Sánchez quer Israel fora da Eurovisão: "Não podemos permitir dois pesos e duas medidas"
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu esta segunda-feira a expulsão de Israel do Festival da Eurovisão por causa da ofensiva militar na Faixa de Gaza, denunciando haver dualidade de critérios em relação à Rússia.
Após a apresentação de um relatório sobre cultura em Espanha, o primeiro-ministro lembrou que "ninguém levou as mãos à cabeça" quando "se exigiu a saída" da Rússia das competições internacionais e da Eurovisão após a invasão da Ucrânia.
"Não podemos permitir dois pesos e duas medidas, nem mesmo na cultura", disse Sánchez, citado pela Europa Press, enviando um "abraço de solidariedade ao povo da Ucrânia e ao povo da Palestina, que estão a viver o absurdo da guerra e dos bombardeamentos".
A participação de Israel no festival tem sido motivo de contestação, com protestos contra (e a favor) em Basileia, que este ano acolheu o evento. Setenta antigos participantes defenderam a proibição de Israel participar na competição.
A RTVE, criticada pelos comentários dos apresentadores na semifinal contra a guerra na Faixa de Gaza, foi ameaçada de multa pela Eurovisão se voltasse a falar no tema - em teoria o festival é apolítico e, este ano, os concorrentes até foram impedidos de mostrar bandeiras LGBT.
Ignorando a ameaça da Eurovisão, a estação pública espanhola emitiu uma mensagem antes da final: "Quando os direitos humanos estão em jogo, o silêncio não é uma opção. Paz e Justiça para a Palestina."
Nas redes sociais há quem aponte o facto de, pelo quinto ano consecutivo, o Festival da Eurovisão ser patrocinado pela MoroccanOil, uma marca de produtos de beleza de origem israelita, para justificar o facto de o país não ter sido expulso do concurso.
Israel ganhou no voto popular
Israel foi representada este ano por Yuval Raphael, uma sobrevivente do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 que fez mais de 1200 mortos. A jovem de 24 anos estava no Festival Nova.
A concorrente israelita interpretou a música "New Day Will Rise" e recebeu 60 pontos do voto dos júris dos países que participaram no festival. Mas, no final da noite, ficou em segundo lugar, atrás apenas da Áustria, após conquistar 297 votos na votação do público.
No total, Israel somou 357 pontos e a Áustria teve 436 - 258 do voto do júri, que venceu, e 178 do voto popular (foi quarta).
A música de Israel foi a mais votada pelo público em 12 países - Alemanha, Austrália, Azerbaijão, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça - além de ter ganho a votação do Resto do Mundo.
"Sánchez, parece que os espanhóis falaram e a bofetada foi ouvida aqui em Jerusalém", escreveu nas redes sociais o ministro da Diáspora israelita e do Combate ao Antissemitismo, Amichai Chikli, partilhando o resultado da votação popular espanhola.
Espanha foi um dos países europeus que reconheceu este ano o Estado Palestiniano.
A RTVE solicitou já uma auditoria ao televoto espanhol, sendo que outras estações de televisão vão fazer o mesmo, segundo o El País.
A posição oficial da RTP é de que "o processo de votação do público no Eurovision Song Contest é da exclusiva responsabilidade da EBU, entidade que contrata diretamente as Operadoras de Comunicações em cada país participante, como se tem verificado nos últimos anos". "Continuaremos, como sempre, atentos aos desenvolvimentos e a participar legitimamente nos fóruns a que pertencemos", disse ao DN fonte oficial da estação pública.
Até agora só se sabe que dos quase 143 mil votos expressos em Espanha, quase 112 mil foram feitos através da aplicação oficial da Eurovisão, 24 mil por SMS e pouco menos de 7.300 por chamada telefónica. Cada pessoa pode, em teoria, votar o máximo de 20 vezes.
No ano passado, quando Israel também ganhou o voto popular, o diretor da diplomacia pública do Ministério dos Negócios Estrangeiros, David Saranga, disse ao porta de notícias Ynet que o organismo que lidera interveio "junto do público que simpatizava [com Israel] para fomentar o voto.
Em Espanha, aponta-se para uma campanha da extrema-direita de apoio a Israel e contra a decisão de Sánchez de reconhecer o Estado palestiniano.