O presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, um dos fundadores da comunidade, recordou em declarações à agência Lusa, que pertencia à primeira família muçulmana que apareceu em Portugal e que na altura nem sonhava que um dia teria uma mesquita como a de Lisboa..A Comunidade Islâmica de Lisboa foi constituída em março de 1968 por um grupo de universitários muçulmanos que, na altura, se encontravam a estudar na capital portuguesa.."Não havia cá nada", disse o presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, que na sexta-feira realiza uma cerimónia comemorativa dos 50 anos da sua existência, na Mesquita de Lisboa, com a presença de várias individualidades, entre as quais o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres..Este grupo, explicou Abdool Vakil, sentiu a necessidade de formar uma associação e de ter um local onde pudessem reunir-se e fazer a suas orações..Mas, ainda antes da constituição da comunidade, em 1966, uma comissão composta por dez elementos (cinco muçulmanos e cinco católicos) solicitou à Câmara Municipal de Lisboa um terreno para a construção de uma mesquita..A Comunidade, no seu início, era maioritariamente constituída por famílias provenientes das ex-colónias que vieram para Portugal a partir de 1975, nomeadamente Moçambique e Guiné-Bissau, bem como algumas pessoas oriundas do norte de África (Marrocos e Argélia), Paquistão, Bangladesh e membros das diversas embaixadas de países árabes acreditados em Portugal.."Primeiro começámos com uma sala de culto numa cave da embaixada do Egito, mas depois o então primeiro-ministro Mota Pinto arranjou-nos uma sala de culto no Príncipe Real", explicou..Só mais tarde, em setembro de 1977, foi cedido um terreno na avenida José Malhoa. O lançamento da primeira pedra aconteceu em janeiro de 1979 e a inauguração da primeira fase de construção realizou-se a 29 de março de 1985..A Mesquita Central de Lisboa é um projeto dos arquitetos António Braga e João Paulo Conceição, e o seu imã é o xeque David Munir..Por essa altura, a comunidade era já estimada em mais de quatro mil pessoas (Censos de 1981), engrossada sobretudo por gente proveniente das antigas colónias portuguesas..A comunidade está hoje estimada em 50 mil pessoas, segundo Vakil, e que se estende por várias zonas do país, nomeadamente área da Grande Lisboa, Porto e zona do Algarve..Já chegaram a ser 70 mil, afirmou, antes da crise da construção civil.."Muitos trabalhavam nessa área e com a crise foram embora para outros países porque aqui não havia trabalho", explicou..Metade da comunidade é composta por africanos, na maioria da Guiné-Bissau, a que se seguem os oriundos da Somália, Sudão e Costa do Marfim..A outra metade é composta por gente de origem indiana, egípcios, sauditas, iraquianos, marroquinos e argelinos..Num país de maioria católica, Abdool Vakil afirma nunca se ter sentido vítima de "islamofobia" .Para o presente e futuro da comunidade, Abdool Vakil defende que o grande desafio é deixar uma herança aos jovens.."Os jovens são o nosso futuro. Têm de conhecer bem a religião islâmica e o Alcorão", frisou..Na cerimónia de celebração do cinquentenário da Comunidade Islâmica de Lisboa estarão também presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, o núncio apostólico, Rino Passigato, e o cardeal patriarca, Manuel Clemente e o xeque Ahmed Mohamad El-Tayyeb da Universidade de Al-Azhar, instituição de referência para os muçulmanos sunitas, sediada no Cairo.