Quem é Nikolas Ferreira, deputado mais votado do Brasil aos 26 anos?
"Consagrei a minha eleição ao Senhor e estou colhendo frutos de um trabalho que não é de agora. Me espelho na força de Bolsonaro que, por 27 anos no Congresso, esteve sozinho e hoje é presidente", celebrou Nikolas Ferreira, o deputado mais votado do Brasil nas eleições de 2 de outubro. Do PL, o mesmo partido do ídolo, Jair Bolsonaro, o ex-vereador de Belo Horizonte, Minas Gerais, não espanta tanto pelo discurso, a que o país já se vem habituando desde 2018, mas sobretudo pela idade: 26 anos.
Para Nikolas, nascido na favela Cabana do Pai Tomás, em Belo Horizonte, a vitória mostra "que o jovem pode ser conservador e não simplesmente pensar no fim de semana e ser escravo das suas vontades". Ao jornal O Estado de Minas afirmou ainda que "esta vitória significa que o Brasil tem esperança de que a gente está plantando aqui sementes para um país com um futuro muito melhor".
Na Câmara dos Deputados vai, garante, "dialogar com todo mundo" porque o Congresso é como "uma sala de aula gigantesca em que você tem que pedir lápis de alguém porque se esqueceu". Mas aliar-se ao outro lado, nem pensar: "Não tenho aliança com esquerda, com comunistas, são cínicos, mentirosos".
Nikolas somou 1,49 milhões de votos, superando em 400 mil votos o muito mais conhecido Guilherme Boulos, do esquerdista PSOL, que concorreu por São Paulo, um estado mais populoso, foi candidato a presidente em 2018 e é dado como sucessor de Lula da Silva.
Com o registo, o jovem tornou-se o terceiro deputado mais votado da história, superado apenas pelo recordista Eduardo Bolsonaro (PL), eleito em 2018 com 1,84 milhões de votos, e por Enéas Carneiro (Prona), eleito em 2002, com 1,57 milhões de votos, ambos por São Paulo.
Em Minas Gerais, quase triplicou os números do anterior mais votado, Patrus Ananias (PT), com 520 mil votos nas eleições de 2002. Nas eleições de domingo ficou imediatamente à frente de um dos seus inimigos políticos, André Janones (Avante), apoiante fervoroso de Lula. Nikolas chama-o por "Danones" nas redes sociais. Janones define o rival como "mascote da milícia".
Em terceiro lugar surgiu Duda Salabert (PDT), a mulher mais votada. Mas Nikolas discorda: para ele, a mulher mais votada foi Greyce Alias (Avante) porque Duda é uma mulher trans. "Quando mudarem a biologia, aí vocês dão o título para outro. Até lá: parabéns, Greyce".
O filho de Ruth Ferreira, cujos conselhos ao novo deputado foram desde sempre "cuidado com a esquerda porque você está consagrado a Cristo" e, a propósito de eventual casamento, "repare na forma como uma mulher trata a sua mãe e se ela mantém as unhas bem-feitas", só acredita em sexo depois do matrimónio, conforme manda a Bíblia.
Nikolas, aliás, destaca-se por defender ideias "conservadoras", segundo o próprio, ou "reacionárias", segundo os críticos, como "a defesa da vida desde a concepção" e "homem em casa de banho de homem e mulher em casa de banho de mulher".
Esta bandeira tornou-o conhecido: a irmã filmou uma jovem transexual, menor, a ir à casa de banho feminina da escola e Nikolas expôs o vídeo nas redes sociais - é investigado pelo Ministério Público por isso.
Durante a pandemia, gravou-se a ser impedido de visitar o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, por não ter comprovante de vacina, para indignação do bolsonarismo.
Noutra ocasião, votou contra a proposta municipal para batizar um centro de saúde em Belo Horizonte com o nome de Marielle Franco, a vereadora do Rio executada em 2018, chamando-a de "abortista". Na sequência sugeriu o nome de Brilhante Ustra, torturador da ditadura militar.
Nikolas Ferreira, no entanto, não foi o único bolsonarista radical eleito. Magno Malta, o pastor e vocalista da banda gospel "Tempero do Mundo" que quase foi candidato a vice de Bolsonaro em 2018, volta ao Senado. Damares Alves, a ex-ministra dos Direitos Humanos que tentou impedir que uma menina de 10 anos - cuja gravidez fora fruto de violações - realizasse um aborto já autorizado pela justiça, foi eleita e quer presidir o Senado.
Eduardo Pazuello, o ex-ministro da Saúde indiciado pela CPI da Covid por crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos, será deputado federal. Assim como Ricardo Salles, o ex-ministro do Ambiente investigado por facilitar a exportação ilegal de madeira. Entre muitos outros.
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