Trump exagera sucesso económico no comício dos 100 dias no poder e avisa: "Acabámos de começar"
O presidente norte-americano, Donald Trump, assinalou os 100 dias no poder com um comício no Michigan, ao estilo da campanha eleitoral, onde exagerou nos números da economia e voltou a atacar a anterior administração de Joe Biden.
"Tínhamos a melhor economia na história do nosso país", disse Trump em relação ao seu primeiro mandato (2017-2021). "Estivemos ótimos e estamos melhores agora", acrescentou, avisando que "acabámos de começar" e "ainda não viram nada".
As questões económicas foram uma das razões que levaram Trump à vitória em novembro, mas desde a tomada de posse a 20 de janeiro que que os eleitores estão preocupados com o rumo da política do presidente.
Trump disse diante dos cerca de dois mil apoiantes que a sua Administração levou a cabo "a mudança mais profunda em Washington em cerca de 100 anos", num discurso que parecia um comício de campanha. Ao seu redor, cartazes falavam numa "Golden Age", Era Dourada.
Nos dados económicos, o presidente exagerou contudo nalguns números - como nos combustíveis ou no preço dos ovos.
Em relação ao primeiro, lembrou que a gasolina estava a quatro dólares antes de ele regressar à Casa Branca e agora está nos 1,98 em muitos estados. Contudo, segundo a AP, o preço mais baixo é de 2,67 dólares, no Mississipi. A média nacional é de 3,13 dólares.
Trump alegou ainda que, nos últimos 100 dias, o preço dos ovos caiu 87%. A AP diz que os preços caíram significativamente, mas não ao valor que o presidente alega: a queda foi de 67% - dos 8,17 dólares por uma dúzia a 3 de março (o valor mais alto) para os 2,92 dólares a 26 de março.
O presidente disse ainda que está a acabar com o "pesadelo" da inflação, mas esta já estava em queda ainda antes de regressar à Casa Branca. Em dezembro era de 2,9% (chegou a ser de 9,1% em junho de 2022) e em março tinha caído para os 2,4%.
No discurso, Trump voltou a atacar o presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, reiterando que não está a fazer um bom trabalho, e insistiu para que o Congresso aprove um corte nos impostos que, segundo os analistas, poderá acrescentar biliões à dívida pública (36,6 biliões de dólares).
Mais cedo, o presidente tinha assinado uma ordem executiva a suavizar as tarifas no setor automóvel - o comício foi em Macomb, numa região onde as três grandes empresas automóveis norte-americanas têm fábricas (General Motors, Ford e Stellantis). Mas alegou que as tarifas são a "tábua de salvação económica" do estado do Michigan.
Numa sondagem Reuters/Ipsos, conhecida no domingo, 42% dos inquiridos disseram aprovar a atuação de Trump até agora, com 53% a desaprovar. Em janeiro, 47% aprovavam. Em relação à economia, só 36% dos inquiridos deram nota positiva ao presidente.
Trump disse que as sondagens que apontam para uma queda na sua popularidade são "fake news", notícias falsas.
Mas o discurso não se focou só na economia, tendo Trump falado ainda na imigração - tendo conseguido uma queda recorde nas entradas de ilegais pela fronteira sul. Em março, os agentes de fronteira detiveram 7200 migrantes a entrar ilegalmente, o número mais baixo num mês desde 2000 e longe do recorde de 250 mil em dezembro de 2023.
Depois de anos em que outros presidente norte-americanos "enviaram o vosso dinheiro para defender as fronteiras de nações estrangeiras longínquas" e lutar por outros países, "finalmente há um presidente que defende as nossas fronteiras e a nossa nação".
Trump, em guerra com a justiça, atacou também os juízes. "Esta gente só procura destruir o nosso país. Nada travará a minha missão de manter os EUA seguros de novo", afirmou, alegando que os juízes são "comunistas e radicais de esquerda" e estão a tentar tirar-lhe o poder.
Elogio a Musk
O presidente elogiou ainda Elon Musk, o milionário dono do X, da Tesla e do Space X que escolheu para liderar um novo departamento de eficácia governamental (DOGE, na sigla em inglês), dizendo que ele já permitiu poupar 150 mil milhões de dólares em "fraude e abusos".
"É um tipo incrível, um grande norte-americano, ama o nosso país, ama-vos e pagou caro por ajudar, mas tenho um pressentimento que vai acabar por ser bom para ele", afirmou, referindo-se às críticas que Musk tem recebido e aos ataques contra pontos de venda de carros da Tesla.
Depois de perdas de lucros nesta empresa, Musk anunciou que vai reduzir a sua presença em Washington no final de maio.