Complexo de favelas do Alemão e a intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro
Em novembro de 2010, milhares de brasileiros viram veículos blindados das policias, helicópteros e agentes das polícias e Forças Armadas passando em marcha lenta por ruas e vielas no complexo de favelas do Alemão, numa grande operação chamada Arcanjo.
As redes de televisão do país mostraram criminosos a entregarem-se ou fugindo e a bandeira bandeira brasileira foi hasteada no ponto mais alto do morro do Alemão como um símbolo do Governo contra as facções criminosas que comandavam aquela área, uma das mais violentas da capital 'carioca'.
Sérgio Cabral, na época governador, dizia à imprensa que estava a declarar "guerra" ao crime organizado e que o Rio de Janeiro virava uma página da sua história.
Sete anos e 3 meses depois, Sérgio Cabral está preso, acusado de desviar milhares de euros das contas públicas do estado, o seu sucessor e afilhado político Luiz Fernando Pezão passou para o Governo central a responsabilidade de gerir a segurança pública do Rio de Janeiro e o complexo do Alemão voltou a ser um reduto de criminosos fortemente armados.
Embora emblemática, a operação Arcanjo não fora a primeira a ocorrer naquela zona localizada no norte da capital 'carioca'.
Em 2007, 1.350 policias civis, militares e soldados da Força Nacional fizeram uma grande ação no Alemão, que deixou oficialmente 19 mortos e dezenas de feridos.
Dias antes, intervenções lideradas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) já haviam deixado 16 mortos e mais de 50 feridos no local.
Com a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro decretada pelo Presidente Michel Temer em fevereiro, uma nova incursão de grande porte no Alemão é avaliada pelo Exército, que vigia a área com drones e helicópteros, segundo informações divulgadas na última sexta-feira pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo.
Agora, porém, os traficantes fugiram quando viram os militares a entrar têm mostrado intenção de resistir já que disputaram ferozmente o controlo dos pontos de venda de drogas entre si.
Além de não ter conseguido limitar a ação dos narcotraficantes, o fracasso das incursões das policiais e dos militares dentro do complexo do Alemão e em outras favelas 'cariocas' no passado despertou uma oposição combativa de organizações ligadas à defesa dos direitos humanos.
Organizações Não-governamentais do Brasil, como o Observatório de Favelas, e outras de presença global como a Human Rights Watch, alertaram para ataques à vida do moradores nestas comunidades.
O Observatório de Favelas considerou que "a situação do Rio de Janeiro só se agravará com uma intervenção militar".
Por seu turno, a Human Rights Watch (HRW) classificou de "preocupante" o decreto que colocou os militares no controlo das polícias do Rio de Janeiro, porque os soldados do exército são treinados para conflitos militares e não para o trabalho de patrulhamento civil.
O complexo do Alemão é composto por 15 favelas: Itararé, Joaquim de Queiróz, Mourão Filho, Nova Brasília, Morro das Palmeiras, Parque Alvorada, Relicário, Rua 1 pela Ademas, Vila Matinha, Morro do Piancó, Morro do Adeus, Morro da Baiana, Estrada do Itararé, Morro do Alemão e Armando Sodré.
Pelo menos menos 60 mil pessoas vivem nesta área, segundo dados do último censo do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010.