Trump afirma que acordo para Faixa de Gaza está “muito perto”. Erdogan confirma o “entendimento”
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Trump afirma que acordo para Faixa de Gaza está “muito perto”. Erdogan confirma o “entendimento”

Hipotético pacto implicaria a libertação dos reféns israelitas ainda mantidos em cativeiro pelo Hamas na Faixa de Gaza e “o fim da guerra” de Israel no enclave.
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O presidente norte-americano Donald Trump reiterou esta sexta-feira, 26 de setembro, a proximidade de “um acordo” para Gaza, numa mensagem otimista contrastante com o discurso na ONU do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, sem sinais de redução da pressão militar.

“Talvez tenhamos um acordo sobre Gaza, estamos muito perto”, afirmou Trump em declarações à comunicação social.

Este hipotético pacto, sobre o qual não forneceu quaisquer pormenores, implicaria a libertação dos reféns israelitas ainda mantidos em cativeiro pelo movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza e “o fim da guerra” de Israel no enclave, em curso desde outubro de 2023.

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Praticamente ao mesmo tempo, Netanyahu afiançou, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, que continua determinado a “terminar a missão” de destruir o Hamas na Faixa de Gaza e a fazê-lo “rapidamente”.

Segundo o chefe do Governo de extrema-direita israelita, a guerra só acabaria imediatamente se o grupo palestiniano acedesse às exigências de Israel, entre as quais a libertação imediata dos reféns - cerca de 48 ainda mantidos no enclave, dos quais se acredita que 20 estejam vivos.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, confirmou entretanto ten alcançado um “entendimento” com Donald Trump sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza, após o encontro que os dois mantiveram quinta-feira, na Casa Branca.

Erdogan destacou que as relações entre Ancara e Washington registaram “avanços significativos” e que ambos abordaram questões de importância vital para a comunidade internacional, como os “atos genocidas cometidos por Israel” contra os palestinianos e os “planos de reconstrução da Síria”.

Em conferência de imprensa a bordo do avião presidencial, no regresso a Ancara após ter estado a ONU, Erdogan disse apoiar “a visão de Trump para uma paz global”. 

“Ambos estamos a favor de parar quanto antes o derramamento de sangue”, afirmou, acrescentando esperar que “haja em breve mudanças” no conflito israelo-palestiniano.

Segundo o diário turco Hurriyet, o presidente turco explicou que Trump defende a necessidade de “pôr fim ao conflito e alcançar um acordo para um cessar-fogo permanente”.

Erdogan acrescentou que apresentou um plano para “garantir primeiro o fim dos ataques e depois uma paz duradoura” e assegurou que os dois chegaram a “um consenso” sobre o assunto.

Erdogan reiterou que “a única forma de resolver o problema atual é concretizar a solução de dois Estados”. 

“Trump está consciente de que isto não pode continuar. Para a Turquia, o único objetivo neste momento é travar os massacres em Gaza”, sublinhou, garantindo que mantém uma “boa relação” com o homólogo norte-americano.

“Tivemos um bom diálogo durante o seu primeiro mandato e continuamos na mesma linha. Penso que vamos alcançar resultados positivos no quadro das relações turco-norte-americanas”, declarou, considerando que as ligações bilaterais estão a “melhorar com base no respeito mútuo”.

Apesar disso, reconheceu que há “dificuldades” em resolver os assuntos pendentes.

“Não se consegue tudo apenas com uma reunião, mas este encontro permitirá progressos em muitos campos”, afirmou.

O presidente turco afastou, por outro lado, a possibilidade de uma solução federal para o conflito em Chipre, sublinhando que essa hipótese está “totalmente fora da mesa” negocial.

“A opção de uma federação está encerrada. Ninguém nos fará voltar a esse debate. Os turco-cipriotas nunca aceitarão ser uma minoria numa ilha unificada”, afirmou Erdogan, que, na intervenção na ONU, tinha apelado à comunidade internacional que reconheça a República Turca do Chipre do Norte. Erdogan defendeu agora que “a única solução realista é aceitar a existência de dois Estados separados na mesma ilha” e lembrou que os turco-cipriotas vão eleger no próximo mês o novo Presidente, “decidindo de forma adequada e no pleno exercício do seu direito a eleições livres”.

A guerra declarada a 7 de outubro de 2023 em Gaza para “erradicar” o Hamas - após o seu ataque a Israel fazer cerca de 1.200 mortos e 251 reféns - fez, até agora, pelo menos 65.549 mortos, na maioria civis, e 167.518 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros e também espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

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Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de alguns mantimentos, distribuídos em pontos considerados “seguros” pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis famintos, tendo até agora matado 2.543 e ferido pelo menos 18.614.

Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.

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