Rússia reivindica morte de mais de 600 militares ucranianos num ataque em Kramatorsk
O Ministério da Defesa da Rússia reivindicou este domingo ter matado mais de 600 soldados ucranianos em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, numa "operação de represália" ao ataque do Ano Novo contra as forças russas em Makiivka, também no leste, que abateu 89 militares.
O contra-ataque de Moscovo, segundo o porta-voz do Exército russo, general Igor Konashenkov, ocorreu contra uma posição temporária das forças ucranianas em Kramatorsk, também em Donetsk, e especificamente contra dois dormitórios de quartéis provisórios que foram atingidos por "um forte ataque com mísseis".
No momento dos impactos, mais de 1300 soldados ucranianos estavam em dois edifícios, indicou o porta-voz do exército russo, em conferência de imprensa reportada pela agência noticiosa estatal russa TASS. 600 estariam num e 700 noutro, especificou.
Além disso, o porta-voz assegurou que, nas últimas horas, mais de 80 soldados ucranianos morreram no território da República de Lugansk e na região de Kharkiv, incluindo 40 membros de "grupos de reconhecimento e sabotagem".
O governo ucraniano não comentou nenhuma das reivindicações do exército russo. No entanto, anteriormente, o autarca de Kramatorsk tenha dito no Facebook que ninguém foi morto num ataque a vários prédios da cidade.
Jornalistas da Reuters confirmam o ataque mas dizem não haver sinais de vítimas, depois de terem visitado os edifícios que, segundo Moscovo, foram o alvo deste ataque. Segundo a agência de notícias, nenhum aparenta ter sido diretamente atingido por mísseis ou sofrido danos sérios. E não há indícios de soldados ali terem pernoitado nem corpos ou vestígios de sangue.
Jornalistas da AFP confirmam ter ouvido pelo menos quatro explosões ainda antes da meia-note, ou seja, antes de terminar o cessar-fogo unilateral declarado pela Rússia a propósito da celebração no Natal ortodoxo, comemorado em ambos os países.
O ministério da Defesa russo não referiu quando terá acontecido este ataque, que a confirmar-se, será o mais mortal entre as tropas ucranianas desde o início da guerra, a 24 de fevereiro do ano passado.
O ataque da semana passada a Makiivka, na disputada região de Donetsk, é considerado um dos maiores reveses das forças russas desde o início da invasão da Ucrânia, a ponto de o regime de Moscovo ser obrigado a confirmar, inusitadamente, a morte dos 89 soldados.
o tenente-general Sergei Seryukov revelou que o uso de telemóveis por parte dos soldados russos deixou-os desprotegidos. "Há uma comissão a trabalhar para investigar as circunstâncias do que aconteceu, mas já é óbvio que o principal motivo foi a utilização massiva de telemóveis", afirmou então, referindo que estavam a ser tomadas medidas para garantir que tais incidentes não se repetiriam.
A Ucrânia, no entanto, estima que o número de vítimas seja muito maior, falando de pelo menos 400 militares mortos.
O mais recente balanço feito pelo lado ucraniano falava em dois mortos e nove feridos. Segundo o vice-chefe da administração presidencial ucraniana, Kyrylo Tymoshenko, um civil foi morto na região de Karkiv (nordeste) e outro na de Donetsk (leste), com nove pessoas a ficarem feridas em três outras áreas. Após o fim do cessar-fogo, o Estado-Maior ucraniano tinha registado durante a madrugada deste domingo mais de 50 ataques com mísseis e foguetes russos em várias regiões da Ucrânia.
A ofensiva militar lançada pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas - 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa - justificada pelo Presidente Vladimir Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com o envio de armamento para as autoridades ucranianas e com a imposição de sanções políticas e económicas a Moscovo.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e 11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.