Um furacão impediu o líder ucraniano de apresentar o seu “plano de vitória” aos aliados no sábado. O presidente norte-americano cancelou a viagem à Alemanha, onde iria presidir à reunião do grupo de contacto para a defesa da Ucrânia, na base aérea de Ramstein, para poder acompanhar os trabalhos de apoio à população da Florida, atingida pela tempestade Milton. Volodymyr Zelensky não quis perder o embalo, concluindo hoje em Berlim uma viagem que o levou a Londres, Paris e Roma com o objetivo de convencer os parceiros da necessidade de não esmorecer o apoio. Kiev pretende levar a cabo uma segunda cimeira da paz e teme pela unidade dos aliados tendo em linha de conta a hipótese de os EUA virem a ter Donald Trump de novo na Casa Branca. O momento é delicado. A Ucrânia teme perder apoio financeiro e militar em 2025 caso a Alemanha não mude de ideias - vai cortar a ajuda em 50% - e caso o candidato republicano vença as eleições norte-americanas de 5 de novembro. Tendo a base de dados Ukraine Support Tracker como ferramenta, uma estimativa realizada pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial prevê que a ajuda financeira e militar dos aliados poderá cair quase para metade em 2025, de cem mil milhões de euros para 55 mil milhões, num cenário em que Trump fecharia a torneira, Berlim mantinha o seu plano e os restantes países seguiriam a tendência de austeridade. A ajuda não se limita aos fundos. Depois de já o ter feito a Joe Biden na última visita a Washington, Zelensky quis apresentar in loco a sua visão para alcançar os objetivos militares imprescindíveis para levar a Rússia à mesa de negociações. Sabe-se que algumas das metas do plano passam pelo redobrar do apoio à defesa aérea, de convencer os doadores a poder usar as suas armas em solo russo ou de ter garantias de vir a fazer parte da NATO. Na véspera, presente numa cimeira com líderes de países do leste, na Croácia, o líder ucraniano disse que o “plano de vitória” tem como objetivo reforçar o seu país “tanto geopoliticamente como no campo de batalha” antes de qualquer tipo de diálogo com a Rússia. “A fraqueza de qualquer um dos nossos aliados irá inspirar Putin. É por isso que lhes pedimos que nos reforcem, em termos de garantias de segurança, em termos de armas, em termos do nosso futuro depois desta guerra. Na minha opinião, ele [Putin] só entende a força”, considerou. No mesmo dia, em Ancara, o embaixador ucraniano Vasyl Bodnar delineou as linhas gerais do que o plano prevê até ao final do ano em termos diplomáticos: “Não se tratará de uma reunião bilateral direta, será muito provavelmente num formato em que terceiros também estão envolvidos e [as conversações] são feitas através de terceiros”, disse, tendo ainda adiantado que conta com a Turquia para o papel de mediador. .Keir Starmer (ao centro) recebeu Volodymyr Zelensky e Mark Rutte em Downing Street. (EPA/Chris J. Ratcliffe / POOL).Zelensky iniciou o dia em Londres, onde foi recebido pelo primeiro-ministro inglês, Keir Starmer, e pelo gato residente em Downing Street, Larry. Não há notícia de que o felídeo tenha participado na reunião que incluiu o secretário-geral da NATO, Mark Rutte. No final, o ex-primeiro-ministro neerlandês voltou a defender a legalidade de eventuais ataques a alvos militares na Rússia, mas desvalorizou o debate. “Não nos concentremos num único sistema de armas. Não será um sistema de armas que fará a mudança. Compreendo o que Zelensky está a pedir, mas, ao mesmo tempo, ele também concorda que há uma questão mais ampla a ser debatida para garantir que prevaleçam”. Também o porta-voz de Starmer disse que “nenhuma guerra foi alguma vez ganha com uma única arma” - uma declaração que ignorou o uso de bombas atómicas no Japão por parte dos EUA. A questão nuclear voltou a estar na ordem do dia, com a recente mudança da doutrina russa. Rutte aproveitou para anunciar a realização de um exercício nuclear (sem munições) da NATO, a começar na segunda-feira. “Enviamos uma mensagem clara aos nossos adversários de que estamos prontos para responder a qualquer ameaça”, afirmou. De Londres, Kiev recebeu a indicação de que vai obter até ao final do ano sistemas de artilharia AS-90 em “quantidade significativa”. Em Paris, Zelensky foi recebido no Eliseu pouco depois de Emmanuel Macron ter publicado nas redes sociais a sua visita a uma base onde militares franceses estão a formar 2300 soldados que irão constituir a brigada Ana de Kiev (num total de 4500 militares), integralmente equipada com material bélico francês. Depois de ter terminado a quinta-feira reunido com a italiana Giorgia Meloni, o circuito europeu de Zelensky encerra esta sexta-feira na Alemanha com uma reunião com o chanceler Olaf Scholz, depois de uma audiência matinal com o Papa Francisco no Vaticano. cesar.avo@dn.pt