O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, prometeu ontem "transparência, objetividade e responsabilidade" diante das acusações de que o governo espiou dezenas de líderes independentistas catalães com recurso ao polémico programa israelita Pegasus. Numa intervenção no Congresso, a primeira sobre este tema, Sánchez reiterou, no entanto, que "tudo o que o CNI [Centro Nacional de Inteligência] fez, fê-lo cumprindo escrupulosamente a lei". O caso está a prejudicar a relação, já de si tensa, com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), cujo apoio o governo minoritário precisa para passar legislação..Na semana passada, o grupo canadiano Citizens Lab revelou que mais de 60 pessoas ligadas ao processo independentista catalão, incluindo os anteriores e os atuais líderes regionais da Catalunha, tinham sido alvo do spyware depois da falhada tentativa de independência em 2017. O Pegasus, desenvolvido pelos israelitas do NSO, infiltra-se nos telemóveis para extrair dados, permitindo também ativar a câmara ou o microfone sem que os proprietários se apercebam..O governo disse no domingo que ia abrir uma investigação, sem confirmar ou negar as acusações, mas tendo alegado dias antes que "não se intervém nas conversas se não se estiver sob a proteção da lei". O primeiro-ministro prometeu ontem "máxima transparência", dizendo que os documentos serão desclassificados para ajudar na investigação. Contudo, defendeu também os serviços de informação, o CNI. Na terça-feira, o El País revelou que este tinha aprovação judicial para espiar os independentistas e que o esquema envolveu menos pessoas do que as denunciadas pelo Citizens Lab..Este escândalo ameaça a votação prevista para hoje do pacote de medidas urgentes destinadas a mitigar as consequências económicas da guerra da Ucrânia, tendo Sánchez suspendido a viagem que tinha previsto fazer à Moldávia e à Polónia, alegadamente por "motivos de agenda". O governo de coligação entre os socialistas e a Unidas Podemos é minoritário e precisa, entre outros, do apoio da ERC para ter maioria no Congresso..O líder parlamentar da ERC, Gabriel Rufián, mostrou-se ontem insatisfeito com a postura do primeiro-ministro, que não respondeu diretamente à pergunta se tinha sido ele a ordenar a espionagem. E sugeriu a Sánchez que peça ao Partido Popular o número de telemóvel do deputado Alberto Casero. Foi graças a um voto errado deste deputado que, em fevereiro, o governo conseguiu aprovar a reforma laboral, não tendo o apoio dos seus habituais sócios. Sánchez não ajudou a acalmar a situação, quando se enganou e apelidou Rufián de "senhor Abascal", numa referência ao líder da extrema-direita do Vox, Santiago Abascal. "Tudo bem que me espiem, mas que me chame Abascal...", respondeu Rufián com humor..susana.f.salvador@dn.pt
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, prometeu ontem "transparência, objetividade e responsabilidade" diante das acusações de que o governo espiou dezenas de líderes independentistas catalães com recurso ao polémico programa israelita Pegasus. Numa intervenção no Congresso, a primeira sobre este tema, Sánchez reiterou, no entanto, que "tudo o que o CNI [Centro Nacional de Inteligência] fez, fê-lo cumprindo escrupulosamente a lei". O caso está a prejudicar a relação, já de si tensa, com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), cujo apoio o governo minoritário precisa para passar legislação..Na semana passada, o grupo canadiano Citizens Lab revelou que mais de 60 pessoas ligadas ao processo independentista catalão, incluindo os anteriores e os atuais líderes regionais da Catalunha, tinham sido alvo do spyware depois da falhada tentativa de independência em 2017. O Pegasus, desenvolvido pelos israelitas do NSO, infiltra-se nos telemóveis para extrair dados, permitindo também ativar a câmara ou o microfone sem que os proprietários se apercebam..O governo disse no domingo que ia abrir uma investigação, sem confirmar ou negar as acusações, mas tendo alegado dias antes que "não se intervém nas conversas se não se estiver sob a proteção da lei". O primeiro-ministro prometeu ontem "máxima transparência", dizendo que os documentos serão desclassificados para ajudar na investigação. Contudo, defendeu também os serviços de informação, o CNI. Na terça-feira, o El País revelou que este tinha aprovação judicial para espiar os independentistas e que o esquema envolveu menos pessoas do que as denunciadas pelo Citizens Lab..Este escândalo ameaça a votação prevista para hoje do pacote de medidas urgentes destinadas a mitigar as consequências económicas da guerra da Ucrânia, tendo Sánchez suspendido a viagem que tinha previsto fazer à Moldávia e à Polónia, alegadamente por "motivos de agenda". O governo de coligação entre os socialistas e a Unidas Podemos é minoritário e precisa, entre outros, do apoio da ERC para ter maioria no Congresso..O líder parlamentar da ERC, Gabriel Rufián, mostrou-se ontem insatisfeito com a postura do primeiro-ministro, que não respondeu diretamente à pergunta se tinha sido ele a ordenar a espionagem. E sugeriu a Sánchez que peça ao Partido Popular o número de telemóvel do deputado Alberto Casero. Foi graças a um voto errado deste deputado que, em fevereiro, o governo conseguiu aprovar a reforma laboral, não tendo o apoio dos seus habituais sócios. Sánchez não ajudou a acalmar a situação, quando se enganou e apelidou Rufián de "senhor Abascal", numa referência ao líder da extrema-direita do Vox, Santiago Abascal. "Tudo bem que me espiem, mas que me chame Abascal...", respondeu Rufián com humor..susana.f.salvador@dn.pt