Sunak na frente da corrida que está a ficar feia para os conservadores
O ex-ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, venceu a terceira ronda de votação entre os deputados conservadores. Conseguiu mais 14 apoios do que na última quinta-feira e está a apenas cinco votos de conseguir os 120 que, em teoria, o colocam como um dos dois finalistas na luta pela liderança do partido e, consequentemente, pelo cargo de primeiro-ministro. O deputado Tom Tugendhat foi o menos votado (31) e foi eliminado da corrida que os conservadores temem que esteja a ficar demasiado feia e possa custar apoios numas futuras eleições.
Na disputa por saber quem irá lutar pelo voto dos militantes com Sunak estão duas mulheres: a secretária de Estado para a Política Comercial, Penny Mordaunt, continua em segundo lugar na votação, com 82 votos (menos um em relação à votação de quinta-feira). Logo atrás, com 71 votos (mais sete) está a chefe da diplomacia, Liz Truss, que espera continuar a aproveitar o balanço para ultrapassar Mordaunt. A ex-secretária de Estado para a Igualdade, Kemi Badenoch, teve 58 votos (mais nove), arriscando ficar de fora na quarta votação, esta terça-feira.
A luta que é agora a quatro arrisca contudo ficar feia ainda antes de chegar ao fim. O debate que estava previsto para hoje, na Sky News, foi cancelado depois de dois dos favoritos, Sunak e Truss, terem retirado a sua participação. "Os deputados conservadores dizem estar preocupados pelos danos que os debates estão a fazer para a imagem do Partido Conservador, expondo desacordos e divisões dentro do partido", indicou a estação de televisão em comunicado.
Nos dois debates anteriores, na sexta-feira no Channel 4 e no domingo na ITV, houve choque de posições em relação aos impostos e ao aumento do custo de vida. Mas no último, os ataques tornaram-se também mais pessoais - os candidatos tinham hipótese de fazer perguntas entre si -, sendo comparados por um comentador conservador à versão política dos Jogos da Fome (a trilogia de livros, adaptada ao cinema, onde o objetivo é combater até à morte).
Assim, Sunak atacou Truss por ter votado contra o Brexit e ter sido militante dos Liberais-Democratas, além da sua posição em relação aos impostos - ela quer cortar, ele não. Já a chefe da diplomacia acusou o ex-ministro das Finanças de ter aumentado os impostos para "o valor mais alto em 70 anos". Sunak lembrou que era preciso pagar a resposta à pandemia.
Outra das favoritas, Mordaunt, foi atacada pela sua posição sobre os direitos dos transgénero. A ex-secretária de Estado da Mulher e da Igualdade defendeu no passado que "as mulheres transgénero são mulheres", mas agora veio dizer que apesar de serem legalmente mulheres por terem feito a mudança de sexo, "não são mulheres biológicas", como ela. Para muitos observadores, os ataques entre membros do governo (Sunak só saiu no início deste mês) põem em causa o próprio executivo, temendo-se que possam custar votos aos conservadores numas futuras eleições.
Entretanto, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, esteve ontem no Parlamento para uma moção de confiança ao governo que tem os dias contados e numa altura em que há pressão para que não continue no cargo até ser escolhido um sucessor. Esta moção foi apresentada pelo próprio executivo, depois de rejeitada outra moção da oposição trabalhista.
Os conservadores têm maioria para passar a votação - para perder, seria preciso uma grande revolta dos seus próprios deputados, que estariam a pôr os seus cargos em risco porque uma derrota desencadearia eleições antecipadas.
Johnson defendeu o seu legado diante dos deputados, centrado no Brexit, na resposta à pandemia ou no apoio à Ucrânia após a invasão da Rússia, tendo ouvido vários elogios dos seus mais acérrimos defensores. Bill Wiggin, por exemplo, disse que o país ia perder "um grande comunicador político e líder de proporções históricas", com vários deputados a defender que foi vítima de uma campanha mediática.
O líder do Labour, Keir Starmer, aproveitou para criticar o primeiro-ministro, mas também os membros do Partido Conservador. "Apesar de saberem exatamente quem ele é, apesar de saberem que ele se põe sempre à frente de qualquer outra pessoa, apesar de saberem que foi despedido, emprego após emprego, por mentir, elegeram-no para liderar o partido", afirmou, dizendo que agora o consideram "incapaz" de chefiar o governo, mas ainda assim vão deixá-lo no poder por mais oito semanas até elegerem um sucessor.
"Oito semanas de um governo interino liderado por um primeiro-ministro totalmente negligente", referiu.
susana.f.salvador@dn.pt