Puigdemont em campanha em maio. Hoje, Junts chamou apoiantes para “blindarem” líder até ao Parlamento.
Puigdemont em campanha em maio. Hoje, Junts chamou apoiantes para “blindarem” líder até ao Parlamento.Matthieu RONDEL / AFP

Sete anos depois de fugir, Puigdemont regressa à Catalunha sob ameaça de prisão

Ex-presidente da Generalitat volta como prometido para o debate de investidura do socialista Salvador Illa, não sendo claro se este se vai ou não realizar, já que o Junts pedirá a suspensão da sessão se o seu líder for preso.
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Com um mandado de detenção ativo por alegado peculato, o ex-líder da Generalitat Carles Puigdemont sabia que seria preso no regresso à Catalunha. Sete anos depois de ter fugido escondido na mala de um carro para a Bélgica, após o referendo e a declaração de independência de 2017, o ex-líder do governo catalão anunciou esta quarta-feira que voltava a casa para o debate de investidura do socialista Salvador Illa. A polícia tinha ordens para o deter à primeira vista, fosse na fronteira entre França e Espanha, no evento convocado pelos apoiantes junto ao Parlamento ou quando tentasse entrar no edifício.

“Em condições de normalidade democrática, um deputado como eu anunciar a sua intenção de assistir a esta sessão seria desnecessário, seria irrelevante. Mas as nossas não são condições de normalidade democrática”, disse Puigdemont num vídeo partilhado nas redes sociais, lembrando que o deputado Lluis Puig, ex-membro do governo regional, também não pode “assistir livremente” ao debate de investidura.

O ex-presidente da Generalitat queixa-se da “longa perseguição” de que é alvo por ter permitido que os catalães votassem no referendo - considerado ilegal pelo governo espanhol. E critica o Supremo Tribunal por “se negar a obedecer à lei da amnistia que foi aprovada e está em vigor”. O Junts per Catalunya negociou essa lei em troca do apoio a um novo mandato do primeiro-ministro Pedro Sánchez. A lei foi aprovada, mas o juiz Pablo Llarena, do Supremo, alega que não se aplica ao crime de peculato - apenas ao de desobediência. E manteve o mandado de detenção.

Puigdemont anunciou o seu regresso diante do risco de uma detenção “arbitrária e ilegal”, considerando que esta é a prova de uma “anomalia democrática” que tem o “dever de denunciar e combater”. Não por ser “independentista”, mas “democrata”.

O anúncio do ex-presidente da Generalitat, onde diz que já iniciou “a viagem de regresso do exílio” e não é claro onde está, surgiu depois de o Parlamento confirmar o debate de investidura de Illa para hoje. Mas o regresso de Puigdemont pode alterar o plano. O Junts, que preside ao parlamento com Josep Rull, avisou que pedirá a suspensão da sessão se o seu líder for preso.

Caso ele consiga entrar no Parlamento sem ser detido, Rull pode travar a entrada da polícia no edifício, permitindo que o debate avance e a intervenção do ex-líder. Illa tem garantida a investidura, depois de ter chegado a acordo com a Esquerda Republicana da Catalunha. Um acordo que dividiu ainda mais os independentistas, com Puigdemont a acusar o partido do líder catalão, Père Aragones, de viabilizar um governo “espanholista”.

Para tentar “blindar” a entrada de Puigdemont, foram convocados os seus apoiantes e membros da sociedade civil independentista. O ponto de encontro é às 9.00 (8.00 em Lisboa) - uma hora antes do debate de investidura - no Passeig Lluís Companys (rua batizada em nome do presidente da Generalitat durante a Guerra Civil, que viveu no exílio e acabou fuzilado). Os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, reforçaram a segurança em torno do edifício do Parlamento, bloqueando todas as entradas exceto uma.

Se Puigdemont for preso, como é esperado, será presente a um juiz, que comunicará com o Supremo a detenção. Caberá a este tribunal decidir a situação do detido, seja a transferência para ser ouvido em Madrid (apesar de o juiz Llarena ter sido visto na Catalunha), libertá-lo e convocar para que seja presente ao Supremo numa data posterior ou decidir a sua prisão preventiva, alegando, nomeadamente, risco de fuga.

Puigdemont contestará tudo isso, devendo o seu caso acabar no Tribunal Constitucional - onde já era suposto ir, uma vez que o ex-presidente da Generalitat contesta o facto de o juiz Llarena recusar aplicar a amnistia. Por estar detido, o caso poderá contudo ser decidido mais rapidamente, já que terá prioridade.

susana.f.salvador@dn.pt

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