Trump e Musk deixaram os EUA à beira do 'shutdown' mas culpam os democratas

Os EUA estão a ter, por estes dias, uma antevisão do que poderá acontecer a partir de 20 de janeiro. Uma proposta para evitar o shutdown, que tinha o apoio bipartidário na Câmara dos Representantes, caiu por terra depois de ter sido inicialmente criticada no X pelo milionário Elon Musk - braço direito do presidente-eleito Donald Trump. Uma alternativa, feita à pressa e com o aval do próximo inquilino da Casa Branca, foi chumbada e o prazo para evitar o fim do financiamento do governo federal terminava na madrugada deste sábado (hora de Lisboa)..“Se vai haver um shutdown que comece agora, sob a Administração de [Joe] Biden (...). Este é um problema para Biden resolver, mas se os republicanos puderem ajudar a resolvê-lo, vão fazê-lo”, escreveu o republicano na sua Truth Social, descartando qualquer culpa. “Isto não é para o presidente resolver”, respondeu a Casa Branca. “Os republicanos precisam de corrigir a confusão que causaram”, acrescentou a porta-voz, Karine Jean-Pierre..“Bem-vindos de volta ao pântano MAGA”, escreveu na rede social Bluesky o líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, em referência ao movimento de Trump Make America Great Again [Tornar a América Grande Outra Vez]. Hakeem Jeffries avisou que o shutdown “vai destruir a economia, prejudicar a classe trabalhadora americana e será provavelmente o mais longo da história”..A semana até começou bem, com os congressistas com tempo para evitar o shutdown, depois de o líder da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, ter apresentado na terça-feira um projeto de lei - conhecido como resolução contínua - que permitiria prolongar os gastos do governo até março. O documento bipartidário, de 1547 páginas, tinha várias adendas destinadas a apaziguar quer democratas quer republicanos..Entre outras coisas, a proposta previa cerca de cem mil milhões de dólares de resposta a desastres naturais ou restrições aos investimentos na China. Mas também um aumento dos salários dos congressistas, o que chamou a atenção de Musk - que na Administração de Trump ficará à frente do novo Departamento de Eficiência Governamental. Na quarta-feira de manhã, o milionário começou a criticar a proposta no X e não parou. “Esta lei criminosa não deve passar!”, defendeu..Ao final do dia, à medida que crescia a indignação nos meios conservadores alimentada por Musk (que já está a ser apelidado de “copresidente” tal o poder que parece ter), o próprio Trump anunciou que também era contra a proposta. O presidente-eleito ameaçou os republicanos que votassem a favor, avisando que iriam ter dificuldades em ser reeleitos. E defendeu a necessidade de levantar o teto da dívida até 2027 (será atingido em junho de 2025 se nada for feito, o que diz ser uma “armadilha”). Mais tarde, mudou para 2029. Na prática, o presidente-eleito teria luz verde para qualquer endividamento..A proposta acabou por cair, com Johnson a apresentar à pressa uma alternativa de apenas 116 páginas. Trump considerou que o novo projeto era “muito bom” e falou em “sucesso”. Mas a Câmara dos Representantes não pensou igual. A proposta precisava do apoio de dois terços dos congressistas e nem teve o apoio da maioria (174-235), com 38 republicanos a votar contra e só dois democratas a favor - levando Musk a dizer que a culpa do shutdown é dos democratas. Trump provou que consegue parar legislação que não aprova, mas aprovar aquilo que quer revela-se mais complicado. .Johnson, sob pressão, tentava esta sexta-feira à noite encontrar uma nova alternativa para evitar o shutdown. Os democratas propunham voltar ao acordo inicial, mas em cima da mesa estava a hipótese de votar a segunda proposta em três blocos - permitindo, dessa forma, votar contra o levantar do teto da dívida que Trump defende..Num shutdown, o governo federal fica sem financiamento e os funcionários federais que não são considerados fundamentais têm que ficar em casa, enquanto os outros vão trabalhar, mas sem receber (até que a situação fique resolvida). Trump tem o recorde do mais longo shutdown da história dos EUA - durou 35 dias, começando antes do Natal de 2018, quando insistiu em incluir na legislação financiamento para o muro na fronteira com o México. No final, acabou por ceder..susana.f.salvador@dn.pt

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