O presidente norte-americano, Donald Trump, mostrou-se esta terça-feira irritado por as armas iranianas e israelitas não se terem calado como previsto no cessar-fogo que anunciou na segunda-feira à noite -- de surpresa, poucas horas após Teerão ter retaliado (de forma ensaiada) ao ataque dos EUA. A frustração era com o Irão, mas principalmente com Israel, que acusou de ter “despejado” as bombas logo depois do seu anúncio numa mensagem na Truth Social e de ter reagido de forma exagerada depois da aparente violação do cessar-fogo do lado iraniano.“Parabéns mundo. É hora da paz”, começou por dizer Trump na sua rede social às 21h00 de segunda-feira em Lisboa, para duas horas depois anunciar que Israel e Irão tinham chegado a acordo para um cessar-fogo “completo e total”. .Por explicar estão ainda as condições que ambos aceitaram, nomeadamente se Teerão e Washington vão voltar a sentar-se à mesa para negociar um novo acordo nuclear e o que vai acontecer aos quilos de urânio enriquecido a 60% que o Irão tem e que os especialistas duvidam que tenham sido destruídos nos ataques - de Israel ou dos EUA. O anúncio de Trump foi feito já madrugada no Médio Oriente, com a indicação de que o cessar-fogo entrava em vigor seis horas depois (gerando alguma confusão por dizer que primeiro seria Irão a parar e Israel só o faria mais tarde) e “a guerra dos 12 dias” acabaria ao fim de 24 horas. Tanto iranianos como israelitas demoraram a confirmar que tinham aceitado a proposta. Trump voltaria à Truth Social já às 6h00 (uma hora após o previsto) para dizer que o cessar-fogo tinha começado. “Por favor não o violem”, escreveu em maiúsculas. . Mas os mísseis continuavam a cair de ambos os lados. Um dos últimos lançados pelo Irão ainda antes do final do prazo (terá lançado 20), atingiu um edifício de apartamentos de sete andares em Beersheba, no sul de Israel, matando pelo menos quatro pessoas. Em Teerão as explosões também não cessavam - as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disseram ter atingido dúzias de alvos militares com mais de cem munições. Trump não gostou. “Assim que fizémos o acordo, eles [Israel] lançaram uma carga de bombas. Nunca vi nada assim antes. A maior carga que já vimos. Não estou feliz com Israel”, disse o presidente já de manhã, antes de embarcar no Air Force One com destino a Haia, para a cimeira da NATO. Acusando depois tanto o Irão como Israel de terem violado o cessar-fogo, Trump estava de tal forma irritado que não hesitou em dizer uma asneira diante dos jornalistas e das câmaras para alegar que os dois países já estão a lutar há tanto tempo que “já não sabem o que f*** estão a fazer.”.Trump falava já depois de Israel acusar o Irão de uma “violação grave do cessar-fogo”, com o lançamento de pelo menos três mísseis após o início da trégua, e prometer “responder com força”. Teerão negou ter violado o cessar-fogo, mas os caças israelitas já estariam a caminho de novos alvos. “Vou ver se o consigo parar”, disse o presidente aos jornalistas. “Tenho que fazer com que Israel se acalme”, indicou, admitindo que os ataques iranianos podem não ter sido “intencionais” (mas sinal de que o regime não tem o controlo do país).“Israel. Não lances essas bombas. Se o fizeres é uma grande violação. Traz os pilotos para casa”, escreveu entretanto em maiúsculas na Truth Social. .Depois de um telefonema com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou que não haveria um ataque e que os caças iriam apenas fazer um “aceno” ao Irão e que ninguém ficaria ferido. As IDF acabaram por atingir apenas um radar perto de Teerão, com Netanyahu alegadamente (segundo o site Axios) a dizer a Trump que não podia cancelá-lo totalmente depois da violação do cessar-fogo do Irão. Nobel da Paz?O presidente norte-americano não esconde o seu desejo de receber o Nobel da Paz (partilhou na Truth Social a nomeação de uma congressista republicana) e arriscou quando envolveu diretamente os EUA na guerra, bombardeando três instalações nucleares iranianas. O sucesso dessa operação na destruição do programa nuclear é incerto, mas Trump gritou vitória, tal como quando o Irão lançou os seus mísseis contra as bases norte-americnas no Qatar - mas avisou antes, para evitar qualquer escalada do conflito. E mesmo com o cessar-fogo frágil, continua a gritar vitória. “Tanto Israel como o Irão queriam parar a guerra, igualmente. Foi uma grande honra destruir todas as capacidades e instalações militares [do Irão] e depois parar a guerra!”, escreveu Trump, que além do arquiteto do cessar-fogo parece ter-se tornado também no seu polícia quando conseguiu que Israel pusesse um travão à sua retaliação..O discurso de vitória não é apenas de Trump. À sua maneira, tanto Irão como Israel podem passar a narrativa de que venceram - o que ajuda na hora de desescalar a situação no terreno. O Irão, que já não controla os seus céus, respondeu ao ataque dos EUA com o seu próprio contra-ataque. “Avisamos os nossos inimigos que a era de atacar e fugir acabou”, disse um porta-voz das Forças Armadas iranianas, num discurso televisivo. Não importa que Teerão tenha avisado o Qatar e os EUA de que ia atacar e que todos os seus mísseis tenham sido intercetados. A ideia era não chatear muito os norte-americanos e levá-los a pressionar Israel a recuar. Do lado israelita, Netanyahu pode dizer que atingiu os objetivos da guerra - eliminar a ameaça nuclear (Israel alegou que o Irão estava à beira de ter várias bombas) e a do programa de mísseis balísticos. Além disso, as IDF eliminaram uma dezena de cientistas ligados ao nuclear e vários líderes militares, além de terem destruído várias infraestruturas do regime. “Este é um grande sucesso para o povo de Israel e os seus combatentes, que removeram duas ameaças existenciais ao nosso país e garantiram a eternidade de Israel”, indicou o gabinete do primeiro-ministro.