Edmundo González exilou-se em Espanha onde foi recebido por Pedro Sánchez.
Edmundo González exilou-se em Espanha onde foi recebido por Pedro Sánchez.AFP

Regime venezuelano implode até pontes com governos de esquerda

Sánchez, em Espanha, abriga líder da oposição, o americano Biden diz que oposição venceu, chileno Boric não acredita nos resultados. No Brasil já chamam Maduro de “bolsochavista”. 
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O isolamento de Nicolás Maduro mede-se pela diversidade de lideranças que contestam o seu regime e suspeitam do resultado das eleições. Já não é só Javier Milei, o presidente libertário de direita da Argentina que chama o homólogo venezuelano de “ditador” e “socialista empobrecedor”: alguns dos principais embates de Maduro vêm sendo com líderes políticos de centro-esquerda, supostamente com mais afinidades ao chamado “chavismo”.

Além de Lula da Silva, do Brasil, que não reconhece as eleições de julho até que sejam divulgadas as atas, de Gabriel Boric, do Chile, que considera os resultados eleitorais “difíceis de acreditar”, também Pedro Sánchez, o primeiro-ministro do país, Espanha, onde Edmundo González Urrutia está refugiado, contribui para o isolamento de Maduro. E os EUA, mesmo sob presidência de um democrata, Joe Biden, atribui o triunfo ao candidato da oposição venezuelana

“Maduro é um autocrata já sem coloração ideológica”, resume Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado. “Ele pertence a uma esquerda nacionalizada, diferente da esquerda internacional, tanto que se aproximou muito dos evangélicos, a lembrar até Jair Bolsonaro no Brasil, já foi mesmo cunhada a expressão ‘bolsochavismo’, por causa da fórmula de poder que envolve militares e evangélicos, a diferença está, claro, na atitude anti-imperialismo dos EUA que o torna um suposto ‘esquerdista’”.

Para o jornalista Jânio de Freitas, colunista do site Poder360, “esquerda e direita, por vias opostas, veem Maduro e seu governo como ‘de esquerda’. Pois Nicolás Maduro é de direita’. “O que Maduro fez à candidata em vantagem para a sucessão venezuelana, Maria Corina Machado, foi o que os bolsonaristas fizeram a Lula em 2018. Equivalência até no uso decisivo do aparelho judicial, lá com um ‘impedimento judicial’, no Brasil com o juiz e os procuradores da Lava Jato”.

Reportagem da AFP no interior a Venezuela ainda antes das eleições destaca a relação de Maduro com os evangélicos - um segmento muito próximo de Bolsonaro, no Brasil. “Voluntariamente entrego minha nação a Cristo”, disse em campanha o presidente venezuelano Nicolás Maduro num “ato cristão de arrependimento”.

O líder venezuelano tem dedicado recursos para a comunidade evangélica, que representa entre 1,2 e 1,5 milhão de eleitores, como o bónus “O Bom Pastor”, subsídio mensal de 12 dólares para cerca de 20.000 ministros da igreja cristã e o plano “Minha Igreja Bem Equipada”, focado em reparações e melhorias nos templos.

“Eu encontrei Deus no meu caminho, eu O vi”, afirmou em evento no palácio presidencial. Segundo sondagens, 34% dos votos evangélicos foram para Maduro e apenas 20% para González. 


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