Trump elogia Bukele que recusa devolver imigrante deportado por "erro"
Se há um líder internacional que pode considerar-se “amigo” de Donald Trump é Nayib Bukele - ou “presidente B” como foi tratado pelo inquilino da Casa Branca antes de chegar esta segunda-feira a Washington. O presidente de El Salvador caiu nas boas graças do norte-americano depois de ter acolhido “alguns dos mais violentos inimigos estrangeiros” dos EUA na sua prisão - e Trump disse-lhe que vai continuar a enviar “tantos quantos puder”. Em sintonia com a Administração, Bukele deixou esta segunda-feira claro que não pretende devolver um salvadorenho que os EUA admitiram ter deportado por erro.
Desde março, El Salvador já deteve na sua famosa prisão de máxima segurança mais de 200 imigrantes (a maioria venezuelanos) expulsos pelos EUA ao abrigo de uma lei do tempo da Guerra Civil sobre inimigos estrangeiros. A Administração Trump acusa-os de serem membros de gangues violentos, nomeadamente o Tren de Aragua ou o MS-13 (ambos na lista de grupos terroristas).
O próprio Bukele, que tomou posse em junho de 2019 e já foi reeleito para mais um mandato em 2024, lidou com o problema dos gangues detendo mais de 84 mil pessoas em três anos no Centro de Confinamento do Terrorismo (que construiu para albergar 40 mil presos). “Tem feito um trabalho fantástico”, elogiou o presidente norte-americano na Sala Oval, ignorando tal como na véspera as críticas que existem em relação às condições de detenção dos reclusos.
“Eles às vezes dizem que prendemos milhares. Eu gosto de dizer que libertámos milhões”, afirmou Bukele, com Trump a defender que era uma boa frase e a perguntar se a podia usar. “Você tem 350 milhões de pessoas para libertar. Mas para libertar 350 milhões de pessoas, tem que prender algumas”, insistiu o líder de El Salvador, dizendo-se “desejoso de ajudar” os EUA na sua luta contra “o crime e o terrorismo”.
Ao abrigo do acordo assinado entre os dois países, os EUA vão pagar cerca de seis milhões de dólares a El Salvador pela detenção, durante um ano, de cerca de 300 imigrantes. Esta segunda-feira, Trump disse que irá mandar “tantos quantos puder” para lá, não afastando a hipótese de poder até enviar cidadãos norte-americanos “muito maus” - indicando que a Administração está a estudar as leis para o fazer.
Mas entre os alegados criminosos já enviados para El Salvador, está pelo menos um homem que a Administração admitiu que foi deportado por “erro administrativo”. E que recusa que volte aos EUA, apesar de os tribunais terem dado essa ordem. Em causa está Kilmar Armando Abrego Garcia, um salvadorenho que vivia no Maryland legalmente com uma autorização de trabalho, casado com uma norte-americana e com três filhos.
Garcia foi deportado no terceiro avião enviado a 15 de março para El Salvador, apesar de uma ordem da justiça, de outubro de 2019, lhe garantir proteção de uma eventual deportação. A Administração Trump admitiu o erro, mas recusa revertê-lo, mesmo com uma ordem do Supremo Tribunal que diz que deve “dar passos para o regresso” deste imigrante. A Administração, que insiste que ele é membro do MS-13 (nunca foi acusado disso), defende que só El Salvador é que pode decidir se envia ou não e que o tribunal só disse que Washington tinha que facilitar os meios para isso ser feito.
Mas Bukele deixou claro que não o vai devolver, alegando que isso seria equivalente a “traficar” um “terrorista” para os EUA. E garantiu também que não o vai libertar em El Salvador, que disse ser hoje o país mais seguro do Hemisfério Ocidental (1,9 homicídios por cem mil habitantes no final de 2024), depois de há uns anos ser a “capital dos homicídios” do mundo” (90 por cem mil habitantes em 2015).