Artistas plásticos dão brilho às montras das lojas históricas da Baixa de Lisboa

O objetivo é chamar a atenção para o património que estes estabelecimentos representam na memória e vivência da cidade, de forma a democratizar e tornar a arte acessível.
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O projeto Artistas Plásticos - Lojas com História está a tomar conta de dez lojas do comércio tradicional em Lisboa. Esta terceira edição abrange lojas como a Óptica Jomil, a Pharmácia Teixeira Lopes, a Franco Gravador, a Primeira Casa das Bandeiras, a Cutelaria Polycarpo, a Retrosaria Batista & Reis - Nardo, a Retrosaria Mário Ramos - Nardo, a Retrosaria Bijou, a Retrosaria Adriano Coelho e o British Bar.

Vasco Fonseca, da Pharmácia Teixeira Lopes, conta que se sentiram entusiasmados com a possibilidade de participar este ano. "Já tínhamos visto as iniciativas dos anos anteriores e achámos muito giro, por isso, assim que nos pediram entrámos logo." A montra esteve a cargo de Délio Jasse. Vasco Fonseca considera que a peça atrai o olhar das pessoas por ser diferente do que é esperado da montra de uma farmácia, "as pessoas param um bocado e acham estranho como é que isto está numa farmácia, mas têm gostado". "Acham giro, diferente", atira.

A Franco Gravador teve a montra a cargo de Odete. Dulce, a dona da loja, explica que quando lhe disseram que ia ser colocada uma obra de arte na montra da sua loja ficou reticente por ser um espaço muito pequeno, mas de depois não hesitou em concordar. No entanto, não considera que esta iniciativa sirva de chamariz para os clientes. "As pessoas não ligam", diz. Olhando para a obra, não tem dúvidas: "Eu pessoalmente gosto, sou muito básica, tenho de olhar para as coisas e não tenho meio termo: gosto ou não gosto."

Margarida Silva, da Primeira Casa das Bandeiras, destaca a relação agradável com o artista Horácio Frutuoso. "Foi muito agradável poder trabalhar com o Horácio. Ver as ideias que tinha e, além disso, poder também partilhar das mesmas ideias e ajudá-lo a concretizá-las." A loja aderiu ao projeto com muito gosto, "trata-se de dinamizar um pouco estas lojas com história e dar-lhes um pouco mais de vida e notoriedade, se assim se pode dizer". Margarida Silva diz que "a montra atrai o olhar das pessoas porque tende a ter, dentro da área de atuação da loja, muita coisa diversificada, pelo que assim obriga as pessoas a pararem um pouco para verem a diferença".

O British Bar teve a montra a cargo do artista Pedro Cabrita Reis, e Sara Carrilho conta que ficaram contentes por serem escolhidos. "Esta é uma casa privilegiada, já com história e, na realidade, quem escolheu o sítio onde iria expor foi o próprio Pedro Cabrita Reis. E para ele fazia todo o sentido que fosse aqui", explica. A participação nesta edição motiva o bar a pensar fazê-lo novamente no futuro. "Estamos sempre abertos a novas esculturas e práticas", garante a responsável pelo bar.

Este projeto nasceu durante o segundo confinamento, em 2021. "Sentimos uma grande frustração com o que estava a acontecer, não só a falta de trabalho que existia no meio cultural, como também ver a Baixa totalmente deserta", conta Joana Gomes Cardoso, presidente do Conselho de Administração da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa (EGEAC).

A ideia de chamar artistas plásticos para intervir em montras já aconteceu em Lisboa nos anos de 1920, 1930 e 1940, em formato de concurso, no qual participaram artistas como Maria Helena Vieira da Silva.

Tendo em conta a situação de saúde pública que se vivia na altura, a EGEAC decidiu utilizar esta ideia de outra forma. "Lembrámo-nos que a ideia da vitrina era boa, porque as pessoas poderiam visitá-las em segurança, apenas em passeio. Talvez fosse trazer alguma vida aquela zona da Baixa", explica Joana Gomes Cardoso. Na altura de abordar os lojistas, depararam-se com alguns que, embora não percebessem bem do que tratava este projeto, escolheram arriscar pois podia ser algo que iria "animar um pouco a situação que estava a ser vivida".

Do lado dos artistas foi mais fácil, pois esta era uma forma de gerar trabalho e rendimento. A EGEAC procurou apostar na diversidade de artistas. "Queríamos que fosse realmente representativo dos artistas da cidade."Os objetivos principais deste projeto passam por chamar a atenção para o património que estas lojas históricas representam na vivência e memória da cidade de Lisboa e, além disso, promover o trabalho artístico. Do ponto de vista dos artistas, uma das mais-valias do projeto é "a democratização e acessibilidade à arte".

Segundo a presidente executiva do Conselho de Administração da EGEAC, a maior parte dos lojistas pediram para participar em novas edições e têm sido os artistas os entusiastas do projeto. O desafio de montar uma obra num espaço pequeno como uma montra - e em alguns casos é mesmo bastante pequena -, e o facto de terem de interagir com um público que não é o deles, foram fatores que entusiasmaram estes artistas.

Joana Gomes Cardoso conta que no dia da inauguração desta terceira edição apareceram lojistas e artistas que participaram em edições anteriores. "Diria que se gerou aqui uma família que acompanha com muito carinho este projeto e isso é talvez o melhor reconhecimento de todos", frisou. Esta iniciativa vai estar nestas dez lojas históricas até dia 20 de maio.

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