[Este artigo foi publicado na revista Notícias Magazine a 27 de janeiro]A entrevista de Judite de Sousa a Lorenzo Carvalho, na sexta-feira, fcriou tal buzz que a jornalista veio pedir ontem desculpa pela agressividade das suas perguntas e atitude para com Lorenzo Carvalho. Mas afinal quem é este brasileiro que contratou Pamela Anderson para a sua festa de 21 anos?Veja aqui a vida de Lorenzo em fotografiasLorenzo Carvalho é um brasileiro de 22 anos que chegou a . Portugal no ano passado e dá nas vistas ostentando riqueza e dando . festas de luxo. Filho de uma família com negócios nas pedras . preciosas e cosmética, viveu entre o Brasil e Itália, tornou-se . piloto da Ferrari em GT3 e diz querer comprar o Autódromo do . Estoril. É apenas mais uma das suas extravagâncias... . Parece que estamos a entrar na caixa-forte de um banco. O . condomínio onde vive o jovem piloto de Ferraris Lorenzo Carvalho, na . linha do Estoril, está cercado de seguranças. Na garagem, uma . coleção de carros impressionantes - quatro Ferraris, um Bentley, um . Porsche Cayenne, um Fiat 500 com 500 cavalos... Lorenzo surge . sorridente. É difícil dizer no que se repara primeiro - as . tatuagens que lhe sobem pelo pescoço e vão até aos dedos, o boné, . que raramente tira, ou os sapatos com tachas e sola vermelha . louboutiana... Não quer passar despercebido, este jovem. Aliás, . desde que se mudou para Portugal, no verão passado, com os pais - . Cleyci Rita de Carvalho, brasileira, e Luiz Carlos Leal, . luso-brasileiro, filho de portugueses da Guarda -, tem promovido . eventos para atrair jornalistas e figuras públicas. No passado fim . de semana, com uma enorme festa, encheu a discoteca Lust, no Terreiro . do Paço. E o anúncio de que quer comprar o Circuito do Estoril . surpreendeu tudo e todos. . E quem é este rapaz que chegou a Portugal vindo do nada e . surpreende por ostentar a sua riqueza? Lorenzo Carvalho Leal tem 22 anos. Nasceu em Goiânia, estado de Goiás, no Brasil, mudou-se com . apenas 2 dias para São Paulo, onde viveu até por volta dos 5 anos. . Por essa altura, conta, começaram as viagens frequentes a Milão, . por conta dos negócios da mãe. «Os meus avós comercializavam . pedras preciosas e ela estava nesse ramo também», explica. . Uma série de infortúnios parece ter conduzido à mudança para a . Europa. «A nossa família foi morrendo, tudo mortes trágicas - a . minha tia suicidou-se, a minha avó morreu afogada, o meu tio . queimado numa explosão num acidente de carro - e a minha mãe não . quis ficar mais naquele país», diz. Ponderaram entre França, onde . a mãe estudara Medicina, Milão, onde tinha negócios, ou Portugal, . a terra dos avós paternos. Escolheram Itália, «para abrir o . negócio da cosmética [atualmente, é administradora da marca Forêt . Vierge] e ser aceite pelo mercado euro peu», justifica a mãe. . Lorenzo tinha 9 anos. . Um grito do Ipiranga precoceA presença da mãe na vida de Lorenzo é uma constante. Filho . único, vive com os pais que, divorciados, habitam a mesma casa. «Aos . 13 anos, Lorenzo teve o seu primeiro carrinho», lembra a mãe, . embevecida. O adolescente conta que brincava com um SLC K200, um . microcarro de fibra de carbono, assinado pela equipa da italiana ATR . Group que desenvolveu o corpo e os chassis de supercarros como o Enzo . Ferrari, o Porsche Carrera GT ou o Maserati MC 12, antes de ter idade . para conduzir. . «A mãe sempre alimentou as loucuras dele e comprou os carros», . graceja o pai. . Aos 16, Lorenzo terá decidido que não queria estudar. A mãe . acedeu. «Quando eu tinha 16 anos, ela comprou-me três lojas de . videogames, no centro de Milão, e comecei a ter a responsabilidade . de gerir as minhas lojas, fazer as contas. Virou um trabalho e ficou . chato, era melhor ter estudado», conta o piloto. Fez do seu . passaporte um diploma: «Viajo a cada duas semanas, vou a Nova . Iorque, França, aprendo muito mais conhecendo outras culturas.» . "Trust no one"A adolescência privilegiada foi protegida pela riqueza da . família. E a um nível a que não estamos habituados. Quando cumpriu . 17 anos, por exemplo, Lorenzo ganhou o primeiro Ferrari. Depois de . conduzir um ano sem carta, achou que o modelo estava ultrapassado e . quis trocar. Um amigo, pai de família, que passou por certas . dificulda-des e que ele trouxe para trabalhar com a sua mãe, . apresentou-lhe um entendido em carros para fazerem negócio. «Nunca . iria pensar que a pessoa com quem convivo todos os dias e que ajudo . me vai prejudicar. Ingenuamente, entreguei o meu Ferrari e evaporou», . recorda. Na sequência desse episódio fez uma tatuagem no peito que . diz «Trust no one». . Desde os 13 anos que Lorenzo passou a colecionar no corpo . símbolos, imagens, nomes. Começou com um pequeno dragão de Mulan , . o filme da Disney, na perna, contra a vontade da mãe. Aos 17 . entregava-se nas mãos de artistas de Los Angeles. Tem algumas . especiais, como o Mike Tyson que leva ao peito, o «LA» no pescoço . - a sua cidade favorita - e o nome «Laura» inscrito no braço, uma . das mulheres da sua curta vida. Lorenzo é mulherengo e não esconde . isso. É casado, tem uma filha, mas vai dizendo «sou homem, fazer o . quê?». Mas protege a família dos holofotes e não fala mais sobre . o assunto. . Milão, a cidade da moda onde vivia, era perfeita para a vida de . alguém que não tem de fazer contas. Mas deixou de fazer sentido no . verão passado. «Deixei para trás amigos e inimigos. Há muita . gente que se faz passar por aquilo que não é e tenta sempre "te . ferrar". O país estava muito complicado. Nesse último período . era difícil achar alguém honesto. Estávamos trabalhando para o . governo. Vim para Portugal revoltado», diz Lorenzo. A mãe corrobora . a ideia: «Milão tornou-se muito agressiva.» Portugal revelou uma . faceta humana a que o piloto já não estava habituado: «Aqui ainda . se pode confiar em algumas pessoas.» . O negócio de que ninguém falaLorenzo sempre teve motos, entrava em corridas, desafiava os . limites. Há dois anos integra a equipa da Ferrari em GT3, depois de . ter feito vários cursos de condução ativa com a marca, mesmo antes . de ter idade para conduzir. Estes cursos, na Ferrari, destinam-se a . quem tem vários carros da marca e a participação nas corridas . também é vendida - o pacote custa desde um milhão de euros, embora . seja feita uma triagem aos pilotos que o pretendam fazer. . Recentemente, Lorenzo correu a Dunlop 24H Dubai, em que a equipa AF . Corse SRL 2 - juntamente com os pilotos italianos Lorenzo Case, Marco . Cioci e o finlandês Mika Salo - acabou em segundo lugar. Agora . aguarda o calendário das competições. . Lorenzo idolatra o piloto brasileiro Ayrton Sena e diz que essa é . uma das razões por que veio a público falar na intenção de . comprar o Circuito do Estoril (antigo Autódromo Fernanda Pires da . Silva). «Era a pista favorita dele», argumenta. Mas, embora nas . mesmas declarações, do início do mês, falasse na criação de uma . escola Ferrari, agora dá o dito pelo não dito. «A marca zangou-se. . Foi um mal-entendido. Eu quero ter uma escola de condução com . diferentes marcas representadas.» Sobre o negócio do circuito diz . que «é a mãe quem trata». . Cleyci Rita de Carvalho diz que não pode falar sobre o assunto, . porque «o que foi noticiado prejudicou muito as negociações», . escusando-se a revelar quem eram os interlocutores. Para já, apenas . adianta que está «alugando espaços por dias». A Parpública, . SGPS, empresa do Estado que trata dos processos de privatização e . gestão de património imobiliário, na tutela do Ministério das . Finanças, que tem também odossier Circuito do Estoril, . questionada sobre a possibilidade de venda, fez saber que «não . existem quaisquer contactos ou negociações em curso que envolvam a . Parpública relativamente a este processo». O último concurso . público foi lançado em 2007, por 35 milhões de euros. Houve um . único candidato que não aceitou os valores do executivo de Sócrates . e o autódromo permaneceu estatal. . Lorenzo encontra-se com a Notícias Magazine na sua casa . do Estoril. Está sentado à cabeceira da mesa, de boné, que . raramente tira. Só cede o lugar ao avô - que veio visitar a família . na casa que compraram no Estoril, de frente para a marginal, o Chalet . da Condessa d"Edla (a viúva de D. Fernando II). Na outra ponta, . mamma nostra, como chamam à matriarca da família - a mãe. Pelo . meio, um corrupio entre família do Brasil, amigos de Itália, o . sócio da mãe na cosmética, do Lichten-stein. Acrescentam-se pratos . à medida que vai chegando gente. Não há «frescuras», como diriam . os brasileiros, há comida servida em travessas, riso solto e . conversas que começam numa língua e acabam noutra. Os telemóveis . da mãe tocam persistentemente, ela atende sempre, mas já ninguém . estranha apesar de não a pouparem à reprimenda: «Dá para des . ligar à mesa?». Não dá. Depois da refeição, o piloto continua a . tratar dos preparativos para a festa do dia seguinte, a Champanhe Shower Party, no Lust, . em Lisboa, espaço que Lorenzo diz estar a negociar para a compra de . uma parte maioritária. «Está com os advogados, mas quase tudo . tratado.» . As festas são referências da sua vida. As de Saint-Tropez, Milão . e Los Angeles, onde, garante, os amigos facilmente gastam . «quinhentos, seiscentos mil ou um milhão por noite». E diz que já . organizou eventos com mil pessoas, grandes DJ como Martin Solveig, DJ . Ross e David Guetta. «Eles já passaram música para mim.» Na festa . de aniversário dos 21 anos diz ter feito o recorde de uma discoteca . ao comprar «duzentas garrafas de Cristal [Louis Roederer]»- cada . garrafa custa cerca de mil euros. «Diversão, mania ou ignorância, . esse é o meu lado negro.» . Tudo o que se pode comprarÉ uma boa definição para a sua figura na noite da festa: . apareceu sem boné, de pulseira tripla cravada de diamantes, T-shirt . a deixar a descoberto as pinturas do corpo, pôs música, posou para . os fotógrafos ao lado de figuras públicas como o cantor Mikael . Carreira ou a actriz Sylvie Dias, o chef Henrique Sá Pessoa ou o . escritor Domingos Amaral... Sempre ao seu lado, o segurança. «Tenho . dois, são como meus irmãos, estamos 24 horas juntos. Não é . questão de precisar, mas ajudam-me muito.» . Angel's face, devil's body é o lema de Lorenzo, . dentro e fora de pista - é assim que se apresenta na sua página de . internet. Um menino estranho, cujo espalhafato surpreende - por . estas bandas é raro ostentar-se assim a riqueza, sobretudo em tempos . de crise. O seu óbvio desafogo, explica-o a quem inevitavelmente o . questiona com as origens e os negócios da família - nas pedras . preciosas, dos avós, e na cosmética, da mãe. Ele próprio, que . acabou de mostrar com orgulho a sua coleção de Ferraris ou sapatos . Louboutin, garante que não é o consumo que o move. «Quando se tem . a minha idade e tudo o que se quer - carros, joias, tudo - acaba-se . por se perder a noção do valor do dinheiro, ir a certos sítios . ajuda a perceber.» . Aponta a mesma razão para ajudar «120 crianças numa instituição . no Brasil», . doar o primeiro ano dos resultados da marca Understand 69 - em . fase de lançamento, de momento com T-shirts à venda - às . crianças do Instituto Português de Oncologia e associar-se à . instituição Terra dos Sonhos. «Dar é fácil, eu gosto. Quando se . tem tudo começa-se a procurar outro tipo de emoções. Isso ajuda a . dar valor ao poder caminhar, ver, comer boa comida todos os dias. A . minha avó sempre falou que "dinheiro a gente não leva no . caixão", por isso a gente gosta de partilhar.» Quando se fala . de sonhos por concretizar não sabe o que responder. «Talvez chegar . à F1 se tiver de ser»... Sempre teve tudo o que o dinheiro pode . comprar.