"Sindicato do Crime" ataca 40 cidades em quatro noites no nordeste do Brasil
O Rio Grande do Norte, estado no nordeste do Brasil, viveu a quarta noite consecutiva de terror na capital, Natal, e em mais 39 cidades, na sequência de ataques de uma organização criminosa local chamada Sindicato do Crime.
Os criminosos atearam fogo a autocarros e outros veículos, depredaram edifícios públicos, supermercados, depósitos de medicamentos e mataram, pelo menos, uma pessoa em protesto contra a transferência prisional dos seus líderes e as condições das penitenciárias do estado. O governo brasileiro enviou 100 homens da Força Nacional na quarta-feira (dia 15) mas nem assim conseguiu conter a violência.
As frotas de autocarros já recolheram os veículos, com medo de mais ataques, e o comércio em Natal e noutros pontos do estado fechou por causa da onda de medo e de incerteza.
Desde segunda-feira (dia 14) até às 6h30 de sexta-feira (17), a polícia apreendeu 17 armas, 50 artefatos explosivos e 22 galões com combustíveis utilizados nos ataques, além de ter prendido 72 suspeitos.
O líder do Sindicato do Crime, no entanto, já está preso e comanda os ataques desde a cadeia de Mossoró, para onde foi transferido da de Alcaçuz: José Kemps Pereira de Araújo, conhecido como Alicate, tem 45 anos e é acusado de tráfico de drogas, assaltos, assassinatos e tentativas de assassinato contra quatro agentes de segurança pública nos últimos cinco anos.
O Sindicato do Crime, liderado por Alicate, é uma cisão estadual do Primeiro Comando da Capital, maior organização criminosa da América Latina com sede no estado de São Paulo, embora, segundo a polícia, nestes ataques as duas fações, rivais por pretenderem controlar a rota da cocaína na região, estejam a agir concertadamente.
Ambas criticam as condições do sistema prisional do Rio Grande do Norte que, segundo retrato do órgão estatal Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura durante inspeções realizadas em novembro de 2022, prevê ações de tortura.
Comida estragada a ponto de o cheiro provocar náuseas, presos em tratamento inicial de tuberculose usados como vetor de contaminação para castigar outros detentos saudáveis, reclusão por mais de trinta dias em celas de castigo e torturas físicas e psicológicas são apontadas no relatório.