Sem avanços no terreno ucraniano, Moscovo larga bomba energética

Kremlin diz que o gás só volta a correr no Nord Stream quando as sanções forem levantadas.
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Horas depois de ter dado sinais de que pretende voltar à mesa das negociações, Moscovo manteve a torneira do gás fechada para o ocidente, o que levou a que o preço disparasse cerca de 20%, além de o euro ter caído para o valor mínimo em 20 anos face ao dólar, e de as bolsas de valores europeias terem reagido negativamente. Sem ganhos no terreno - pelo contrário, a ofensiva ucraniana no sul está a provocar baixas e destruição de bases a nível inédito -, a Rússia aposta na arma da energia para pressionar os países da União Europeia.

Esta já chegou às ruas. No domingo, houve uma manifestação em Praga contra o governo checo e a apelar à neutralidade. Na segunda-feira, foi a vez de Leipzig, na Alemanha, ser palco do descontentamento, num país que, face à dependência dos combustíveis russos, decidiu deixar duas centrais nucleares a postos.

Menos de um mês depois de ter afirmado que não havia base para uma negociação entre os líderes dos países em conflito, o porta-voz do Kremlin voltou a sinalizar o interesse de Moscovo em voltar à mesa. Dmitri Peskov respondeu a uma pergunta de um programa de TV russo sobre a indisponibilidade de Volodymyr Zelensky em negociar com Vladimir Putin. "Claro, sobre como as nossas condições serão cumpridas" para se alcançar a paz, embora tenha reafirmado que "a operação está a desenrolar-se como planeado".

Em entrevista à estação norte-americana ABC, o presidente ucraniano reiterou não haver condições para conversações. "É uma questão de dialogar com os terroristas. Não podemos, não se pode discutir nada com terroristas. A maioria dos países compreende que estamos a lidar com um Estado terrorista depois do que fizeram ao nosso povo, aos civis", afirmou. Também Zelensky mudou de ideias sobre o assunto: em meados de março, enquanto o exército russo bombardeava Mariupol, o líder ucraniano apelava para "negociações sérias e diretas" com o homem forte da Rússia.

Kiev não está isolado nesta demonstração de força. "O Kremlin insinua sobre negociações: significa que a pólvora se esgotou e que querem bloquear os territórios ocupados. De modo algum devem ser autorizados a respirar", escreveu no Twitter o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius.

Mas confrontados com a subida dos preços dos combustíveis, inflação crescente, e medidas de poupança energética (ou mesmo cortes de energia) no inverno, os europeus podem mudar de ideias quanto ao apoio à Ucrânia - ou pelo menos exigir concessões a Kiev. Um dia depois de falar em conversações de paz com a Ucrânia, Peskov disse que as sanções impedem a manutenção correta do gasoduto Nord Stream, pelo que o fluxo de gás só será retomado com o levantamento das mesmas. "Se os europeus tomam esta decisão totalmente absurda e se recusam a manter os seus sistemas, ou melhor, os sistemas que pertencem à Gazprom, não é culpa da Gazprom, mas sim dos políticos que decidem as sanções."

Em Kherson, o ataque continuado a infraestruturas, bases militares e paióis, bem como os avanços no terreno das tropas ucranianas, levaram a que um oficial pró-russo anunciasse a suspensão dos planos para um "referendo" sobre a anexação do território.

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