Pedro Sánchez e Edmundo González.
Pedro Sánchez e Edmundo González.EPA/FERNANDO CALVO/Gabinete do chefe de governo espanhol

Tensão em Espanha pelo (não) reconhecimento de González

Congresso votou por reconhecer opositor como “presidente eleito”, mas Sánchez recusou. Caracas ameaça com corte de relações.
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Um dia depois de o Congresso espanhol aprovar uma moção a defender o reconhecimento do opositor venezuelano, Edmundo González, como “presidente eleito”, o ex-diplomata esteve com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa. Mas saiu como entrou, como mais um exilado político venezuelano, numa altura em que Caracas ameaça cortar relações com Madrid.

“Dou as calorosas boas-vindas ao nosso país a Edmundo González, a quem acolhemos mostrando o compromisso humanitário e a solidariedade de Espanha com os venezuelanos. Espanha continua a trabalhar a favor da democracia, o diálogo e os direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela”, escreveu Sánchez no X, com um vídeo onde surge com o opositor e a filha deste, Carolina, que já vivia em Espanha.

A visita de González, que chegou a Espanha no domingo com a mulher após ter estado refugiado na embaixada dos Países Baixos praticamente desde as eleições, não fazia parte da agenda oficial do chefe de governo, que não convidou os media para o momento e surgiu sem gravata - querendo tirar peso institucional ao encontro, segundo o El País.

Também numa mensagem no X, González agradeceu a Sánchez “o seu interesse por trabalhar pela recuperação da democracia e o respeito pelos direitos humanos”, reiterando a sua “determinação de continuar a luta por fazer valer a vontade soberana do povo venezuelano”. A oposição reclama a vitória nas presidenciais de 28 de julho, apesar de as autoridades eleitorais e a justiça (controladas pelo regime) terem dado a vitória a Nicolás Maduro.

Num segundo comunicado, agradeceu a todas as forças políticas que lutam “ativamente pelo reconhecimento da vontade do povo venezuelano” e ao Congresso. “O meu compromisso com o mandato que recebi da parte do povo soberano da Venezuela é inalienável”, insistiu.

Na quarta-feira, o Congresso aprovou uma resolução a exortar o governo a reconhecer González “como legítimo vencedor” e como “presidente eleito” da Venezuela. A resolução foi proposta pelo PP e apoiada pelo Vox, o Partido Nacionalista Basco, a União do Povo Navarro e a Coligação Canária, numa sessão sem o Junts per Catalunya, que estava a celebrar o Dia da Catalunha.

O governo espanhol insiste contudo na ideia de tomar uma posição conjunta com o resto da União Europeia, querendo manter as pontes com o regime venezuelano. A UE, onde a tomada de decisões em política externa te que ser unânime, continua a exigir a divulgação das atas eleitorais. O Parlamento Europeu irá contudo discutir o tema na próxima semana, sendo possível , querendo aprovar uma resolução como a que passou em Espanha.

Por causa da aprovação da resolução, o presidente da Assembleia venezuelana, Jorge Rodríguez, defendeu uma resolução para cortar as relações diplomáticas e comerciais com Espanha. O PP, em resposta, disse que isso é a ação de “um regime que agoniza” e que seria um “comportamento normal e natural de uma ditadura” que ataca os países que questionam as suas falhas democrática. Por seu lado, um dos partidos do Sumar (parceira dos socialistas), a Esquerda Unida, pediu às instituições venezuelanas “que não caiam na provocação da direita espanhola” que só quer prejudicar “as boas relações comerciais, económicas e políticas entre os dois países”.

Entretanto, os EUA - um dos países que reconhecem a eleição de González - aplicaram sanções a 16 funcionários venezuelanos por “fraude eleitoral” e “tentativa ilegítima de se manter no poder pela força”. A Venezuela rejeitou “nos termos mais energéticos” este “novo crime de agressão” dos EUA. Num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acusa Washington de apoiar a classe política que “lançou mão de práticas fascistas e violentas para derrubar, sem sucesso, a democracia bolivariana”.

susana.f.salvador@dn.pt

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