Sturgeon aposta no "Plano C" para a independência após decisão do Supremo britânico

Líder escocesa quer transformar as próximas eleições gerais num plebiscito centrado apenas neste tema.
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O Plano A era pedir a autorização ao governo britânico para realizar um segundo referendo sobre a independência da Escócia a 19 de outubro de 2023. Londres disse que não. O Plano B era perguntar ao Supremo Tribunal do Reino Unido se o Parlamento escocês tinha o poder para convocar esse referendo sem a autorização do Parlamento britânico. A Justiça disse que não. Mas a primeira ministra escocesa, Nicola Sturgeon, não desiste e prepara-se para avançar para o Plano C: concorrer às próximas eleições gerais com apenas um tema no manifesto do Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla em inglês) - a independência, à espera de uma maioria que legitime essa aspiração.

"Devemos e vamos encontrar outra forma democrática, legal e constitucional através da qual o povo escocês possa expressar a sua vontade. Na minha opinião, isso só pode ser uma eleição", disse ontem Sturgeon, numa conferência de imprensa, depois de ser conhecida a decisão do Supremo Tribunal britânico. Por unanimidade, os cinco juízes concluíram que o poder para convocar um referendo está "reservado" ao Parlamento britânico, ao abrigo do Acordo de Devolução de Poderes. Logo, o Parlamento escocês não pode avançar sozinho para a consulta sobre o tema.

"Esta decisão confirma que a noção de Reino Unido como uma parceria voluntária de nações, se alguma vez foi uma realidade, já não é uma realidade", indicou Sturgeon.

A líder do SNP insiste que as próximas eleições gerais - previstas até 2025 no Reino Unido - serão um "referendo de facto" à independência, após mais de 300 anos de união. Para acertar pormenores, haverá uma conferência especial do partido em 2023, avançando já "uma grande campanha em defesa da democracia escocesa".

A Escócia realizou um referendo sobre a independência em 2014, com a autorização do governo conservador de David Cameron, com o "não" a vencer com 55%. As últimas sondagens mostram que continua a haver divisão no país, sendo que na maioria ganha o "não". Esse referendo foi apresentado como "a oportunidade de uma geração", mas o SNP, no poder desde 2007, acredita ter um mandato para uma nova consulta. Não só por causa dos bons resultados eleitorais - concorreu nas últimas eleições com a promessa de fazer o referendo -, mas principalmente devido à mudança das circunstâncias após o referendo do Brexit, em 2016. A Escócia votou contra a saída do Reino Unido da União Europeia.

Sturgeon, que chegou ao poder em 2014 após o referendo inicial (o resultado levou à demissão do antecessor Alex Salmond), tem procurado desde 2017 a realização de um segundo referendo. À então primeira-ministra britânica, Theresa May, até ao atual chefe de governo, Rishi Sunak - passando por Boris Johnson e Liz Truss -, Sturgeon tem pedido autorização para perguntar de novo aos escoceses: "Deve a Escócia ser um país independente?" A resposta tem sido sempre negativa.

"Respeitamos a decisão clara e definitiva do Supremo Tribunal", disse ontem Sunak, alegando que os escoceses querem ver o país a trabalhar para enfrentar os grandes desafios, como a economia, apoiar o sistema nacional de saúde ou até a Ucrânia, e que "é hora de os políticos trabalharem em conjunto".

susana.f.salvador@dn.pt

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