Na semana passada, a deputada federal brasileira Carla Zambelli monopolizou o noticiário político e criminal do Brasil ao ser presa em Roma depois de dois meses foragida. Na semana anterior, fora a vez de Eduardo Bolsonaro, também parlamentar do Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, ser protagonista da atualidade política e económica ao estimular, a partir de Washington, uma guerra tarifária contra o próprio país. Em pleno governo de Lula da Silva, o bolsonarismo age cada vez mais de fora para dentro. Porquê? E através de quem?O caso mais recente é o de Zambelli. A deputada que na véspera da segunda volta das eleições de 2022 entre Lula da Silva e Bolsonaro perseguiu de arma em punho um homem que supostamente a tinha ofendido pelas ruas do centro residencial de São Paulo foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão por invadir os sistemas informáticos do Conselho Nacional de Justiça com a ajuda de um hacker contratado por ela. Depois da condenação, fugiu pela Argentina para a Florida e daí para Itália, beneficiando-se da dupla nacionalidade ítalo-brasileira. “Queria anunciar que estou fora do Brasil há alguns dias”, disse em vídeo gravado em junho, 20 dias depois da sentença do STF. Foi então incluída na lista vermelha da Interpol, a polícia criminal internacional, e viu Alexandre de Moraes, juiz do STF, decretar prisão preventiva e bloqueio de passaportes, salários, contas bancárias, redes sociais, bens móveis e imóveis, antes da detenção, no dia 29, numa operação conjunta entre as polícias dos dois países. .“O Brasil de Lula é um misto de mau-caratismo e incompetência”.Antes, a parlamentar tentou sensibilizar pares conservadores italianos a atuarem contra a sua deportação. Além disso, reforçou críticas ao STF no país europeu. E até pediu, através de uma carta assinada pela mãe, o apoio pessoal da primeira-ministra Giorgia Meloni, utilizando três argumentos para a permanência na Itália: perseguição política, estado de saúde frágil e cidadania italiana.Por sua vez, Eduardo Bolsonaro instigou a ala mais à direita do Partido Republicano a convencer o presidente Donald Trump a adotar tarifas de 50% a produtos brasileiros para desespero do setor do agronegócio, tradicionalmente eleitor de direita. Para o deputado, que se diz exilado nos EUA desde março, o fim dessas tarifas só seria possível se viesse acompanhado de amnistia ampla e irrestrita aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, incluindo o pai, e sanções ao STF. Nos últimos dias tentou mesmo impedir o diálogo entre senadores brasileiros e autoridades americanas para um acordo sobre o chamado “tarifaço”. “Sentindo-se sufocado pelas instituições democráticas brasileiras, ao bolsonarismo resta apenas buscar aliados internacionais, um movimento que não é exclusivo, uma vez, que, guardadas as devidas proporções, o próprio Partido dos Trabalhadores também recorreu a aliados internacionais de esquerda para caracterizar o impeachment de Dilma Rousseff como golpe”, defende Vinícius Vieira, professor de economia e relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado. “Temos aqui, digamos sem meias palavras, a formação de uma internacional fascista em que uns líderes prestam solidariedade aos outros que são enfrentados pelas instituições democráticas dos respetivos países, Trump parece estar pois a ser bem sucedido na criação desta aliança”. “No caso de Zambelli é interessante ver o caso à luz de Meloni, será que ela vai tratar a deputada brasileira como aliada mesmo tendo em conta que a Itália precisa do Brasil de Lula como destino e parceiro comercial?”, opina o académico. “No caso de Eduardo, o bolsonarismo parece disposto a levar as relações transnacionais às últimas consequências, uma vez que ele até se dá ao luxo de afetar uma das alas do bolsonarismo, o chamado agronegócio”, completa. Além dos dois deputados, Paulo Figueiredo já exerce papel de porta-voz e representante do bolsonarismo em eventos conservadores nos EUA há mais tempo. Comentarista político, é neto do general João Batista de Figueiredo, último presidente do Brasil durante a ditadura militar.Allan dos Santos vive nos EUA desde 2020 e é alvo de inquéritos sobre fake news e milícias digitais no STF, que decretou no ano seguinte a sua prisão preventiva. A corte ainda determinou o bloqueio dos perfis de Santos nas redes sociais, o que ele burla, criando novas contas, onde relata a sua vida como motorista de aplicação em Orlando enquanto mantém canais jornalísticos de extrema-direita.Outro influencer, Osvaldo Eustáquio, deixou o Brasil em 2023 rumo a Espanha depois de ser acusado de publicar vídeos que incitavam “a prática de atos antidemocráticos favoráveis ao fecho do Congresso e do STF” em 2021.Finalmente, Esdras dos Santos, pastor e empresário do ramo de eventos religiosos, é investigado por suspeita de financiar e organizar os ataques golpistas do 8 de Janeiro, mas fugiu para os EUA logo após aquela data. Impedido de usar redes sociais, tentou vender um Porsche na internet mas o veículo acabou apreendido pelo setor de inteligência da polícia brasileira após investigação. .Deputada bolsonarista é presa em Itália