Eis o pontapé de saída das eleições presidenciais do Brasil em 2026: hoje, no Centro de Convenções de Salvador, na Bahia, Ronaldo Caiado lança a pré-candidatura à presidência do Brasil em 2026. Médico de 75 anos, o governador, muito bem avaliado, do estado de Goiás, tenta, por antecipação, conquistar o vácuo deixado, à direita, pela inelegibilidade e até eventual prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. “É a arrancada da campanha. Vou viajar bastante pelo Brasil. É Importante ter essa antecedência para ficar conhecido. Sou o primeiro classificado no Brasil há três anos em muitas áreas de atuação do governo. Isso é uma vitrine para mostrar o que eu tenho”, disse, à CNN Brasil, o primeiro candidato assumido à eleição do próximo ano.A seu favor, Caiado tem, sobretudo, os rankings de desempenho a que se referiu: é, segundo sondagem Genial/Quaest de fevereiro, o mais bem avaliado de entre oito governadores com pretensões presidenciais em áreas como Segurança Pública, Saúde, Educação, Emancipação Social, Emprego, Liquidez Orçamental e Transparência nas Contas Públicas. A aprovação geral do governador é de 86% entre os goianos, acima dos 81% de Ratinho Júnior, do Paraná, dos 62% de Romeu Zema, de Minas Gerais, e dos 61% de Tarcísio de Freitas, de São Paulo, todos dados como presidenciáveis à direita.Tarcísio, entretanto, é visto noutras pesquisas de opinião como o preferido para o lugar vago de Bolsonaro, mas joga a favor de Caiado estar no final do segundo mandato e, portanto, impedido de se recandidatar ao governo estadual, ao contrário do governador paulista, que, por estar ainda no primeiro, pode sentir uma espécie de obrigação de tentar a recandidatura. E se a Tarcísio apontam falta de experiência – tem 49 anos e era só um funcionário público até ser convidado para o Ministério da Infraestrutura de Bolsonaro em 2018 –, Caiado só pode ser acusado de veterania. Nas primeiras eleições pós-redemocratização do Brasil, em 1989, ganhas na segunda volta por Collor de Mello a Lula da Silva e às quais concorreram ícones da política local, como Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf, Ulysses Guimarães, entre outros, Caiado já lá estava.Mas foi apenas o décimo classificado, com meros 0,72% dos votos, sintoma de um voto muito “regionalizado”, em Goiás e estados limítrofes, e atrelado a interesses específicos, o dos grandes latifundiários – um primo seu foi incluído em 2022 na chamada lista governamental do trabalho escravo, a propósito.Foi então para se “nacionalizar” que Caiado escolheu Salvador, cidade muito distante de Goiânia e reduto tradicionalmente associado ao PT, de Lula e de Jerônimo Rodrigues, o atual e também bem avaliado governador baiano, para se apresentar.Entretanto, a disponibilidade muito publicitada de Gusttavo Lima, um cantor do estilo sertanejo universitário, de se lançar à presidência em janeiro, mesmo sem experiência, projeto ou partido político, foi vista na altura como um movimento de Caiado, amigo do artista, para atrair a atenção nacional que lhe falta.“Interlocutores de Bolsonaro veem a decisão do cantor como um ‘jogo casado’ com o governador Caiado, com o anúncio, Lima chamaria para si a atenção, especialmente de partidários de Bolsonaro”, escreveu na altura Igor Gadelha, colunista do jornal Metrópoles. “Nós vamos conversar e marcar o dia de filiação dele ao União Brasil’, admitiu Caiado à revista Veja, referindo-se ao dividido partido a que pertence.Mas o dividido partido a que pertence, fusão entre o DEM, formação herdeira do ARENA, sustentáculo da ditadura militar, e o PSL, força política pela qual Bolsonaro concorreu e venceu em 2018, é um puzzle que junta peças fiéis ao bolsonarismo e outras próximas de Lula – o partido tem três ministérios no atual governo, Turismo, Comunicações e Integração Nacional. E nem uma ala nem outra patrocinam, por isso, a candidatura, para já avulsa, de Caiado.“Sei que a minha atitude de oposição ao governo do PT incomoda aqueles que estão no poder, mas isso não abala as minhas convicções. Estou determinado a apresentar uma plataforma de mudança para o Brasil”, afirmou Caiado, visceralmente anti-Lula ao longo da carreira, nas redes sociais, como resposta a quem, da ala menos à direita do União Brasil, sugeria o adiamento do ato de apresentação.Com Bolsonaro, a relação também não é fácil desde a pandemia, quando Caiado, médico, apoiou a vacinação e o isolamento social ao contrário do então presidente. “Cobarde”, chamou-lhe Bolsonaro. Mais tarde, Caiado disse que o país se cansou da forma como Bolsonaro faz política. PERFILRonaldo Ramos Caiado-Nasceu em Anápolis, Goiás, a 25 de setembro de 1949-É médico especializado em ortopedia e membro de uma família de produtores rurais com forte influência em Goiás desde o século XIX-Presidiu à União Democrática Ruralista, organização de defesa dos interesses dos latifundiários -Governa o estado de nascimento desde 2019-Foi senador, por quatro anos, e deputado federal, por 20 anos-Pertence ao União Brasil, oitavo partido da carreira .Lula vira à esquerda em reforma governamental