Vento de leste anima conservadores alemães

Reforço significativo da CDU no último escrutínio regional antes das parlamentares trava ambições da extrema-direita e dos Verdes.
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Ao contrário do que previam as sondagens, a União Democrata Cristã (CDU) obteve uma esclarecedora vitória no estado da Saxónia-Anhalt, um resultado que deixa o partido de Angela Merkel em dinâmica de vitória para as eleições de setembro. Razões para festejar também entre os liberais, que voltam ao parlamento regional, com sede em Magdeburgo. E podem ambicionar entrar na coligação regional como uma espécie de ensaio para as eleições parlamentares.

Em sentido oposto, da extrema-direita à esquerda a eleição não deixa boas recordações, apesar do alívio com que todas as restantes forças políticas viram a derrota da alternativa para a Alemanha (AfD), o partido nacionalista de extrema-direita que se encontrava em empate técnico com a CDU nas sondagens, e que acabou por ter pior resultado do que em 2016, ao cair 3,4 pontos percentuais.

"Claro que isto levanta as nossas velas para Berlim", comentou o líder parlamentar da CDU Ralph Brinkhaus à estação pública ARD. O deputado conservador lembrou que o sucesso de 2017 também tinha sido precedido, meses antes, por outra vitória regional inesperada, no caso no Sarre. A CDU ganha ânimo com o vento de leste, perante a incerteza de se apresentar a eleições sem a grande personagem política da Alemanha na última década e meia, Angela Merkel.

As dificuldades em encontrar um sucessor ficaram à vista quando Annegret Kramp-Karrenbauer lhe sucedeu na liderança do partido, em 2018, e que acabou por demitir-se na sequência das eleições na Turíngia, devido a um acordo com o AfD, mais tarde rescindido. Perdeu-se uma "mini-Merkel", como foi apodada pelos media alemães, mas a CDU traçou em definitivo as linhas vermelhas para com o populismo de extrema-direita.

Foi exatamente ao dramatizar o discurso que o ministro-presidente Reiner Haseloff conseguiu não só ser reeleito mas também registou um crescimento de 7,4 pontos percentuais, o que valeu a eleição de 40 deputados estaduais, mais 10 do que nas eleições anteriores. Haseloff passou os últimos dias da campanha eleitoral a afirmar que a AfD ficaria fortalecida com todo e qualquer voto que não fosse na CDU. "Um baluarte contra o extremismo", foi como o novo líder da CDU Armin Laschet classificou o seu partido que concorre com o irmão bávaro CSU. "Este é um bom dia para a CDU e para a democracia na Alemanha", completou.

Há quem relembre que transpor o resultado de eleições regionais para nacionais é um exercício pouco rigoroso. Neste caso, recordam, Haseloff superou a crise da pandemia com nota positiva, ao contrário do governo federal, em especial o ministro da Saúde Jens Spahn, ou outras figuras do partido apanhados em negócios pouco claros de venda de máscaras de proteção. E que Laschet, de 60 anos, ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália, ainda tem de fazer o seu caminho para convencer o eleitorado de que é a escolha para suceder à Mutti Merkel ("mamã Merkel", forma carinhosa como parte dos alemães tratam a chanceler).

Por exemplo, se a CDU recebeu 37,1% de votos na Saxónia-Anhalt, à empresa de estudos de opinião Infratest apenas 18% dos eleitores deste estado oriental consideram que Laschet é uma boa escolha para chanceler, ficando abaixo dos candidatos do SPD, Olaf Scholz, e dos Verdes, Annalena Baerbock.

Os Verdes, no entanto, já se apresentaram mais fortes nas urnas e nas sondagens. Na mais recente, realizada pela empresa Forza para a RTL e ntv, a CDU/CSU ganha um ponto e os Verdes perdem outro, pelo que se as eleições fossem agora, os primeiros teriam 25% e os segundos 24%. Já quando perguntados em quem votaria para chanceler, Baerbock recebe 24% das respostas, Laschet 19% e Scholz 14%. Uma perda significativa para a líder dos Verdes. Há cinco semanas, quando foi confirmada como a candidata à chancelaria, obteve 32% das preferências.

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Além do mais, o resultado na Saxónia-Anhalt também foi dececionante, ao aumentar apenas de 5,2% para 5,9%, quando as sondagens previam duplicar a votação. Baerbock admitiu que os resultados não foram o esperado e admitiu que "algumas das mensagens sobre proteção climática não conseguiram chegar aos eleitores". Os Verdes defenderam a introdução de um imposto nos combustíveis de 16 cêntimos por litro.

Baerbock, de 40 anos, já experimentou os primeiros reveses que beliscaram a sua imagem. No mês passado anunciou que não tinha declarado ao Parlamento cerca de 25 mil euros em rendimentos suplementares. O diário Frankfurter Allgemeine Zeitung também apontou imprecisões em cargos no seu currículo, o que levou a líder a corrigir o cv no site dos Verdes. Argumentos para os seus adversários usarem, tendo em conta que é a candidata de um partido defende mais transparência na política.

Certo é que Laschet recebeu um "presente inestimável", como escreveu a Spiegel. "Ainda está muito longe do gabinete de chanceler", disse o Sueddeutsche Zeitung. Mas o resultado da votação levou-o "para muito mais perto".

cesar.avo@dn.pt

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