Dificuldades do discurso sobre alterações climáticas pode levar a populismos, diz investigador

Os discursos oficiais europeus sobre alterações climáticas e transição energética nem sempre são facilmente entendidos, o que "cria lacunas" que são aproveitadas pelos populistas, alertou hoje o investigador em argumentação Marcin Lewinski, da Universidade Nova de Lisboa.
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O responsável falava à Agência Lusa a propósito de um congresso internacional sobre "Argumentação e Políticas Públicas", que decorre em Lisboa na terça-feira e que junta especialistas na matéria de vários países. Na mesma altura é inaugurada a "Rede Europeia de Análise de Argumentação e Políticas Públicas" (APPLY, na sigla original).

Marcin Lewinski, coordenador do Laboratório de Argumentação do Instituto de Filosofia da Universidade Nova, explicou à Lusa que "há uma lacuna entre o discurso oficial e o que os cidadãos pensam" no que respeita às alterações climáticas e as energias renováveis.

Ainda que "as mudanças sempre encontrem resistência" Lewinski não diz que os cidadãos europeus estão contra uma nova política sobre o clima, mas que quando a União Europeia "tenta acelerar as mudanças energéticas há claramente pessoas que não entendem esse discurso, o que cria alguns mal-entendidos".

"Isso cria uma lacuna para a entrada dos populistas, porque são assuntos complexos, difíceis de explicar, o que abre a porta a discursos simples, discursos populistas", alertou.

A questão das alterações climáticas e da eficiência energética é uma das que vão ser discutidas no congresso, nomeadamente através da comunicação de Kjersti Fløttum, professora da Universidade de Bergen. Ao longo do dia serão apresentadas e discutidas as investigações mais importantes a nível internacional sobre argumentação e políticas públicas.

A União Europeia "está empenhada em melhorar a forma como os cidadãos europeus compreendem, avaliam e contribuem para a decisão pública" em matérias como alterações climáticas ou políticas energéticas, pelo que a APPLY "identifica as assimetrias de argumentação entre cidadãos, decisores políticos e académicos, explorando formas de as trabalhar", explica a Universidade Nova num comunicado hoje divulgado.

O projeto APPLY envolve mais de 100 investigadores de 35 países e é liderado por Marcin Lewinski, que explicou à Lusa tratar-se de um projeto a quatro anos, quando espera ter conclusões sólidas.

"Não podemos negar isso, os populismos em alguns países da União Europeia. Pretendemos interpretar esse problema, investigar os modos de argumentação e a qualidade das políticas públicas através da qualidade dos discursos", disse à Lusa, acrescentando que na "raiz do populismo" pode estar a linguagem.

No congresso de terça-feira participam ainda, entre outros, o professor John Dryzek, da Universidade de Camberra, Austrália, Frans van Eemeren, da Universidade de Amesterdão, Holanda, e Christopher Tindale, da Universidade de Windsor, Canadá.

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