O presidente norte-americano, Donald Trump, confrontou esta quarta-feira o homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, com vídeos e testemunhos de “genocídio” da minoria branca no seu país, depois de este ter dito que Trump só precisava de “ouvir as vozes dos sul-africanos” para saber que as alegações são falsas. O tema foi abordado nas declarações iniciais de ambos os presidentes, diante dos jornalistas, depois de Trump ter deixado claro que ia pedir explicações a Ramaphosa sobre o “genocídio branco”. Os EUA receberam um grupo de 59 “refugiados” Afrikaners na semana passada, que Ramaphosa apelidou de “cobardes” antes de viajar até Washington. A troca inicial de palavras foi amistosa, com Trump a saudar e a elogiar uma série de campeões de golfe sul-africanos presentes na reunião. E Ramaphosa a dizer que queria relançar as relações entre os dois países, acenando com as reservas de minerais críticos que a África do Sul tem para abordar a necessidade de um acordo comercial. Mas a situação mudou quando os jornalistas puderam fazer perguntas, focando o tema do “genocídio” que tem vindo a ser denunciado por Trump. Os vídeos foram passados depois de uma jornalista perguntar ao presidente norte-americano o que precisava de ouvir para acreditar que não há “genocídio”. Ramaphosa pediu para ser ele a responder e disse calmamente: “Basta o presidente ouvir as vozes dos sul-africanos”, alguns deles “bons amigos” do próprio Trump. E indicou que se houvesse genocídio muitas das pessoas na sua comitiva não estavam com ele. Trump mandou então reduzir as luzes e passou os vídeos. No final, Ramaphosa questionou onde tinham sido filmados, dizendo não ter conhecimento de uma situação que Trump alegou mostrar as campas de milhares de agricultores brancos que foram mortos. Em relação às imagens de um deputado de extrema-esquerda que defende a morte dos agricultores e de pessoas a cantar “mata o Boer [outro nome para os Afrikaners], mata o agricultor”, Ramaphosa criticou estes cânticos e disse que o deputado “de um pequeno partido minorário” não transmite a “política governamental” sobre o tema. “Porque é que não é preso”, perguntou Trump, que não se mostrou convencido - também apresentou vários recortes de notícias que ia passando enquanto dizia “morte, morte, mortes horríveis” - alegando que o governo nada faz. Ramaphosa, que se manteve sempre com voz calma, defendeu que o problema é de violência e que envolve tanto brancos como negros. Aliás, a maioria das vítimas de crimes são negros, segundo as estatísticas.Este não é o primeiro momento de tensão que um líder estrangeiro vive na Sala Oval de Trump. Mas, ao contrário do que aconteceu com o ucraniano Volodymyr Zelensky, que não conseguiu manter a calma como Ramaphosa, desta vez não houve outros membros da administração a intervir. Pelo contrário, os golfistas sul-africanos Ernie Els e Retief Gosen procuraram acalmar a situação e o presidente sul-africano deu também voz ao seu ministro da Agricultura, Josee Steenhuisen. Os três são brancos.Quem também falou foi o empresário milionário Johann Rupert, o segundo sul-africano mais rico do mundo atrás de Elon Musk (que deixou o país na adolescência). O dono de marcas de luxo pediu ajuda a Trump para combater a violência que afeta todos - brancos e negros.