Talibãs conquistam mais duas capitais provinciais no Afeganistão
Os talibãs conquistaram esta sexta-feira Lashkar Gah, capital da província de Helmand, no sul do Afeganistão, depois de terem permitido que exército e funcionários políticos e administrativos abandonassem a cidade, disseram fontes da segurança.
"Lashkar Gah foi evacuada. Decidiram um cessar-fogo de 48 horas" para a saída do exército e dos funcionários civis, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) um responsável da segurança.
Os talibãs também conquistaram Chaghcharan, capital da província central de Ghor, sem resistência esta manhã (hora local), disse à AFP o porta-voz do governador.
O movimento extremista islâmico tinha reclamado já a captura de Kandahar (sul), a segunda maior cidade do país. O mesmo acontecera em Herat (oeste), a terceira maior cidade afegã, na quinta-feira, ficando a 150 quilómetros da capital do país, Cabul, após tomarem de assalto também Ghazni.
Em oito dias, os talibãs capturaram quase metade das capitais de província afegãs, controlando a maior parte do norte, oeste e sul do país.
Cabul, Mazar-i-Sharif, a principal cidade do norte, e Jalalabad (leste) são as únicas três grandes cidades ainda sob controlo governamental.
Os talibãs lançaram a ofensiva em maio com o início da retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, a qual deverá estar concluída até 31 de agosto.
Inicialmente, conquistaram grandes áreas rurais sem encontrarem muita resistência. Nos últimos dias, a progressão das forças talibãs acelerou, com vários centros urbanos a cair nas mãos dos rebeldes, sem oferecerem muita resistência.
Canadá, Reino Unido e Estados Unidos decidiram enviar contingentes militares para garantir a evacuação das embaixadas em Cabul.
Localizado na Ásia, o Afeganistão faz fronteira com seis países, Paquistão, Tajiquistão, Irão, Turquemenistão, Uzbequistão e China, sendo a paquistanesa a mais extensa, com 2.670 quilómetros.
A União Europeia (UE) apelou esta sexta-feira aos talibãs para um cessar-fogo "completo e permanente" no Afeganistão e alertou para o risco de isolamento e instabilidade no país se restabelecerem pela força um emirado islâmico.
"AUE apela aos talibãs para que retomem imediatamente conversações substantivas, regulares e estruturadas e apela também a um cessar imediato da violência em curso e a um cessar-fogo completo e permanente", afirmou o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, num comunicado.
A UE "condena as crescentes violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, em particular nas áreas controladas pelos talibãs e nas cidades", disse.
Borrell avisou os talibãs de que "se o poder for tomado pela força e um emirado islâmico for restabelecido", enfrentarão "o não reconhecimento, o isolamento, a falta de apoio internacional e a perspetiva de conflito continuado e de instabilidade prolongada" no Afeganistão.
O Alto Representante da UE disse que a "atual ofensiva militar dos talibãs está em contradição direta com o seu compromisso declarado de uma solução negociada do conflito e do processo de paz de Doha".
O movimento extremista islâmico lançou a atual ofensiva em maio, com o início da retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, a qual deverá estar concluída até 31 de agosto.
Em cerca de uma semana, os talibãs assumiram o controlo de quase metade das 34 capitais provinciais, incluindo Kandahar (sul), a segunda maior cidade do país.
O também vice-presidente da Comissão Europeia considerou que os ataques contínuos dos talibãs "estão a causar um sofrimento inaceitável aos cidadãos afegãos e estão a aumentar o número de deslocados internos e daqueles que deixam o Afeganistão em busca de segurança".
"Encorajamos a República Islâmica do Afeganistão a resolver divergências políticas, a aumentar a representação de todos os interessados e a envolver-se com os talibãs de uma perspetiva unida", afirmou.
Borrel disse ainda que a UE pretende continuar a apoiar o Afeganistão, mas condicionou esse apoio a uma "resolução pacífica e inclusiva e ao respeito pelos direitos fundamentais de todos os afegãos".
"É fundamental que os ganhos significativos obtidos pelas mulheres e raparigas ao longo das últimas duas décadas sejam preservados, inclusive no que diz respeito ao acesso à educação", acrescentou.
A ofensiva dos talibãs no Afeganistão, que está a conquistar rapidamente os centros urbanos do país, já causou 3,3 milhões de deslocados no país, alertou esta sexta-feira a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Só desde maio, foram contabilizados 250 mil deslocados, dos quais 80% são mulheres e crianças, avançou esta sexta-feira a porta voz da ACNUR Shabia Mantoo em conferência de imprensa.
A este número somam-se mais 150 mil pessoas que tiveram que deixar as suas casas entre janeiro e maio, referiu.
"O número de vítimas nas hostilidades é enorme", afirmou Mantoo, que advertiu que o Afeganistão "está a caminho de sofrer o pior número anual de mortes de civis em conflito de que a ONU tem registo".
Numa altura em que os talibãs já controlam várias das capitais de província do país, incluindo a segunda maior cidade do país, Kandahar, e ameaçam Cabul, a porta-voz lembrou que a ONU "pede um cessar-fogo permanente e uma solução negociada para o bem do povo afegão".
Mantoo explicou que a maioria dos deslocados pelo conflito evitou deixar o Afeganistão e quis "ficar o mais perto possível das suas casas", embora cerca de 120 mil fugiram de áreas rurais e províncias para procurar refúgio em Cabul e arredores.
Apesar desse padrão de movimentos, o ACNUR pediu esta sexta-feira aos países vizinhos que mantenham as suas fronteiras abertas a possíveis refugiados.