Sob inquérito do Partygate, Boris vira-se contra acordo de Windsor

Ex-governante foi inquirido sobre a sua conduta quando deu explicações à Câmara dos Comuns sobre festas em Downing Street. Acordo sobre a Irlanda do Norte aprovado, apesar da oposição de Boris Johnson.

Durante mais de três horas, o antigo primeiro-ministro Boris Johnson respondeu à Comissão de Privilégios da Câmara dos Comuns sobre o seu papel durante a primeira fase da pandemia, quando os cidadãos foram forçados a ficar em casa e a cumprir uma série de restrições às suas liberdades enquanto o número 10 de Downing Street foi palco de várias festas. Também foi inquirido sobre a forma como informou os deputados no que ficou conhecido como Partygate, ou seja, se mentiu. No mesmo dia, a câmara baixa do Parlamento aprovou o acordo de Windsor, sobre a Irlanda do Norte. Johnson liderou uma rebelião dos tories, ao dizer que o acordo é "inaceitável ", uma vez que a Irlanda do Norte irá permanecer "capturada pela ordem jurídica da UE".

Um tenso, combativo e por vezes irritado Boris Johnson repetiu sob juramento não ter mentido de forma propositada aos deputados quando negou ter violado as restrições impostas durante a pandemia para evitar a propagação da covid-19.

A comissão parlamentar foi encarregada de conduzir um inquérito para apurar se Johnson mentiu no Parlamento, o que, a confirmar-se, pode resultar na suspensão de funções de deputado, numa nova eleição no seu círculo eleitoral e até em perda de mandato.

"Estou aqui para dizer com toda a honestidade que não menti à Câmara. As declarações foram feitas de boa-fé e com base no que honestamente sabia e acreditava na altura."

Na sua defesa por escrito, publicada na véspera, Boris argumentou que os seus assessores haviam assegurado que nenhuma norma havia sido infringida durante as inúmeras "reuniões de trabalho" realizadas na sede do governo durante o confinamento. "Quem pensa que estávamos em festa durante o confinamento simplesmente não sabe o que está a falar", disse.

Johnson explicou que num ambiente de trabalho intenso, com intermináveis jornadas de trabalho para controlar a pandemia, era "impossível" manter dois metros de distância entre as pessoas num edifício antigo com corredores estreitos e salas pequenas. As medidas de distanciamento social foram seguidas "na medida das nossas possibilidades", declarou.

Também defendeu que havia um "fotógrafo oficial" a registar encontros como comemorações de Natal ou despedidas de funcionários e que seria "ridículo" fazê-lo se fossem festas ilegais. E que se fosse "óbvio" para ele que eram, também teria sido para outros funcionários presentes, incluindo o atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, então ministro das Finanças.

"Houve uma série de dias durante um período de 20 meses em que se realizaram reuniões em Downing Street que passaram do ponto em que se podia dizer que eram necessárias para fins de trabalho. Isso foi errado. Lamento-o amargamente", admitiu. Porém, disse que a comissão não encontrou "nada que demonstre que tivesse sido avisado com antecedência de que os acontecimentos do número 10 eram ilegais" e nada que mostre que alguém lhe "levantou preocupações sobre qualquer acontecimento, quer antes quer depois de este ter ocorrido".

Com a oposição de Johnson e da sua sucessora Liz Truss - e de outros 20 deputados conservadores e dos unionistas -, o Parlamento aprovou o acordo de Windsor, alcançado no mês passado entre Londres e Bruxelas.

O documento atualiza o chamado protocolo da Irlanda do Norte negociado em 2020 por Boris Johnson, uma disposição que manteve a Irlanda do Norte no mercado único europeu, com o objetivo de evitar uma fronteira física com a República da Irlanda, que ameaçaria a paz entre republicanos e unionistas. A novidade principal é o chamado "travão de Stormont", que concede aos deputados da Irlanda do Norte um veto sobre novas regras da UE a aplicar nessa região britânica.

Sunak mostra rendimentos

Não sem ouvir críticas pelo dia escolhido, o primeiro-ministro Rishi Sunak publicou as suas declarações de impostos. Os documentos mostram que o ex-banqueiro de investimento teve um rendimento de 4,7 milhões de libras (5,3 milhões de euros) nos últimos três anos, tendo liquidado um total de mais de um milhão de libras em impostos. Só no ano passado acumulou 1,9 milhões de libras - 156 mil libras enquanto ministro e primeiro-ministro e o restante de investimentos e rendimentos de capital.

Sunak foi pressionado a publicar as declarações fiscais desde que se soube que a mulher, Akshata Murty, gozava do estatuto de não-residente quando era ministro das finanças. Ou seja, Murty não pagava impostos no Reino Unido sobre dividendos da sua participação na empresa de software Infosys do bilionário pai. Segundo a lista de milionários elaborada pelo Sunday Times, o casal tem uma fortuna de mais de 820 milhões de euros, superior à do rei Carlos III.

cesar.avo@dn.pt

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