Parque de Montesinho. Viver na natureza com lente focada
O Parque Natural do Montesinho fica ali encaixado no nordeste de Portugal, entre Bragança e Vinhais, limitado a norte pelo país vizinho. Numa sucessão de elevações arredondadas e vales profundos, conta com grande abundância de cursos de água que serpenteiam entre as muitas aldeias dentro dos limites do parque. Lagomar é uma dessas aldeias. Aquela que António Sá escolheu para morar, em 2010.
Situa-se numa região que regista todos os anos as temperaturas mais baixas de Portugal, podendo atingir os -12º C. Talvez por isso lhe chamem Terra Fria. Com cerca de 75 mil hectares, o parque tem perto de 9000 habitantes distribuídos por 92 aldeias, o que lhe confere um equilíbrio muito interessante entre a ocupação humana e a natureza.
Os prados verdejantes surgem pontuados por cabeças de gado e uma vegetação que podemos admirar, matos pintados pela cor primaveril das urzes, estevas e giestas. Impressionam pela sua imponência, os soutos de castanheiros, os bosques de carvalho e ainda se podem observar espécies como a raposa, o lobo-ibérico, a corça ou o veado.
Em maio de 2019, foi, pela primeira vez, registado um urso pardo a deambular pelo parque. Este registo de um exemplar desta espécie, declarada extinta no nosso país desde 1843, não significa um regresso ao território, mas é um sinal de que podem existir condições para que tal venha a acontecer. Perante esta possibilidade, António, habituado a percorrer este território munido da sua máquina fotográfica, sente que fez a escolha certa quando decidiu viver aqui.
A ideia de sair de Espinho, de onde é natural, e ir viver para um sítio mais tranquilo, já lhe ocupava o espírito há muitos anos. A intenção de mudar foi ganhando consistência cada vez que o jovem fotógrafo se deslocava ao parque em serviço para uma das muitas revistas ligadas a viagens e à reportagem de natureza: a edição portuguesa da revista National Geographic ou a revista de viagens Volta ao Mundo, de quem foi colaborador regular durante muitos anos. Habituado a correr mundo de câmara na mão, este envolvimento com a natureza sempre exerceu uma atração especial. Com esta paisagem de Montesinho foi criando uma espécie de dependência. Por esse motivo, quando não se deslocava ao parque em trabalho, eram as evasões em família com a mulher Ana Pedrosa, jornalista e companheira de muitas viagens, e os dois filhos. Sempre que havia tempo livre rumavam para aqui e confessa: "Trás-os-Montes tornou-se um vício: quanto mais tínhamos, mais queríamos. E Trás-os-Montes correspondia. Sempre."
Quando decidiram mudar, assentaram nesta aldeia bem dentro dos limites do parque e apenas a uns quinze minutos de carro do centro da cidade de Bragança. A ideia era recuperar uma casa na aldeia, mas acabaram por construir de raiz. Mudaram-se, de armas e bagagens com os dois filhos de 7 e 10 anos, para grande surpresa dos aldeões, que estavam mais habituados a ver nascer casas de férias e muito pouco acostumados a verem uma nova família invertendo a habitual tendência demográfica. Talvez essa surpresa de os ver chegar, explique "uma amizade, solidariedade e a sensação que existe sempre alguém disponível para ajudar", um sentimento que os perpassa desde que aqui residem.
Nesta região, as cores da floresta vão delimitando as quatro estações do ano de forma marcante, mas a maior surpresa que tiveram foi acordar depois de um nevão e perceberem o impacto, "não só o lado visual, mas também o nível auditivo ... sem eco, sem ruído". É um festim visual para uma pessoa que fotografa da forma que António o faz, sempre numa ótica de respeito e compreensão pelo que a natureza oferece. Os seus passeios fotográficos, acabaram por se tornar em workshops para quem vem de fora e na sua casa nasceu uma pequena unidade de alojamento, capaz de permitir uma estadia em comunhão com o parque. É uma experiência valiosa para quem gosta de natureza, quer conhecer e compreender melhor os cambiantes deste território tão rico. Habituado a viajar, a distância também não o impressiona: estamos a duas horas do Porto, onde é possível matar as saudades do mar e a três horas e meia de Madrid, onde é possível embarcar para qualquer parte do mundo. Bragança, afinal, é bem mais central do que parece. Antes de viver aqui, António, certo dia, confessou ao diretor de uma revista: "Tantas vezes lá vou, que acabarei por ficar". E assim foi.
Parque Natural de Montesinho
Situado no nordeste de Portugal, entre Bragança e Vinhais, limitado a norte pela Espanha, o parque tem cerca de 75 mil hectares e perto de 9000 habitantes distribuídos por 92 aldeias.