Um sobrinho de Jair Bolsonaro, que é alvo de um mandado de prisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e está foragido na Argentina, publicou uma fotografia nas redes sociais em que indica estar a caminho de Portugal. Na foto, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, aparece a embarcar num avião. Na legenda, utiliza um emoji de despedida do país sul-americano e uma seta apontada a Lisboa.Primo direito por parte de mãe dos filhos mais velhos do ex-presidente, o senador Flávio, o deputado Eduardo e o vereador Carlos Bolsonaro, de quem é mais próximo e chegou a dividir casa, Índio exerceu cargos formal e informalmente no anterior governo. Nos primeiros 45 dias de mandato de Bolsonaro chegou a visitar o Palácio do Planalto 58 vezes e fez parte de comitivas do tio em viagens oficiais, segundo o portal UOL.No livro Tormenta, a jornalista Thaís Oyama escreve que Carlos Bolsonaro tentou que o primo, mesmo não sendo polícia, chefiasse uma equipa de três polícias para impedir “a infiltração de esquerdistas” no entorno do então presidente mas o titular da pasta da Secretaria de Governo não aceitou contratá-lo. Léo Índio foi então nomeado assessor do senador bolsonarista Chico Rodrigues, cargo que exerceu de abril de 2019 a outubro de 2020, quando o parlamentar foi apanhado numa investigação da polícia com 30 mil reais [cerca de cinco mil euros] supostamente destinados ao combate à covid-19 escondidos nas cuecas. Depois, foi auxiliar administrativo do PL, partido de Bolsonaro, e concorreu, em 2022, a deputado distrital em Brasília e, em 2024, a vereador em Cascavel, no Paraná, usando o nome de guerra “Léo Índio Bolsonaro”, mas não se elegeu.No âmbito da investigação a Flávio Bolsonaro pelas “rachadinhas”, o pagamento a funcionários fantasmas quando o hoje senador era vereador no Rio de Janeiro, as autoridades levantaram o sigilo bancário de Índio e descobriram que ele levantou mais de 400 mil reais [cerca de 65 mil euros] em cinco anos.Índio foi também membro do “gabinete do ódio”, grupo que numa sala anexa do Planalto disseminava notícias falsas, atacava adversários políticos e arruinava a reputação de eventuais dissidentes do governo sob o comando informal de Carlos Bolsonaro, revelado em 2019 numa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.Paulo Gonet, procurador-geral da República, pediu, dia 1 de abril, a Alexandre de Moraes, juiz do STF, que seja decretada a prisão preventiva de Índio, por ter deixado o Brasil nos primeiros dias de março rumo à Argentina. “Ao se evadir para a Argentina, deliberadamente descumpriu medida cautelar alternativa à prisão, a evidenciar sua insuficiência, o descaso com a aplicação da lei penal e desrespeito às decisões emanadas pelo STF”, escreveu Gonet."Alvos fáceis"Em entrevista, de 26 de março à rádio Massa FM, de Cascavel, no Paraná, Índio disse-se alvo de “perseguição política”. “Qual o nosso principal medo? Nós não sabemos até onde vão os tentáculos do STF, então temos muito medo dessa listagem cair em mãos de pessoas mal-intencionadas, seria uma pescaria num aquário. Imagine você ter uma listagem de pessoas que estão em determinados locais na Argentina… Seríamos alvos fáceis”, afirmou. Os advogados de Léo Índio apresentaram ao STF um documento emitido pelo governo argentino, liderado por Javier Milei, aliado de Bolsonaro, concedendo-lhe estadia provisória no país até 4 de junho.Na publicação nas redes sociais, Léo Índio insinua que o destino final da viagem possa não ser Portugal e sim a Espanha. Para isso, ele precisaria de um passaporte europeu, já que o brasileiro, conforme referido, foi apreendido ainda em 2024. Com isso, o foragido estaria também impedido de fazer escalas aéreas no Brasil por estar registado no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões. Nem Léo Índio nem os seus advogados se pronunciaram depois daquela publicação. Além de Índio, há cerca de 500 réus por envolvimento nos ataques de 8 de janeiro, entre financiadores, incitadores e executores, por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do património e associação criminosa. Segundo o STF, o prejuízo material dos ataques superou 26 milhões de reais [cerca de quatro milhões de euros]. Os 84 réus já condenados respondem a penas de um a 17 anos de prisão e há registo de 60 foragidos, além de Índio. No plano político, Jair Bolsonaro e aliados já promoveram dois atos, em Copacabana e na Avenida Paulista, a pedir amnistia aos envolvidos no 8 de janeiro e no Congresso o partido do ex-presidente tenta, até agora sem sucesso, negociar um projeto de lei nesse sentido.