Lisboa. BE, PAN e PSD voltam a pedir que projeto da linha circular não avance
A proposta da linha circular do metro de Lisboa continua a não reunir consenso e a discussão volta esta quarta-feira à Assembleia da República, com BE, PAN e PSD a apresentarem projetos de resolução (que não têm valor vinculativo) sobre o tema, todos com objetivos em comum: suspender ou rever o projeto delineado para o metro, cujas obras já se decorrem.
O plano do metro de Lisboa passa por, a partir de 2024, contar com um percurso circular na linha verde, que irá fazer a ponte entre a estação do Campo Grande (linha amarela) e o Cais do Sodré (linha verde). Para isso, está prevista a criação de duas estações: uma na Estrela (junto à Basílica) e outra em Santos (no Largo da Esperança), ligando assim o Largo do Rato ao Cais do Sodré.
Na opinião do PAN, o Governo deve suspender este processo, dando prioridade à expansão da rede para Alcântara e toda a zona ocidental de Lisboa, algo que, diz o partido, está previsto "no número 1, do artigo 282.º" do Orçamento do Estado (OE) para 2020, quando, na mesma altura, o Parlamento aprovou uma moção apresentada por PCP, PSD, CDS e BE que previa a suspensão das obras. No entanto, ao promulgar o OE, o Presidente da República entendeu que a moção era "uma recomendação política" não vinculativa e com o executivo então em funções não levou a medida avante. O Bloco de Esquerda concorda com a proposta do PAN, reiterando que, para o partido, a resolução aprovada "foi reiteradamente desrespeitada pelo Governo". Por isso, defendem os bloquistas no seu projeto de resolução, o Executivo deve suspender "imediatamente as obras do projeto da linha circular no Metropolitano de Lisboa", fazendo cumprir a resolução aprovada e, mais do que isso, "dar cumprimento ao que tem sido a reivindicação das populações, dos municípios e da petição" assinada por Margarida Quintela, endereçada ao Parlamento em 2019, que agora serve de base para a discussão de quarta-feira.
Menos disruptiva é a proposta do PSD, que pretende uma revisão das obras de uma linha circular para a chamada "linha em laço" que, segundo o partido, "aporta uma melhor relação de custo-benefício". Isto porque, apontam os sociais-democratas, o Governo tem adiado soluções que podem "verdadeiramente servir a mobilidade na região", ao mesmo tempo que pode ter a oportunidade de expandir o metro "para uma zona negra do ponto de vista ferroviário pesado", como é a zona de Loures.
No fundo, a linha em laço que o PSD defende implica um prolongamento da linha vermelha desde São Sebastião até Alcântara (criando, assim, as estações de Campolide, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara). Ainda assim, a proposta não é nova, tendo sido apresentada pela primeira vez em 2019, com um movimento de cidadãos a defender uma linha em laço que começasse em Odivelas e terminasse em Telheiras depois de percorrer toda a cidade. Mais tarde, já na campanha para as autárquicas de 2021, o então candidato Carlos Moedas defendeu a mesma ideia, aceitando a construção das duas estações da linha circular, começando e terminando em Odivelas mas discordando da união entre as linhas amarela e verde no Campo Grande.
Apesar de regressar agora à Assembleia da República, a linha circular nunca foi consensual, com o tema a ser discutido várias vezes no poder local. Em 2021, por exemplo, o PCP apresentou outra alegada solução para o problema. Segundo a moção apresentada pelos vereadores comunistas, João Ferreira e Ana Jara, em reunião privada da Câmara de Lisboa, as prioridades deviam passar por, além de ligar o metro à zona ocidental da cidade e a Loures - através da linha amarela -, prolongar a linha verde de Telheiras até Benfica. Na altura, a proposta foi mesmo aprovada, genericamente, com votos favoráveis do PSD, CDS, PCP e BE, isolando o PS, como tem acontecido desde que foi anunciada a obra, sendo o único partido que defende a empreitada. Apesar disso, as reivindicações do PCP não estão esquecidas, só que não são uma prioridade nos atuais planos de expansão e devem ver a luz do dia apenas quando a linha circular for concluída. Uma vez terminada, o Governo prevê, aí sim, prolongar o metro até Alcântara e restante zona ocidental, com a ligação a ser feita através do LIOS - um metro ligeiro ou elétrico que será colaboração entre a Carris, o Metro de Lisboa e as autarquias de Lisboa, Loures e Oeiras, por onde irá passar -, estando também prevista a ligação da atual linha amarela a Loures, que será feita à superfície a partir da estação de Odivelas.
rui.godinho@dn.pt