Ativista brasileira recebe prémio da Fundação Alexander Soros nos EUA
Antonia Melo, de 64 anos, é a primeira brasileira a receber o prémio. A distinção reconhece a luta da ativista para travar a construção do complexo hidroelétrico de Belo Monte, no rio Xingu, na Amazónia.
O complexo, que inclui três barragens e será a terceira maior hidroelétrica do mundo, já forçou a mudança de 40 mil pessoas (muitas delas do povo Xinguense), mais do dobro do que estava previsto no início da sua construção, em 2011.
"O complexo da barragem de Belo Monte é um projeto de destruição. Traz morte à flora, fauna e inúmeras culturas tradicionais e indígenas que vivem na baía de Xingu. O nosso povo enfrentou violência, desemprego e miséria porque o Governo e um grupo de investidores querem explorar a nossa terra e o nosso rio para lucrar", disse a ativista, em comunicado.
Antônia mudou-se para a região quando tinha 4 anos e luta contra este projeto há quase duas décadas, quando foi primeiro anunciado.
Antônia fundou nos anos 1990 o "Movimento Xingu Vivo Para Sempre," que reúne varias organizações ambientalistas e ativistas da região. Uma das suas grandes vitórias foi trabalhar com o grupo Povos Indígenas Munduruku para travar a construção de uma barragem no rio Tapajós.
"Contra todos, Antônia recusou ficar em silêncio quanto à ineficiência deste projeto, que vai devastar, de forma irreversível, a Amazónia e as vidas das pessoas que dependem do rio e da floresta para a sua sobrevivência", disse o fundador do prémio, Alexander Soros, também em comunicado.
Em setembro, um tribunal suspendeu a licença de exploração do projeto, alegando que a empresa Norte Energia tinha falhado nos seus compromissos, nomeadamente no fornecimento de alojamento às populações deslocadas.
"Dediquei a minha vida a fazer campanha contra este projeto e, apesar de ele ter avançado, vou continuar a lutar contra aquilo que representa: um modelo de desenvolvimento destrutivo, insustentável e indefensável", conclui a ativista.
Belo Monte é o maior projeto de um conjunto de cerca de 100 hidroelétricas planeadas para a Amazónia brasileira. A sua conclusão está prevista para 2019.