Terror aéreo russo arrasta Irão e Israel para o conflito

Teerão nega que os drones usados contra civis sejam seus. Aumenta pressão para Telavive fornecer sistemas de defesa a Kiev.
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Viktoria, de 34 anos, grávida de seis meses, e o seu companheiro, Bohdan, de igual idade, estavam em casa, no bairro de Shevchenkivskyi, quando um dos cinco drones que passaram as barreiras de defesa aérea chocou contra o seu prédio, matando-os. Outras duas pessoas morreram e 19 foram resgatadas dos escombros com vida. Uma semana exata após o maior ataque na cidade desde o início da invasão, então com mísseis de cruzeiro e drones, a nova onda de terror não se limitou à capital. Em Sumy, no nordeste, outros quatro civis juntaram-se à lista de óbitos.

Durante o dia, os russos usaram no total 43 aparelhos aéreos não tripulados, segundo o Estado-Maior ucraniano, tendo 37 sido derrubados, mas também ataques aéreos convencionais, não só em zonas residenciais mas em infraestruturas como subestações elétricas no norte e no centro do país, ou em depósitos de óleo de girassol, como em Mykolaiv, no sul. Já à noite, mais drones atacaram Brovary e Boryspil, nos arredores da capital.

"A Rússia e o Irão unem-se para espalhar o terror e a morte", reagiu o ministro da Defesa da Ucrânia. "As democracias e as mentes mais brilhantes do mundo devem juntar-se para estes ataques e derrotar o mal", afirmou Oleksi Reznikov. Na mesma linha, o conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky apontou o dedo "às concessões ao totalitarismo" e a Teerão . "O Irão é responsável pelo assassínio de ucranianos. O país que oprime o seu próprio povo está agora a dar armas aos monstros russos para execuções em massa no coração da Europa", escreveu Mikhailo Podolyak, que defendeu a expulsão da Rússia do G20.

Durante uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia, que decorreu no Luxemburgo, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, que participou por videoconferência (e num abrigo aéreo em Kiev), pediu aos colegas europeus para imporem sanções aos iranianos. "Acabou a paciência. Ouvimos várias explicações e argumentos durante muito tempo, mas é impossível esconder a verdade. E esta verdade voou para as casas da cidade de Kiev. Chegou o momento de aplicar sanções contra o Irão pelo fornecimento de armas à Federação Russa", disse Dmytro Kuleba.

Do encontro ministerial saiu a decisão de Bruxelas patrocinar um programa de formação do exército ucraniano de que Portugal fará parte.

Já o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell disse que a UE iria primeiro procurar "provas concretas" do envolvimento iraniano. Isto no dia em que Bruxelas aplicou sanções a altos funcionários do regime teocrático, bem como à polícia da moralidade, aos paramilitares Basij e à divisão cibernética dos Guardas da Revolução.

No fim de agosto, os serviços de informações ocidentais identificaram a compra de drones iranianos por Moscovo e mais recentemente Zelensky disse que Moscovo tinha encomendado 2400 aparelhos. São dois modelos: o Shahed-136 (Geran-2 para os russos), que é por definição de utilização única, uma vez que transporta uma carga explosiva que é detonada com o impacto; e o Mohajer-6, comparável ao turco Bayraktar TB-2, usado por Kiev.

Teerão nega reiteradamente o negócio. "Não fornecemos armas a qualquer lado dos países em conflito", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Com as forças armadas russas a ficarem com um número cada vez mais baixo de munições guiadas de precisão e sem o país conseguir fabricar mais devido à falta de componente eletrónicos devido às sanções, Moscovo terá chegado a acordo com Teerão não só para uma nova entrega dos dois modelos de drones, mas também de mísseis balísticos de curto alcance.

Segundo o Washington Post, a informação, partilhada entre os serviços norte-americanos e ucranianos, dizem que o acordo terá sido fechado há um mês, com uma visita de funcionário iranianos a Moscovo. Estará para breve o primeiro carregamento dos mísseis Fateh-110 e do Zolfaghar, com um alcance de 300 e de 700 quilómetros respetivamente. Especula-se se em troca a Rússia poderá ajudar o Irão a acelerar o programa nuclear.

Perante estas notícias, um ministro israelita quebrou a neutralidade e o silêncio. "Não há mais dúvidas quanto à posição de Israel neste conflito sangrento. Chegou o momento de a Ucrânia também receber ajuda militar, tal como os EUA e os países da NATO fornecem", afirmou Nachman Shai, ministro da Diáspora. O governo israelita tem mantido um acordo com Moscovo para usar o espaço aéreo na Síria e atacar posições de grupos iranianos. Kiev tem pedido a Telavive apoio militar e, há semanas, Zelensky lamentou ter recebido "zero".

Israel poderia fornecer o sistema Cúpula de Ferro para defesa de drones e de foguetes, ou o Arrow-3, capaz de intercetar mísseis balísticos. Mas para já, o que Israel oferece é "informações básicas" sobre os drones iranianos, enquanto uma empresa de segurança israelita estará a fornecer imagens de satélite com as posições militares russas. Perante a hipótese de o estado hebraico fornecer armas aos ucranianos, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev disse que isso iria "destruir todas as relações diplomáticas entre os países".

cesar.avo@dn.pt

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