Lutar pela saúde e pelas crianças

André Brás deixou Coimbra para vir trabalhar em Ferreira do Zêzere e no início as suas longas rastas chamavam a atenção. Hoje cuida da vacinação anticovid e do bem-estar dos mais novos.

A rotina de André Brás está muito diferente desde que existe pandemia. O enfermeiro passa agora grande parte da sua semana no centro de vacinação de Tomar. Tem muitas doses da vacina para preparar e o trabalho que normalmente realiza, no Centro de Saúde de Ferreira do Zêzere, ficou para trás. Além dos cuidados de saúde primários que normalmente lhe ocupam os dias, coordena a equipa de intervenção precoce local. Esta unidade reúne profissionais dos ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social, da Saúde e da Educação e tenta, através do envolvimento das famílias e da comunidade, sinalizar e ajudar crianças até aos 6 anos que tenham dificuldades.

André, com 41 anos e pai de duas filhas, também pertence há dois anos à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Ferreira do Zêzere. Este órgão é muito importante porque, apesar de ser um organismo não judicial, reúne técnicos de diversas áreas e possui autonomia suficiente para intervir rapidamente em momentos em que os direitos de crianças e jovens estejam em risco. No quadro da pandemia, o relatório anual da CPCJ registou um aumento das situações de violência doméstica a nível nacional. Em 2020 foram abertos 3877 processos - mais 816 do que em 2019. Um flagelo social que afeta igualmente litoral e interior, inquietando muitos profissionais ligados à educação, à justiça e à saúde que, como André, trabalham nestas comissões.

No final de mais um dia a preparar as doses de vacinas, larga o seu trabalho e nota-se que ainda está focado na tarefa, exigente, que lhe ocupou o dia. À medida que vai contando a sua história, ainda fala com aquela pressa de quem passou o dia sob pressão. Longe vão os tempos quando o jovem, nesse tempo com longas rastas e um ar pouco convencional para enfermeiro, chegou a estas paragens vindo de Coimbra para trabalhar no centro de saúde: "Despertava a curiosidade dos utentes", diz a sorrir.

Com o passar dos anos, foi-se criando uma relação de confiança e proximidade: "As pessoas às vezes aparecem no centro para ver se está tudo bem, mas também para desabafar e conversar." A mulher também é enfermeira e trabalha em Tomar: "Tomámos a opção de trabalhar em sítios diferentes, mas decidimos viver em Ferreira, porque é mais barato." Nas pausas do trabalho a família ruma ali bem perto até à albufeira de Castelo de Bode: "Durante o verão, ou nos dias mais quentes, dar um mergulho ou andar de caiaque na albufeira. É mesmo muito bom." Mas se o escape fica ali a cinco minutos de casa, as viagens também são uma aventura.

Especialmente quando são feitas na carrinha pão de forma com o motor refrigerado a ar, que o enfermeiro comprou, recuperou e fez voltar à circulação. Antes de a pandemia de covid-19 eclodir esta preciosidade percorria as estradas na direção de encontros de fãs um pouco por todo o país. O enfermeiro confessa que aprecia muito a beleza natural que mistura floresta e albufeira mas aponta o que crê ser uma lacuna: "Existe pouca diversidade de eventos culturais", comparando à que existia quando vivia em Coimbra. As duas filhas, e a escola e as amizades delas, vão aqui fixando André Brás, mas, no futuro, quer "voltar a mudar, a viajar". Parece que a velhinha pão de forma vai voltar à estrada.

Ferreira do Zêzere

A vila, inserida na região do Médio Tejo, pertence ao distrito de Santarém e é sede de município, subdividido em sete freguesias. Tem uma forte ligação às atividades de lazer náutico: a estação náutica de Castelo de Bode é um dos pontos de atração.

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