O cessar-fogo entre Israel e Irão mantém-se, mas a dúvida persiste sobre qual foi o verdadeiro impacto dos bombardeamentos norte-americanos às três instalações nucleares iranianas. O presidente dos EUA, Donald Trump, fala em negociações com Teerão “na próxima semana” e insiste que o programa nuclear foi “obliterado” no ataque, apesar de um relatório preliminar dos seus serviços de informação dizer que talvez só tenha sido atrasado “uns meses”. Israel fala em “vários anos”, mas especialistas estão céticos.“Vamos falar com eles na próxima semana, com o Irão. Podemos assinar um acordo. Não sei”, disse Trump numa conferência de imprensa em Haia, após a Cimeira da NATO. “Para mim não acho que seja assim tão necessário”, acrescentou, reiterando que a única coisa que quer é que eles não tenham um programa nuclear. “Mas nós destruímos o nuclear”, sublinhou, comparando os bombardeamentos dos EUA contra o Irão ao lançamento das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui na II Guerra Mundial. “Não quero usar o exemplo de Hiroxima, mas foi essencialmente a mesma coisa. Acabou com a guerra.”Mas a avaliação de Trump sobre a destruição no Irão vai contra aquilo que estará no relatório preliminar da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, que segundo as fontes da CNN e do jornal The New York Times diz que os bombardeamentos norte-americanos só atrasaram o programa nuclear alguns meses. Isto porque, em Fordo, só estariam bloqueadas as entradas - as instalações, a metros de profundidade, não colapsaram - e porque o urânio enriquecido terá sido removido antes.Trump disse que o relatório era “inconclusivo”, mas insistiu que o programa foi atrasado “décadas” e reiterou a ideia de que as instalações nucleares iranianas foram “obliteradas” (expressão que usou logo no dia do ataque). Além disso, acha que o Irão não teve tempo de tirar o urânio de Fordo porque os EUA agiram rapidamente. “Levaria duas semanas, talvez, é muito difícil remover esse tipo de material e muito perigoso”, informou.O secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, saiu em apoio do presidente, dizendo que os iranianos regressaram à mesa de negociações “imediatamente” precisamente “porque as suas capacidades nucleares foram reduzidas para além do que pensavam ser possível, graças à coragem” de Trump.O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, partilhou o relatório da Comissão de Energia Atómica de Israel, segundo o qual o ataque com as bombas “destruidoras de bunkers” destruiu as instalações de Fordo e “tornou inoperável a central de enriquecimento” de urânio. “Avaliamos que os ataques americanos às instalações nucleares iranianas, combinados com os ataques israelitas a outros elementos do programa nuclear iraniano, atrasaram em muitos anos a capacidade do Irão de desenvolver armas nucleares.”O próprio Irão admitiu que as suas instalações nucleares foram “muito danificadas” pelos ataques. “Isso é certo, porque foram alvo de repetidos ataques”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Esmail Baghaei, numa entrevista à Al-Jazeera, recusando dar mais pormenores.“Solução a longo prazo”O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, admitiu que os danos em Fordo devem ser “muito significativos” - mas lembrou que o Irão disse que tomaria “medidas especiais” para proteger o urânio enriquecido a 60% que lá tinha armazenado. Grossi rejeitou a ideia de avaliar os danos ao programa nuclear iraniano em termos dos meses necessários para a reconstrução, lembrando que o que é necessária é uma solução a longo prazo.“De qualquer forma, o conhecimento tecnológico e a capacidade industrial estão lá. Isso ninguém pode negar. Por isso, precisamos de trabalhar em conjunto com eles”, disse o diretor da agência das Nações Unidas. Grossi explicou que a sua prioridade era o regresso dos inspetores às instalações nucleares iranianas, já que essa é a única forma de descobrir precisamente em que estado estão. Teerão, que sempre negou querer uma arma nuclear, ameaçou contudo suspender a colaboração com a AIEA e não deixar entrar mais inspetores..Diretor da CIA garante que instalações militares do Irão foram "severamente danificadas".Será o cessar-fogo o fim da ideia de "mudança de regime" e "Tornar o Irão Grande de Novo"?