"A partir deste estudo não podemos afirmar o que evoluiu primeiro, se o pescoço longo e com maior extensão ou se a forma da carapaça", acrescentou.

Para simular a queda das tartarugas, a equipa de investigação criou um modelo de computador e fotografou 89 tartarugas de 5 espécies, em todos os ângulos, recriando-as em 3D.

De seguida, para determinar a localização do centro de massa numa tartaruga viva, alguns espécimes foram colocados sobre uma estrutura especial, que consistia numa plataforma móvel de medição e continha vários sensores de força.

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