Artistas Unidos levam "Papéis da prisão" de Luandino Vieira à Gulbenkian

Uma leitura encenada, a partir dos textos do escritor luso-angolano Luandino Vieira, redigidos em tempo de cárcere, durante a ditadura, vai ser apresentada pelos Artistas Unidos, na sexta-feira, às 19:00, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
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"Tenho trinta anos, estou na cadeia há quatro" é o título da sessão, que vai contar com sete atores dos Artistas Unidos, incluindo Jorge Silva Melo, que também encena.

A iniciativa realiza-se no âmbito do programa do Jardim de Verão, da Gulbenkian, e parte dos "papéis da prisão" do escritor e tradutor de origem angolana, acrescenta uma nota à imprensa dos Artistas Unidos.

"Deve ser este o famoso Tarrafal, que reabriu quando mandaram para cá os angolanos", escreveu o autor, quando se encontrava preso, em agosto de 1964, no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.

"Parece um sonho vir cá parar", escreveu Luandino Vieira, a quem foi atribuído o Prémio Camões em 2006, que então recusou, por razões pessoais, mas que agradeceu.

Mais tarde, Luandino viria a admitir que o fez por estar há já muitos anos "sem escrever um livro", havendo outros autores que mereceriam o prémio.

Nascido em Portugal, em 1935, Luandino Vieira passou a infância e juventude em Luanda, para onde foi aos três anos com os pais.

Durante a Guerra Colonial, ingressou no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), participando na luta armada pela independência.

Em 1959, foi detido, pela primeira vez, pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política da ditadura, e, em 1961, foi condenado a catorze anos de prisão.

Até 1964 esteve preso em Luanda, tendo sido depois deportado para o campo de concentração do Tarrafal, onde permaneceu durante oito anos.

Em 1965, a Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE), presidida por Jacinto Prado Coelho, atribuiu-lhe o Grande Prémio de Novela, pela obra "Luuanda".

A atribuição, noticiada pela imprensa portuguesa, levou à extinção da SPE, por despacho do ministro da Educação Nacional, Inocêncio Galvão Teles.

"Tenho trinta anos, estou na cadeia há quatro", que tem Andreia Bento como assistente de encenação, também conta com leituras dos atores António Simão, Daniel Martinho, João Meireles, João Pedro Mamede, Nuno Gonçalo Rodrigues e Pedro Carraca.

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