Eram 08:30 quando esta segunda-feira, funcionários da Câmara Municipal de Setúbal (CMS) e elementos da GNR iniciaram a remoção à força das vedações e portões que cercavam o Parque de Merendas da Comenda, no Parque Natural da Serra da Arrábida. Tinham avisado os proprietários, que não as demoveram no prazo de cinco dias que a autarquia lhes deu..Enquanto as cercas eram removidas ouviram-se aplausos de populares e de elementos da Associação de Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado..A CMS tinha afixado um aviso no Parque de Merendas da Comenda, dando conta da remoção "de todas as vedações e portões colocados no local", caso os proprietários da Herdade da Comenda - 600 hectares - não o fizessem voluntariamente no prazo de cinco dias após a sua colocação, o que não aconteceu. Assim foi decidido por despacho de 12 de dezembro de 2022..Esta segunda-feira, funcionários e elementos das forças da ordem retiraram as cercas e portas que impediam a entrada de pessoas, o que acontecia até 27 de setembro de 2021. Dia em que a Seven Properties, atuais proprietários da herdade, decidiram proibi-la ao público. Compraram-na por 16 milhões de euros em dezembro de 2019..O objetivo da autarquia foi repor "o terreno nas condições em que se encontrava antes dos trabalhos executados, conforme foram os executantes de tais obras notificados para o efeito". Classifica a ação de "manifesto interesse público", Os bens encontrados vão ser inventariados e transportados para o armazém municipal, onde os proprietários da herdade os poderão levantar no prazo de 90 dias úteis. Caso não aconteça, "reverterão a favor do município"..O presidente da Camara Municipal de Setúbal (CMS) André Martins, manifestou satisfação por ter cumprido uma promessa eleitoral, apesar de ter sido um ano e quatro meses depois.."A CMS cumpre as leis do município. Levantamos os autos, fizemos todos os processos a que a lei obriga. Passado o tempo necessario, notificamos as pessoas para tirarem a vedação, tinham tempo para isso. Não o fizeram e a câmara está a levantar as vedações que são ilegais [não foi pedida a autorização à autarquia para as instalar] . Não queremos que a ilegalidade se mantenha e, por outro lado, impedem a população de usufruir um espaço considerado publici", justificou..Uma vez retirada todas as vedações, irão repor as mesas, bancos e assadores, que a empresa retirou e comunicou à autarquia onde se encontram..Três elementos da Seven Proprieties, um dos quais disse ser advogado, acompanharam a remoção. Não se quiseram identificar à imprensa, só aos elementos da GNR, chamados pela câmara..O DN contactou a empresa, continuando à espera de uma reação..Quando decidiram vedar o espaço, os proprietários justificaram que ali seria construído o Arqueosítio da Comenda, um certo interpretativo e que passaria por escavações arqueológicas, "autorizadas pela Direção-Geral do Património"..A proibição de entrada estava sujeita a pena de prisão até aos três anos e coima até 500 mil euros" ..Foi contestada a sua legalidade desde o início pela população e autarquia, nomeadamente através de uma manifestação que ocorreu a 3 de outubro de 2021, uma semana depois, com a participação de setubalenses e associações locais e ambientais..A 8 de outubro, tomou posse André Martins, o presidente da autarquia e candidato pela CDU. Desde o primeiro momento - ainda em campanha - que se mostrou contra a vedação, prometendo recorrer a todos os meios legais para reverter a situação, devolvendo aos cidadãos esse espaço..Entre as objeções, recordou o investimento de 130 mil euros que autarquia fez no parque em 2019, instalando novas mesas, bancos e instalações sanitárias..Na altura, o DN pediu esclarecimentos à Mirpuri Foundation, apontada como prprietária, mas a resposta chegou da sociedade de investimentos imobiliários Seven Properties, presidida Fernando Neves Gomes, advogado e amigo de Paulo Mirpuri, presidente da Mirpuri Foundation..Embora sendo propriedade privada, o espaço sempre foi público até 2021.