Quando Simão Oliveira conquistou a Community Champions League, em 2022, “parecia um jogador da bola”: “Dei autógrafos, troquei camisolas com outras equipas. Foi uma experiência única, que levo para a vida”. Hoje com 20 anos, Simão é o capitão da equipa do Lisboa Futebol Clube, que esta segunda-feira foi homenageado por José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, na iniciativa Em Jogo pela Democracia.Simão fala com o DN antes de entrar no campo do Clube Atlético de Campo de Ourique (CACO) - onde o Lisboa Futebol Clube venceria o Grupo Desportivo Parlamentar (composto por funcionários da Assembleia da República) por 8-5. Por entre apitos dos árbitros e aplausos das bancadas durante o jogo entre as equipas da Polícia Municipal e das Águas do Tejo Atlântico (que os polícias venceram), Simão recorda o momento que viveu em Breda, em 2022: “Foi uma experiência nova, uma cena única. Nunca tinha estado assim fora do país a jogar. Foi um orgulho representar a cidade de Lisboa e toda a comunidade do nosso bairro.”O “bairro” que menciona é a Quinta do Loureiro (ex-Casal Ventoso), onde o Lisboa Futebol Clube está inserido. E onde Simão cresceu e ainda vive. Paredes-meias com o consumo e o tráfico de droga que assolam aquela parte da cidade, a zona “é um bocado complicada”, como reconhece Vítor Santos, atual presidente do clube. Há três anos, quando o Lisboa Futebol Clube se sagrou campeão europeu, Vítor Santos era diretor-desportivo. A missão, como explica, é “muito mais do que futebol”. Essa é também a missão da Community Champions League, que se foca em dar uma ocupação a jovens de zonas mais desfavorecidas de toda a Europa. “É um torneio que implica estar atento ao que se passa na sociedade, principalmente na zona onde moramos. Leva a que os jovens façam ações comunitárias e não vejam só como importante a prática desportiva, mas também deem valor em fazer bem à sociedade em que estão inseridos”, diz o responsável..Não obstante “o contexto difícil”, como refere o próprio dirigente, “os miúdos estão sempre disponíveis a mudar uma ou outra situação que esteja menos mal e sempre com disponibilidade para ajudar o próximo”.As dificuldades fazem sentir-se também “ao nível desportivo”. “Pecamos por não ter, basicamente, infraestruturas para evoluir e jogar. Jogamos num recinto, na Quinta do Loureiro, que não é coberto, tem as dimensões mínimas e temos grande dificuldades em jogar quando chove, como aconteceu na passada quinta-feira. É o que temos”, lamenta Vítor Santos.Apesar das adversidades, o Lisboa Futebol Clube triunfa no futsal. Na verdade, Miriam, uma das raparigas que competiu em 2017, “acabou nas camadas jovens do Benfica”, onde ainda joga atualmente.O desporto como forma de inclusão socialApós o encontro entre o Lisboa Futebol Clube e o Grupo Desportivo Parlamentar, José Pedro-Aguiar Branco afirmou, num breve discurso, que “nunca é tarde” para homenagear quem representa bem Portugal. Referindo que atualmente “a democracia está em jogo” e, com isso, “o respeito pelas diferenças com o respeito do outro é hoje muito desafiante”.Em declarações ao DN, o presidente da Assembleia da República assinalou depois a importância deste tipo de iniciativas. Primeiro, para aproximar a política dos cidadãos - “era uma das prioridades do mandato”, recorda - e, depois, como forma de combater a exclusão social. “É muito importante haver essa ideia de inclusão. E mostra que, quando se joga com fair-play, com respeito pelas regras e com desportivismo, o melhor vence sempre”, sublinhou. E devem estes conselhos ser levados para a política? “Para a política e não só. Para a vida. Se aprendermos a estar com a diferença e a respeitar o outro, a sociedade será também ela melhor e mais justa”, disse a segunda figura do Estado.