Quem são os terroristas balúchi que raptaram 400 passageiros num comboio no Paquistão?
O Expresso Jaffar, que faz em cerca de 30 horas a viagem de mais de 1600 km entre Quetta e Peshawar, transportava na terça-feira cerca de 425 passageiros - uma centena deles militares e membros das forças de segurança - quando foi atacado. O comboio passava numa área montanhosa conhecida como Passagem Bolan, quando, por volta das 13.00 locais, os terroristas fizeram explodir os carris, forçando o comboio a parar dentro de um túnel.
O ataque foi reivindicado pelo Exército de Libertação Balúchi (BLA, na sigla inglesa), um grupo separatista que nasceu no início do século e defende a independência do Baluchistão. O BLA alega que os balúchi (grupo étnico que fala uma língua indo-iraniana) têm sido excluídos económica e politicamente pelo governo paquistanês. O Baluchistão é a maior província do Paquistão, localizada no sudoeste do país junto à fronteira com o Irão e o Afeganistão, mas é a menos desenvolvida, apesar da sua riqueza natural.
Os especialistas acreditam que o ataque foi lançado pela Brigada Majeed - conhecida como a “brigada suicida”. Foi criada em 2011 pelo falecido líder do BLA, Aslam Achu, tendo sido batizada em nome de dois irmãos: Majeed Langove Senior e Majeed Langove Junior. O mais velho, autor do primeiro ataque suicida do BLA, tentou assassinar, em agosto de 1974, o então primeiro-ministro Zulfiqar Ali Bhutto, numa visita oficial a Quetta. Já o irmão suicidou-se em março de 2010, para permitir que outros membros do grupo conseguissem fugir depois de as forças de segurança terem entrado na casa onde estavam.
O BLA alega que pelo menos dez passageiros, incluindo o maquinista, foram mortos logo no ataque. Outros 190 conseguiram fugir ou foram libertados (o grupo alegou ter deixado ir todos os civis). Apesar das ameaças do BLA contra os reféns, as autoridades lançaram uma “operação complexa” com centenas de militares para libertar os restantes.
Em resposta, o grupo anunciou ontem, em comunicado, que executou 50 reféns após o exército ter avançado com artilharia pesada. O BLA avisou ainda que já tinha passado mais de metade do prazo de 48 horas que deu ao governo para cumprir as suas exigências: “a libertação incondicional dos presos políticos balúchi, das pessoas desaparecidas à força e dos ativistas de resistência nacional”.
Mas, pouco depois, as autoridades anunciaram o fim do ataque e a morte de 33 atacantes e “alguns reféns” - não sendo claro quantos. As autoridades indicaram que 21 civis e quatro militares foram mortos ainda antes de ser lançada a operação, que continuava esta quarta-feira para encontrar mais passageiros que possam ter fugido. Pelo menos 300 reféns foram libertados.
Este não é o primeiro ataque que o BLA realiza - tem feito vários aos interesses chineses no Paquistão, nomeadamente às infraestruturas do corredor económico que passa pelo Baluchistão. Nem é o primeiro a visar o Expresso Jaffar. Ainda em novembro, um bombista suicida fez-se explodir na estação de Quetta, quando o comboio ia partir. Pelo menos 30 pessoas morreram. Em agosto, os terroristas tinham feito rebentar os carris, interrompendo o serviço durante dois meses. Contudo, nunca tinham feito uma ação com reféns.
Nos últimos cinco anos, os ataques no Baluchistão quadruplicaram - foram registados 171 em 2024 - e resultaram na morte de quase 590 pessoas. Mas o problema é mais grave. Segundo o Índice Global de Terrorismo, divulgado já este mês, o Paquistão ocupa o segundo lugar na lista - atrás apenas do Burkina Faso -, com um aumento de 45% das mortes por terrorismo para as 1081 em 2024. Em causa não está só o BLA, mas também o Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP), alinhado com os talibãs afegãos.