Sedativos e fogo. Como um médico alemão matou os seus pacientes
Pedro Correia / Global Imagens (Arquivo)

Sedativos e fogo. Como um médico alemão matou os seus pacientes

As autoridades vão reexaminar 395 casos suspeitos depois de terem acusado Johannes M. pela morte de 15 pacientes em cuidados paliativos.
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O que leva um médico ou enfermeiro a fazer o contrário do que é a sua profissão? Em breve, a justiça alemã poderá fazer esta pergunta a Johannes M., médico de 40 anos suspeito de ter assassinado pelo menos 15 pessoas.

Na quarta-feira, a procuradoria acusou o suspeito de ter feito uso de um cocktail mortal de sedativos, tendo resultado na morte de 12 mulheres e três homens, com idades compreendidas entre 25 e 94 anos, entre setembro de 2021 e julho de 2024. O médico de cuidados paliativos alegadamente "administrou um anestésico e um relaxante muscular aos seus pacientes sem o seu conhecimento ou consentimento", disse o procurador de Berlim em um comunicado. O relaxante "paralisou os músculos respiratórios, levando a uma paragem respiratória e à morte em minutos".

Detido em agosto quando as suspeitas recaíam sobre o homicídio involuntário de quatro pacientes, a investigação cedo descobriu que Johannes M. estará envolvido na morte de pelo menos mais 11 pessoas. Em cinco ocasiões, diz a acusação, o médico tentou encobrir o ocorrido ao incendiar o local do crime.

A pulsão pela morte tê-lo-á levado a matar duas pessoas no mesmo dia. O segundo homicídio terá levantado suspeitas. Segundo os procuradores, a tentativa do suspeito em pegar fogo à cena do crime não resultou. "Quando ele percebeu isso, terá informado um familiar da mulher, afirmando que estava à frente do apartamento dela e que ninguém havia respondido ao seu toque de campainha", disseram.

A investigação conclui que o suspeito, que fazia parte de uma equipa de cuidados paliativos de um serviço de enfermagem, tem uma “luxúria por homicídio” e zero "motivos para matar além do próprio ato de matar”, pelo que irão pedir a inabilitação vitalícia para exercer a profissão. Além disso, pretendem pedir ao tribunal que estabeleça que o suspeito tem culpa particularmente grave, o que significa que não seria elegível para libertação após 15 anos, como é comum na Alemanha, inclusive quando se é condenado a prisão perpétua.

A acusação refere-se a 15 mortes suspeitas, mas há 395 casos suspeitos que vão ser reexaminados. Em 95 casos, uma suspeita inicial foi confirmada e os procedimentos preliminares foram iniciados.

O caso de Johannes M. está longe de ser virgem. Também na Alemanha, decorre um julgamento em Aquisgrana de um enfermeiro acusado de matar nove pacientes e de ter tentado assassinar outros 34.

O britânico Harold Shipman é o médico a quem recaem suspeitas de ter o maior rasto de morte -- e de ser um dos maiores assassinos em série. Em janeiro de 2000 foi condenado pelo homicídio de 15 pessoas, mas crê-se que terá matado outras 218. O seu modus operandi, ao longo de 23 anos, passava por injetar heroína em dose letal e depois furtar os seus bens ou falsificar o testamento em seu favor.

Um caso que ficou imortalizado na TV é o do neurocirurgião norte-americano Christopher Duntsch, que mutilava pacientes durante as cirurgias. Ganhou a alcunha de Dr. Death (nome da série de TV) pelos seus métodos e que passaram por ter esvaído uma paciente até à morte depois de ter cortado de forma intencional uma artéria. Foi condenado por assassinar dois pacientes, mutilar quatro e suspeito de mutilar outros 33.

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