Espaço Memória explica a cultura saloia e mostra o papel que teve e tem no país

Na fábrica de queijos Teté nasceu um museu dedicado à identidade de uma população tantas vezes citada de forma depreciativa. O objetivo é dar a conhecer a história de uma região às portas de Lisboa.
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Ilustrações, utensílios da época, maquetes 3D e testemunhos fazem parte do Espaço Memória, um núcleo museológico que homenageia a região saloia, inaugurado nas instalações da fábrica dos queijos Tété, em Loures.

A cultura e identidade dos saloios - nome que foi atribuído aos habitantes da periferia de Lisboa que trabalhavam no campo - estão expostas num pequeno museu que descreve a história desta população desde 1147 até à atualidade. Na prática, trata-se de uma viagem ilustrada entre Loures e Lisboa.

Ana Paula Assunção, museóloga e historiadora responsável pela exposição, conta ao DN que o "espaço memória é a representação dos saloios, como se desenvolveram, qual a sua relação com a cidade, os seus hábitos e como se vestiam". A historiadora considera que este espaço "é uma ótima demonstração de como uma empresa pode também contribuir para a salvaguarda e registo de memórias de uma identidade", neste caso dos saloios, permitindo que a comunidade em redor tenha "uma mais valia cultural e económica".

Nesse sentido, esta exposição, que demorou mais de um ano até estar pronta a ser aberta ao público, está dividida em duas áreas. Na primeira são mostradas ilustrações da época da autoria de Pedro Alves, sendo também possível acompanhar a história dos saloios através de um áudio. Estão ainda disponíveis testemunhos de lavadeiras, agricultores e queijeiros, que contam na primeira pessoa como era o dia-a-dia da região saloia.

Na segunda sala deste espaço museológico, encontram-se em exposição vários utensílios de cozinha típicos da época, roupas, documentos, dinheiro e livros, além de maquetes 3D desenvolvidas pelo artesão local Joaquim Franco, que representam a arquitetura rural saloia e a casa onde nasceu a fábrica Tété.

O Espaço Memória leva os visitantes a uma viagem ao século XX, altura em que a empresa começou a afirmar-se, com o objetivo "desmistificar os conceitos negativos que foram criados relativamente ao que é ser saloio", segundo Ana Paula Assunção.

"O saloio está hoje muito associado à qualidade", diz a historiadora, pois está relacionado com os conceitos de "amor à terra" e "trabalho árduo", sendo a região representada pelo vinho, pão e queijo: o tema do espaço museológico. No entanto, a imagem deste povo foi durante muito tempo desacreditada e vinculada a uma ideia depreciadora.

Dessa forma, os saloios são representados na Tété "tal como numa banda desenhada", devido a uma "preocupação da transmissão da mensagem" para que, "até mesmo as pessoas que não sabem ler, possam ver o núcleo museológico e entender a mensagem".

"A região saloia teve e tem um papel fundamental para a economia do país. Lá, criaram-se indústrias que ainda hoje têm grande relevo, como a produção de queijo fresco. Aliás, ainda hoje é a zona da Península Ibérica onde mais se produz este tipo de queijo. Além disso, é uma região com uma cultura muito particular e rica, que merecia ser celebrada. E foi com esse objetivo que criámos o Espaço Memória, um pequeno espaço museológico integrado nas nossas instalações, mas que pode ser visitado por todos, porque foi pensado e desenvolvido para a comunidade local", explica João Amaro, CEO da Tété, em comunicado.

Já Ana Paula Assunção considera que é "um orgulho dar continuidade a um espaço que honra o contributo dos saloios para o consumo de um produto importante como o queijo" porque "estes agentes culturais transportam para o contemporâneo a memória da cultura local".

Neste sentido, espera que a iniciativa de construir este espaço museológico seja " um exemplo para outras empresas", alertando para a importância de existir um registo identitário da região para que não se perca a identidade local", mas também para que favoreça o desenvolvimento do turismo industrial. "Atrás dos produtos vem a história e a cultura", frisa.

Além da visita ao espaço dedicado à região saloia, é também possível fazer uma visita guiada à fábrica Tété e à sua produção de laticínios, que conta com cerca de 41 trabalhadores. O espaço está localizado na rua Principal, n.º 102, em Lousa, concelho de Loures, e pode ser visitado gratuitamente com marcação através do email espacomemoria@tete.pt.

ines.dias@dn.pt

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