Apostar na qualidade de vida no presente, para captar mais investimento no futuro

A aposta na qualidade de vida dos cidadãos, não só ao nível dos espaços verdes, mas também da reabilitação da frente ribeirinha e de uma aposta clara na cultura, tem sido essencial como motivo de atração para a captação de investimento, fixação do talento jovem e inversão da perda de população.
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A pandemia trouxe, pelo lado positivo, uma maior consciência e aproveitamento da cidade onde vivemos. No caso do Barreiro a palavra-chave, segundo Frederico Rosa, presidente da câmara municipal, é "qualidade de vida", e deu como exemplo a relação das pessoas com o espaço público que tem está em evidência durante a pandemia. A prova é que muitas pessoas passaram a visitar espaços que anteriormente não visitavam. E, agora, fazem-no em família.

Mas esta não é uma questão nova no Barreiro, lembra o presidente. A cidade já estava, antes da pandemia, em processo de reabilitação das frentes ribeirinhas, assim como na reabilitação de equipamentos. Aliás, "na reabilitação de todo o concelho". A consequência, afirma Frederico Rosa, é que hoje as pessoas têm uma relação mais próxima com estes espaços.

O teletrabalho - obrigatório durante o confinamento - fez que as pessoas valorizassem mais o espaço público e as zonas verdes. No fundo, refere Frederico Rosa, zonas onde podem ter qualidade de vida, quer seja em família ou a nível pessoal, "numa relação de proximidade com a sua cidade".

O presidente da Câmara Municipal do Barreiro afirmou mesmo que, "se nós tivermos uma qualidade de vida e um sítio que seja aprazível para as pessoas viverem, com certeza para as empresas e para os investimentos que vão surgir a montante vai fazer muito mais sentido fazê-lo onde, hoje, as pessoas estão com este panorama muito mais estabelecido". Isto inclui ter um bom custo de acesso à habitação, ter bons espaços verdes, ter cultura - "que é fundamental para o desenvolvimento económico" - assim como a atração de talento.

E se é certo que a pandemia trouxe dificuldades, também, como constatou Frederico Rosa, validou a direção estratégica do caminho que o Barreiro estava a seguir e confirmou que "é um caminho que não podemos abrandar". A pandemia provou a urgência de ter um equilíbrio entre a vivência, a qualidade de vida e a sustentabilidade, o que é fundamental para reter pessoas, para atrair novos moradores e "atrás do talento vem sempre o investimento e o desenvolvimento económico".

Mais do que validar o "caminho" a pandemia veio mostrar, na opinião de Frederico Rosa, que agora é a altura para "acelerar". Para o presidente da autarquia "este é o momento de não abrandar este caminho que estávamos a prosseguir, nesta envolvência de cidade, que engloba, obviamente, a autarquia e onde a Baía do Tejo é um parceiro fulcral para esta aliança de desenvolvimento e qualidade de vida".

A abertura ao Tejo traz mais do que apenas qualidade de vida. É igualmente essencial na atração de investimento para a região. Uma área que, referiu Sérgio Saraiva, membro do conselho de administração da Baía do Tejo, tem 230 hectares, o equivalente a 6% da área do concelho do Barreiro. E lembrou que o território já teve diversos nomes ao longo da sua história. Começou por ser as terras da CUF, a sua origem, dado que foi "o maior complexo fabril do século XX em Portugal e um dos maiores da Europa". A seguir ao 25 de Abril de 1974 transformou-se na Quimigal e mais tarde, nos anos 1990, na Quimiparque. Atualmente a zona é conhecida por Baía do Tejo e está "radicalmente" diferente da que existia.

A explicação, para Sérgio Saraiva, deve-se ao facto de os nomes anteriores estarem ligados a uma herança histórica de uma empresa química. A mudança de nome para Baía do Tejo deu-se quando a missão da empresa adquiriu uma maior valência. Além de gerir parques industriais, a atividade decorre da transformação que ocorreu quando passou de um parque fabril para um parque empresarial, que tem, atualmente, 242 empresas. E que decorre de todo o trabalho feito na reabilitação urbanística e ambiental feita no território e que, para Sérgio Saraiva, tem permitido atrair mais empresas para o parque.

"A mudança de Quimiparque para a Baía do Tejo permitiu focar - mas não só - na questão de parques empresariais, mas também na qualificação do território". O que se coaduna com a "nova" missão da Baia do Tejo, que passa pelo desenvolvimento sustentável do território, assente em três eixos: económico, ambiental e social. Eixos que não só não são incompatíveis como, pelo contrário, são complementares. "A Baía do Tejo se não investe na reabilitação ambiental do território não consegue ter a capacidade de atrair melhores e mais empresas." Isto porque "mais e melhores empresas exigem a requalificação do edificado e das infraestruturas". Um exemplo claro foi a conclusão, em 2019, da ligação da ETAR, que permitiu, pela primeira vez, o tratamento das áreas residuais da região. Investimento que permitiu que hoje as empresas possam, do ponto de vista ambiental, "ter condições para se instalarem".

Por outro lado, e do ponto de vista económico, a grande transformação, na opinião de Sérgio Saraiva, deu-se pela diversificação da atividade económica. E isso deu-se quando o território conseguiu transformar o que era uma indústria monofuncional. A diversificação dos usos permitiu atrair uma maior panóplia de empresas. Um exemplo claro, lembra o membro do conselho de administração da Baía do Tejo, é o cluster criativo. Depois de Vhils se ter ali instalado seguiram-se várias associações ligadas às artes criativas que também se mudaram para esta zona.

Mas essa não foi a única razão. Sérgio Saraiva lembrou a importância do projeto Barreiro, Cidade dos Arquivos. Os arquivos instalados na Baía do Tejo trazem "cultura para a cidade", auferindo história e entrando no terceiro eixo, da sustentabilidade social. Que, pelos arquivos instalados, vai para além do Barreiro. Um exemplo? O arquivo da Ephemera, o arquivo da Fundação Amélia de Mello, do grupo CUF, que era absolutamente imprescindível estar naquele território que viu nasceu o grande complexo, e o arquivo das Administrações dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra. Os três arquivos complementam-se (além do arquivo da Baía do Tejo e do arquivo municipal) e contam, na sua diversificação, a história daquele território, mas não só. "A importância que o Barreiro teve na história de Portugal, no século XX e que esta transformação do território, através da atração de mais atividade económica, depois da reabilitação urbanística e ambiental que está em curso, vai, com certeza, permitir ter mais e melhores empresas para que o Barreiro tenha o seu papel de relevo naquilo que é a economia em Portugal e que é um fator-chave do desenvolvimento sustentável".

"O Barreiro tem capacidade para ter qualidade de vida a todos os níveis", afirmou Rui Braga, vereador do Planeamento e Urbanismo, lembrando que um dos principais pontos que determinam a qualidade de vida é o acesso à saúde. À conta disso está a ser construído um centro de saúde novo "a expensas da autarquia". Tendo em conta o desenvolvimento económico da cidade, Rui Braga referiu que se quis transformar o potencial do Barreiro em algo materializável. E, com base no Regulamento de Incentivo ao Investimento e à Criação de Postos de Trabalho, a autarquia passou a dar benefícios fiscais e incentivos "em tudo aquilo que é a receita autárquica". O que se revelou "muito importante na captação de novas empresas", quer na Baía do Tejo quer no espaço do território que é gerido pela autarquia. Regulamento que já conta com o apoio de 100 milhões de euros, que resulta de uma receita que ronda dos 300 mil euros que a cidade não irá receber.

Entretanto vai ser inaugurada a start-up Barreiro, que tem uma particularidade: era um edifício que estava pensado para ser demolido. Agora vai ter todas as condições e alinhado com o Politécnico e com a Baía do Tejo vai permitir fixar o talento jovem na região. "Fechamos aqui um ciclo. Vamos buscar o conhecimento à universidade, incubamos e implementamos na cidade", reflete o vereador do Planeamento e Urbanismo.

Atratividade fiscal que torna o Barreiro mais agradável em relação a outros concorrentes da margem sul do Tejo. "Permite-nos falar com outras empresas, de outras dimensões, porque temos capacidade para isso". A expectativa é que o Barreiro, a muito curto prazo, tenha mais emprego e mais qualidade de vida.

Entre as várias vantagens da cidade está o facto de estar localizada a 15 minutos do Terreiro do Paço e o ter uma rede interna de transportes públicos tutelada pela autarquia. E é com estes bocadinhos todos que, na opinião de Rui Braga, se aumenta a qualidade de vida e se inverte o ciclo de perda de população.

A mobilidade da população é essencial ao desenvolvimento de uma cidade. Sobre isso Frederico Rosa considera que a criação do passe metropolitano foi um passo de gigante na Área Metropolitana de Lisboa e foi das medidas mais importantes da mobilidade que se tomaram nos últimos anos. Mas há um problema, na margem sul, que tem que ver com conceção estratégica: "Na margem sul todos os caminhos foram feitos para ir dar a Lisboa e regressar de Lisboa." O que faz que seja necessário, na margem sul, conseguir dar massa crítica e interligar os vários territórios. Um exemplo muito simples, mas paradigmático - para se ir do Barreiro para Almada, de transportes públicos, é mais fácil (diga-se rápido) apanhar o barco para Lisboa e depois, no Cais do Sodré, apanhar o barco para Almada. O que, na opinião do presidente da Câmara Municipal do Barreiro, não faz sentido nenhum. Continua a falhar a ligação entre os vários municípios. O que impossibilita a expansão do metro a toda a margem sul e que as estações de barco não sejam acessíveis a todos os concelhos. Apesar de estar a poucas centenas de metros da estação de barco do Barreiro, os barreirenses têm de andar 16 quilómetros de carro para chegar à estação de barco do Seixal. Há que pensar a mobilidade não apenas no sentido Lisboa-margem sul, mas na ligação interconcelhos, dando-lhes massa crítica e mobilidade entre eles.

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