Quando foi libertada pelo Hamas após 16 dias em cativeiro na Faixa de Gaza, Yocheved Lifshitz foi filmada a apertar a mão de um dos terroristas e a dizer “shalom” (paz, em hebraico). A octogenária e o marido, Oded Lifshitz, eram veteranos pacifistas e ativistas dos direitos humanos que costumavam transportar palestinianos doentes para receberem cuidados médicos em Israel. Esta terça-feira, Yocheved pôde despedir-se finalmente de Oded, cujo corpo foi entregue na semana passada pelo Hamas.“O nosso rapto e a tua morte abalaram-me profundamente”, disse Yocheved no funeral do companheiro dos últimos 67 anos, no kibbutz de Nir Oz de que foram fundadores. “Lutámos durante todos estes anos pela justiça social, pela paz. Para minha tristeza, fomos atingidos por um ataque terrível por parte daqueles que ajudámos do outro lado”, acrescentou, citada pelo site The Times of Israel, prometendo que continuará a lutar para garantir a libertação de todos os reféns. “É possível trazer todos de volta agora, numa única troca.” Centenas de pessoas estiveram presentes na última homenagem a Oded, que tinha 83 anos quando foi sequestrado com a mulher nos ataques de 7 de outubro de 2023 (nos quais cerca de 1200 pessoas morreram e cerca de 240 foram feitas reféns). O seu corpo foi devolvido na semana passada pelo Hamas, com as autoridades israelitas a dizer que foi morto pela Jihad Islâmica nos primeiros meses de cativeiro. “Como presidente e em nome do Estado, digo a Oded, Yocheved e à família, lamentamos. Lamentamos que o Estado de Israel não o tenha defendido a si e à sua família. Lamentamos que tenha sido forçado a enfrentar monstros humanos sozinho. Lamentamos não o termos conseguido salvar”, disse Isaac Herzog, repetindo o pedido de desculpas que já tinha feito no dia em que os corpos de Oded e das duas crianças da família Bibas foram devolvidos. O presidente pediu ainda uma comissão oficial de inquérito ao que aconteceu a 7 de outubro de 2023.Esta quarta-feira, os israelitas voltam a estar de luto com os funerais da família Bibas - Shiri (cujo corpo foi inicialmente trocado pelo Hamas e só devolvido um dia depois dos filhos), Ariel e Kfir. O primeiro tinha 4 anos quando foi raptado, nos braços da mãe de 32 anos, o segundo apenas nove meses. Segundo as autoridades israelitas, ambos foram brutalmente assassinados pelo grupo terrorista palestiniano em novembro de 2023 e não morreram num bombardeamento israelita, como o Hamas alegou logo nessa altura. O pai da família, Yarden, foi libertado com vida já este mês. Os três serão sepultados também em Nir Oz, numa cerimónia privada para a qual não foram convidados políticos, mas a eulogia será pública e terá transmissão em direto. São esperadas milhares de pessoas no cortejo fúnebre, com o fórum dos reféns a pedir aos israelitas que levem bandeiras de Israel. Outras quatro famílias esperam por mais quatro corpos de reféns, não sendo ainda claro quando serão entregues pelo Hamas. A previsão inicial era de que seriam entregues esta quinta-feira, mas a suspensão da libertação de cerca de 600 prisioneiros palestinianos após o grupo terrorista ter libertado seis reféns com vida no sábado pode complicar as coisas. Israel exige que o Hamas deixe de transformar em espetáculo as libertações de reféns, estando alegadamente a negociar a troca dos quatro pelos 600. Entretanto, o enviado do presidente norte-americano ao Médio Oriente, Steve Witkoff, já não vai chegar esta quarta-feira, como previsto, a Israel. A primeira fase do acordo de cessar-fogo termina no sábado, com EUA e Israel a pressionar o Hamas para um prolongamento - não tendo ainda negociado a segunda fase que implica, alegadamente, a retirada total de Israel da Faixa de Gaza..Hamas vai entregar esta quarta-feira quatro corpos de reféns sem cerimónia pública