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"Silêncio!" O contrarrelógio dos socorristas na busca por sobreviventes do terramoto na Turquia
A angústia e o desespero assolam a Turquia, onde sobreviventes procuram familiares entre os escombros dos edifícios afetados pelo sismo de segunda-feira.
"Silêncio, por favor!" apelam os socorristas, rodeados por angustiadas famílias turcas amontoadas em torno de um edifício destruído, onde os seus entes queridos viveram até um tremor de terra matar milhares e mudar milhões de vidas. "Conseguimos ouvir uma voz debaixo dos escombros".
As famílias paralisam - ficam animadas e entusiasmadas com a possibilidade de alguém poder ser retirado vivo mais de um dia depois de a cidade de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, ter sido afetada pelo tremor de magnitude 7,8 de segunda-feira.
Uma espera longa, agonizante e potencialmente infrutífera instala-se. As autoridades estimam que 13,5 milhões de pessoas na Turquia tenham sido diretamente afetadas pelo tremor de terra mais forte do país em quase 100 anos, que já levou mais de 3.500 vidas na Turquia e 1.600 na vizinha Síria.
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Porém, um número incalculável ainda está enterrado sob os escombros de milhares de torres de apartamentos - muitos só recentemente construídos - que se desmoronaram devido ao abalo e às suas aparentemente incessantes réplicas.
Um sofá bege, um cobertor e algumas panelas desvendam as vidas daqueles enterrados sob os destroços de um complexo de apartamentos de 11 andares em Diyarbakir. Agora, pouco mais há do que pó e ruínas. Quase inexplicavelmente, vários edifícios mantêm-se erguidos ao lado com poucos ou nenhuns danos.
A polícia turca recolheu amostras das colunas do edifício desmoronado para uma investigação mais aprofundada. As alegações de violações flagrantes do código da construção são galopantes em toda a Turquia.
"Dois dos nossos familiares morreram e três ficaram presos", disse Remziye Tekin, de 60 anos, que se fixou neste local na esperança de boas notícias desde a catástrofe. "Deus, ajuda-nos!".
"Tudo se transformou em pó"
Vinte edifícios foram danificados pelo tremor de terra em Diyarbakir, uma cidade maioritariamente curda que sofreu ondas de violência mortal entre militantes e forças governamentais turcas. Sete deles desmoronaram-se completamente, criando enormes aberturas nas ruas repletas de torres de apartamentos.
Sem dormir, fisicamente exaustos e moralmente gastos, os socorristas descobrem cenas assustadoras debaixo de todos aqueles destroços. Num local, encontraram os corpos de uma família inteira - mãe, pai e dois filhos. Os pais pareciam estar a tentar proteger as crianças com os seus corpos quando os seus restos mortais foram encontrados, disseram testemunhas à AFP.
Baver Tanrikut, de 30 anos, estremece ao pensar no que aconteceu à mãe e à irmã. Ouviu-as a segui-lo para a porta, quando todos acordaram e correram para salvar as suas vidas quando o edifício começou a abanar. "No momento em que pus os pés lá fora comecei a correr e quando olhei para trás, tudo se transformou em pó", recordou. "O edifício entrou em colapso. Vi a minha irmã enterrada debaixo de escombros até à cintura, a sangrar e a gritar "mamã, mamã". A minha mãe, que mal conseguia andar, ficou presa lá dentro".
"Vamos rezar''
Tanrikut não estava sozinho. Embrulhados em cobertores, amontoados à volta de fogos para se aquecerem da chuva gelada, ou simplesmente a recitar o Alcorão, os sobreviventes têm poucos pensamentos a não ser sobre aqueles que deixaram para trás.
"A minha mãe, o meu pai e a minha irmã estão presos neste edifício", disse Yesim, de 28 anos, em lágrimas, implorando aos trabalhadores de resgate para se "apressarem". "Não há trabalhadores de salvamento suficientes", lamenta. "Queremos uma equipa forte". O esforço de salvamento está a progredir muito lentamente".
O funcionário municipal local Ismail Pendik estava a tentar manter a calma enquanto tratava das queixas e consolava as famílias num salão de automóveis que foi convertido num abrigo temporário. O mais importante naquele momento, insistiu, era o silêncio total e absoluto para ajudar os socorristas a fazer o seu trabalho.
"Precisamos de silêncio", reforçou Pendik. "Os próximos três dias são muito críticos. As equipas de salvamento estão a trabalhar 24 horas por dia. Vamos rezar, nunca perderemos a esperança de Alá".