Contentor cheio? Deposite no mais próximo”, lê-se no caixote do lixo próximo da Avenida de Roma, em Lisboa. Mas a mensagem não foi respeitada por todos os moradores daquela zona residencial. O lixo transborda pelo passeio junto aos contentores da rua. Caixas, papéis e sacos de todos os tamanhos são resquícios de uma noite de troca de prendas no Natal. Garrafas, sacos de lixo doméstico, roupas e calçado somam-se ao volume de entulho deixado no primeiro dia da greve dos trabalhadores da higiene pública. A paralisação foi convocada por duas entidades, o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL). Segundo o STML, o objetivo é “demonstrar a importância dos trabalhadores da Higiene Urbana”. O DN percorreu diversos pontos de Lisboa esta quarta-feira, como Alvalade, Graça, Lumiar, Telheiras e Areeiro, e registou a acumulação de lixo nas ruas. Mas há quem diga que o volume não está relacionado com a greve e é o normal da data. “Todos os anos é assim”, diz ao DN Filipa Monteiro, que vive no Bairro de Alvalade há oito anos. A moradora tem o cuidado de verificar se os contentores estão efetivamente cheios ou se algumas pessoas apenas preferiram não se dar ao trabalho de abrir a tampa, e despejar o lixo diretamente no passeio. Por outro lado, perante a greve, Filipa Monteiro acredita que nos próximos dias “pode ser pior”. Nos locais onde não há contentores, mas sim caixotes normais e mais pequenos, o lixo também está no passeio e à porta das casas. Hoje, foram decretados serviços mínimos para a recolha. Também na sexta-feira e no sábado os cantoneiros terão de fazer serviços mínimos, decretados pela Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP). Os profissionais terão de cumprir 71 circuitos diários de recolha de lixo, envolvendo 167 trabalhadores, entre cantoneiros e condutores de máquinas pesadas e veículos especiais. De acordo com o STML, em informações dadas à Lusa, os 167 profissionais representam “cerca de 1/3 do trabalho” que se realiza num dia normal. Já de domingo até dia 2 de janeiro não estão decretados serviços mínimos. A greve é justificada pelos sindicatos com a falta de respostas do presidente da Câmara, Carlos Moedas, perante as exigências da classe. Entre as críticas do STAL ao Executivo Municipal está o deficit de 208 trabalhadores (cantoneiros e condutores), 45,2% das viaturas essenciais estarem inoperacionais e 22,6% da força de trabalho da higiene urbana estar diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho. “Daí todas as semanas, se não todos os dias, ficarem por fazer inúmeros circuitos de remoção”, explica o sindicato. Os profissionais alegam estar “cansados de serem maltratados, acusados cínica e injustamente de todos os problemas que se vivem na higiene urbana da cidade”. Já a Câmara de Lisboa assegurou que o acordo celebrado em 2023 está a ser cumprido e tentou negociar com os sindicatos para que a greve fosse desconvocada, tendo mesmo apelado ao apoio dos 24 presidentes de junta de freguesia, mas sem sucesso. .Também foram criadas medidas para minimizar os efeitos da greve, nomeadamente contentores de obra, colocados em várias zonas da cidade e apelos aos moradores para a redução da produção de resíduos, especialmente de cartões e outros materiais volumosos. Segundo a CML, a produção média de lixo na cidade é de 900 toneladas diárias..Com LUSA*amanda.lima@dn.pt